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Visões do Natal

Visões do Natal

Mas afinal, o que mudou no modo de viver o Natal? “Em termos religiosos é igual”, assegura Maria. Antigamente, “o bacalhau não podia faltar na ceia e o arroz de cabidela no dia 25. Apesar de não haver tanta fartura, era um momento muito feliz, com a família toda à volta da mesa”, contou à Viva. A bisavó não consegue distinguir o Natal mais marcante da sua vida. Ainda assim, é com toda a certeza que revela que os melhores momentos foram os passados na companhia dos pais e irmãos. “Adorava quando era criança porque a ansiedade de receber as prendas era muita. Mas neste momento é bom ver a família que construí toda reunida, ainda mais agora com os bisnetos que são a alegria da casa”, sustentou, com orgulho.

O convívio familiar é também um dos aspectos mais importantes para Paulo Azevedo na época do Natal. “É tempo de estar com a família, receber e dar presentes e descansar das aulas”, afirmou o jovem, de 18 anos. Em declarações à Viva, Paulo notou que, nesta época, “toda a gente fica mais feliz”. “Percebe-se quando o Natal está próximo. Os problemas parecem desaparecer”, acrescentou.

Para os mais novos a magia da quadra acaba por camuflar os problemas, mas a verdade é que, no Natal, a sociedade fica bastante mais atenta às carências sociais. Também há, portanto, quem encare a celebração como um misto de experiências e reflexões. É o caso de Carlos Borges, jornalista de 31 anos. “Para mim o Natal é um resumo de experiências: é ser nostálgico, ter saudades dos confrades, dos cânticos, de uma festa que se vivia de forma diferente, não mais pura, mas muito menos consumista; é a festa por excelência da família (…) e é tempo de ser-se mais generoso, porque se dá mais atenção aos problemas sociais”, explicou à Viva.

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Solidariedade versus hipocrisia

E se, por um lado, é no Natal que as pessoas procuram ser mais solidárias, há também nesta época “uma maior hipocrisia”, defende Carlos Borges. “As prendas têm de ser de um certo valor monetário ou de uma determinada loja ou marca porque se celebra o ser agradável e o ficarmos bem vistos aos olhos de familiares e amigos”, observou o jornalista.

Será, então, o sentimento menos genuíno? “Sim”, respondeu Maria Emília com prontidão. “O sentimento já não é tão genuíno. Antigamente, o que interessava era a família estar toda reunida e agora está tudo virado para o comércio, é um negócio”, salientou a bisavó.

Carlos Borges não quer cruzar os braços. Há que combater o negócio. “Faz sentido viver-se a entrega e não o consumismo, viver-se para um todo e não para um pai natal, que, inventado ou não pela Coca-Cola, apela ao egoísmo do ‘aquilo que eu quero é'”, fundamentou.

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Em declarações à Viva, o jornalista contou as três experiências natalícias que viveu. Quando ainda morava na Margem Sul do Tejo, o Natal “começava no primeiro fim-de-semana de Dezembro”. No dia 24, as tarefas acumulavam-se. “Ajudava a minha mãe a preparar os doces, o jantar e a enfeitar a mesa”, contou Carlos Borges. Mas o maior prazer era, sem dúvida, “rapar tachos e alguidares”, “uma ajuda muito útil”, brincou o jornalista.

“Depois tenho outra experiência similar que era na casa da minha avó ou de um tio, já na zona do Douro e sempre com chuva. Uma autêntica confusão desde manhã até ao deitar. Já não ajudava em nada, juntava-me, apenas, à fila dos primos para poder ser um dos provadores”, contou. Este é já, para Carlos Borges, “um Natal diferente em termos de quantidade humana mas com o mesmo espírito”. “Há sempre alguém que se veste de pai natal para entregar as prendas e há alegria nos risos e nos olhares. O dia 25 também é passado em casa com jogos, conversas e doces”, acrescentou.

Mas as vivências de Natal do jornalista não se ficam por aqui. Durante sete anos, Carlos Borges teve uma “experiência diferente”. “O jantar de Natal era diversificado mas a família não era escolhida por nós, foi pela fé, por seguir quem se celebra. Uma opção de vida com o modo particular de S. Francisco na Ordem dos Frades Menores Capuchinhos ou só Capuchinhos”, revelou à Viva.

“Ajudávamos o grupo de jovens, arrumávamos o seminário, ou seja, havia limpeza geral e, com as cozinheiras, preparávamos o jantar e a mesa da ceia. (…) No fim, já com tudo arrumado, era altura de alargar o convívio e a celebração à comunidade, com a eucaristia”, acrescentou.

Diferentes visões de uma mesma festa que, por um motivo ou por outro, continua a despertar sorrisos e a mobilizar gerações.

Mariana Albuquerque

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