PUB
Prémio Literatura Infantil Pingo Doce

Violência no namoro

Violência no namoro

O objetivo do programa, que arrancou no dia 17 de outubro de 2011 e que culminará a 31 de dezembro de 2013, é simples: atribuir aos jovens o papel de protagonistas na prevenção da violência de género. Desta forma, através do envolvimento da comunidade educativa (alunos, famílias, docentes e encarregados de educação), a UMAR pretende evitar a formação de novas vítimas e de eventuais futuros agressores. Em declarações à Viva, a psicóloga responsável pelo estudo explicou que o processo de consciencialização para a violência integra diferentes momentos, com a realização de um inquérito, de 15 sessões de sensibilização e de um novo inquérito.

v_2“Dados preocupantes” mostram que jovens desconhecem o conceito de violência

As conclusões dos questionários realizados nas oito escolas – sete do Grande Porto e uma do distrito de Braga – revelam, de acordo com Cecília Loureiro, “dados preocupantes”. De um modo geral, os jovens mostraram “desconhecer que determinados comportamentos são violência”. “Para alguns e algumas só existe a realidade vivenciada, muitas vezes a da violência doméstica”, começou por explicar a psicóloga. Desta forma, a análise, que englobou uma amostra de 885 jovens (448 rapazes e 437 raparigas), com idades compreendidas entre os 11 e os 18 anos, evidenciou uma “forte naturalização” deste tipo de atitudes.

Em declarações à Viva, a responsável do estudo adiantou que, no que diz respeito à violência psicológica, 21,83% dos rapazes e 10% das raparigas não consideram que “chamar nomes” seja violência. Por outro lado, para 15,65% dos inquiridos do sexo masculino e 4,67 do feminino, ameaçar é um ato normal. De referir também que 51% dos rapazes e 42% das raparigas encara com normalidade a proibição de sair com amigos sem o respetivo namorado. A psicóloga sublinhou, além disso, que os atos de impedir de vestir alguma peça de roupa e de controlar o telemóvel, os emails e as palavras-chave das redes sociais são, para 54,25% dos jovens e 43,43% das adolescentes, comportamentos de não-violência. De acordo com os inquéritos, mais de um quarto dos alunos e 15,8% das alunas acreditam que “obrigar a fazer coisas que o outro não queria fazer” não é uma ação desadequada. Em relação à agressão física, 7,4% dos rapazes considera que bater sem deixar marca não é violência, sendo que cerca de 6% acredita que agredir não é, de todo, violência.

Para Cecília Loureiro, para além de preocupantes, os dados são surpreendentes. “Não esperava que jovens de tão tenra idade tivessem uma posição tão forte quanto ao limite da liberdade individual do outro”, confessou. A continuidade da aposta na sensibilização e na educação são, por isso, as maiores estratégias destacadas pela responsável da investigação. “Se verificarmos que os níveis de violência física e/ou psicológica entre os adultos são de 33%, os índices entre os jovens aproximam-se, indicando que as novas gerações correm o risco de repetir os mesmos níveis de violência nas relações de intimidade”, alertou, destacando a importância de programas como o “Mudanças com Arte” para “efetivar a mudança nas relações, fomentando a igualdade e o respeito”.

PUBLICIDADE - CONTINUE A LEITURA A SEGUIR

v_3A educação como arma contra a “lei do mais forte”

Tal como explicou a psicóloga, as conclusões obtidas no estudo – e que apontam para uma percentagem mais elevada de rapazes que limitam a liberdade – estão associadas aos valores perpetuados pela própria sociedade. “O feminino e o masculino assentam como categorias dicotómicas “próprias da natureza” que reforçam e renovam estas assimetrias de poder nos planos pessoal, profissional e social”, referiu, acrescentando que a educação é crucial para a não perpetuação desta situação.

“Desde cedo que eles absorvem passivamente todas as normas sócio-culturais que, tendo-se tornado generalizações, são naturalizadas”, destacou, sublinhando que, na infância, o carro e as atividades que incitam à força e à competitividade são, desde logo, associados aos rapazes, assim como os trens de cozinha, as bonecas e maquilhagens às raparigas, incitando à “sensibilidade, emotividade e submissão”. Para além disso, notou, durante o seu crescimento, os adolescentes deparam-se com “mitos como ‘um homem não chora’, ‘há desportos para rapazes e desportos para raparigas’, ‘um homem não se vê ao espelho’, ‘as mulheres são muito emotivas e sensíveis, enquanto os homens são racionais e pragmáticos’ e muitos destes jovens aceitam-nos sem consciência crítica”. Desta forma, as normas sócio-culturais acabam por reforçar “o poder masculino”, naturalizando as desigualdades, “que poderão, efetivamente, desaguar em violência de género – violência doméstica e violência no namoro”.

Ainda assim, o trabalho de sensibilização efetuado pelo programa deu resultados. “Através de um questionário pré-teste e pós-teste, pudemos constatar um aumento significativo na mudança de comportamentos e atitudes dos jovens, espelhando maior responsabilidade, e consciencialização”, constatou a psicóloga.

Texto: Mariana Albuquerque

PUBLICIDADE

PUB
PD-Bairro Feliz