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“Vi-te no comboio”

“Vi-te no comboio”
Quando o amor acontece

“Ontem, cerca das seis da manhã estava eu, sonolento, sentado num banco em S. Bento e tive uma das visões mais bonitas da minha vida. Marcou-me de tal maneira que não só o sono me abandonou toda a viagem como não consegui pregar olho o dia inteiro. Naquele momento, foi como se o tempo parasse e a realidade à minha volta ficasse diferente! Eu nem sou lamechas, mas foi um daqueles momentos em que sentimos borboletas na barriga e sinos a tocar ao nosso redor.”

Em jeito de desabafo apaixonado, estas palavras poderiam ser o excerto de um livro ou figurar nas páginas de um diário, mas a verdade é que têm uma particularidade: mais de 62 mil pessoas estão, neste momento, a “fazer figas” para que o autor da história se volte a cruzar com a sua “musa” numa qualquer viagem de comboio na Linha de Caíde.

Quem sabe até se a mulher que lhe “tirou o sono” não se identifica com o episódio, enquanto navega pelo Facebook, e aceita aventurar-se numa nova amizade. “Unir os olhares perdidos”, diariamente, nas viagens de comboio e de metro é, assim, um dos objetivos da página “Vi-te no comboio”, criada recentemente na rede social Facebook e que reúne depoimentos de pessoas de todo o país que, em algum momento do seu trajeto, encontraram alguém que os marcou. Online desde o dia 31 de janeiro – fruto de um “impulso de sexta-feira à noite” – a página já está a caminho dos 63 mil seguidores.

vi_te_1A ideia, essa, partiu de três jovens de Braga, com idades compreendidas entre os 17 e os 24 anos, que “esbarraram” no site “I Saw You” (www.iSawYou.com), procurando um congénere português. “Surgiu-nos a página ‘Vi-te no Fertagus’ e tivemos a ideia de aplicar este conceito numa grande escala. Entrámos em contacto com eles, que não se opuseram e até se mostraram contentes por avançarmos com a ideia”, contaram os jovens à Viva. Três dias depois, reforçaram a equipa de administradores da página, com a entrada de um novo elemento, desta vez do sexo feminino. E estariam, assim, lançadas as bases do projeto “Vi-te no Comboio”, através do qual qualquer pessoa pode fazer um elogio a alguém por quem se tenha interessado. O esquema de funcionamento da página é simples: os interessados enviam a sua história através de uma mensagem privada que será, depois, publicada, de forma anónima. “Todas as publicações são feitas por nós, anonimamente, pelas mensagens privadas que nos são enviadas, e só cedemos as identidades se ambas as partes estiverem de acordo”, salvaguardaram.

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Como ninguém está imune aos efeitos do cupido, que muitas vezes faz das suas nos locais mais inusitados, o projeto vem criar a “ponte que faltava para proporcionar possíveis reencontros”. “Identificámo-nos com a situação, todos já vimos alguém durante uma viagem que nos despertou algum interesse e não tivemos coragem de nos aproximar, por várias razões”, constataram os jovens, acrescentando que a intenção é a de “mostrar que a sua presença fez diferença durante aquele momento”. “Adicionalmente, se a pessoa se identificar e ambos quiserem entrar em contacto, nós atuamos”, referiram. De sublinhar que a página está organizada de modo a que as pessoas possam filtrar as histórias que mais lhes interessam, fazendo uso das Hashtags do Facebook e pesquisando, por exemplo, por #linhaBraga ou #metroPorto.

vi_te_2Até ao momento, a equipa já recebeu cerca de duas centenas de histórias. Entre as mais marcantes, para os responsáveis do projeto, está a de “uma senhora que encontrou um rapaz triste porque ia voltar para o Colégio Militar”. “O amor é mesmo o que acontece na história”, garantem, realçando que, neste episódio, (https://www.facebook.com/vitenocomboio/posts/1464324267122979) há algo “a que não estamos habituados” – a capacidade de “oferecer um ombro amigo a um desconhecido”.

Dez mil gostos em 48 horas

A reação das pessoas à página foi de tal forma positiva que, em pouco mais de 48 horas, a “Vi-te no comboio” já somava 10 mil gostos, “sem nenhum tipo de publicidade externa”. “A única razão que temos para explicar esta adesão é a ideia ser realmente útil e haver muitas pessoas com momentos destes por partilhar. Pensávamos que éramos só nós a tê-los!”, brincaram. “É impressionante como os comentários feitos às histórias são de empatia e motivação para com os autores. Estamos muito satisfeitos”, acrescentou a equipa. Outra das metas do projeto será fazer com que as pessoas percam “o receio que têm de abordar alguém, neste caso, no comboio”. “Será um sucesso se conseguirmos dinamizar as viagens de comboio no futuro”, realçaram os jovens, sublinhando que este meio de transporte acaba por ter algo de “mágico”, bem ao jeito dos olhares trocados, subitamente, por duas pessoas que se cruzam na mesma estação.

Texto: Mariana Albuquerque

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