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“Universitários Contra o Cancro”

“Universitários Contra o Cancro”
Brigada “UniCa” prepara-se para chegar de novo às escolas do norte

«Às vezes encontramo-nos com a cabeça nas mãos. Tudo o que poderia ter corrido bem correu mal. O mundo, que era igual à vida, afasta-se de repente. Distancia-se e continua a existir, como se nada tivesse a ver ou a haver connosco, como se fizesse questão de mostrar a independência dele, mundo, que não existe só porque nos damos conta dele. A má notícia é má, mas a pior, para quem cá está, é a pessoal. A minha pessoa é a Maria João e a Maria João passa mal. Nem o amor nem a sabedoria médica a podem salvar. Só uma conjunção das duas coisas, mais um acrescento de milagre. O cabrão do cancro alastra-se».

As palavras são da autoria de Miguel Esteves Cardoso – escritor que partilhou, nas suas crónicas, a experiência vivida ao lado da esposa doente – mas podiam pertencer a qualquer outro familiar dos cerca de sete milhões de cidadãos que, todos anos, perdem a guerra contra o cancro. E no que toca à doença, a utilização de vocabulário menos apropriado perde importância, sobretudo quando o «cabrão» se alastra. Os factos são pouco animadores e por isso mesmo exigem estratégias de ação: em Portugal, tal como no resto do mundo, a incidência do cancro está a aumentar, estimando-se que vitime cerca de 25 mil pessoas, por ano.

unica_2Desta forma, ativar consciências para a importância do diagnóstico precoce e efetivar a prevenção primária através da promoção de estilos de vida saudáveis são, cada vez mais, as prioridades do Plano Nacional de Saúde. E nada melhor do que começar a fazer este trabalho junto dos mais novos, desafio esse que foi aceite pelos integrantes do projeto “UniCa – Universitários Contra o Cancro”, que a Associação de Voluntariado Universitário (VO.U) está a desenvolver em parceria com o Departamento de Educação para a Saúde da Liga Portuguesa Contra o Cancro (LPCC). No terreno desde 2010, o UniCa nasceu do convite endereçado pela VO.U à Liga para uma colaboração «na formação de voluntários na área da infância». Tal como explicou Cristiana Fonseca, coordenadora do referido departamento da LPCC – Núcleo Regional do Norte (NRN), «após essa formação, percebeu-se que poderia haver um campo de trabalho na educação para a saúde em que os voluntários poderiam fazer sentido».

Desta forma, apostou-se num trabalho de sensibilização junto dos mais novos, mas foi em 2012, com o projeto “CSI: Cancro Sob Investigação” que o UniCa «ganhou um novo ânimo». «Foi um projeto co-financiado pelo Alto Comissariado para a Saúde que pretendia prevenir o cancro de pele, articulando atividades de educação para a saúde com o diagnóstico precoce de lesões cutâneas. Tínhamos dermatoscópios portáteis que permitiram fotografar os sinais suspeitos de forma descentralizada, ou seja, pudemos fazê-lo onde as pessoas estavam, nomeadamente nas praias», explicou Cristiana Fonseca. O CSI decorreu de junho a setembro de 2012, dinamizado por voluntários que tornaram possível o desejo de «cobrir toda a costa litoral norte», depois de um período no qual receberam formação em dermatologia para uma identificação básica dos sinais e para saberem manusear os equipamentos.

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unica_3Mais de 30 voluntários querem vestir a camisola UniCa

Durante este ano letivo, os “Universitários Contra o Cancro” prometem voltar a dar que falar, através do desenvolvimento de ações de sensibilização em escolas do ensino básico ou secundário do norte do país. Para isso, a VO.U está a angariar jovens dispostos a receberem formação para poderem integrar o projeto. A ideia é, assim, a de se constituírem «equipas multidisciplinares» para desenvolverem ações de sensibilização de caráter pontual, junto dos mais novos. E o repto lançado pela entidade já começou a dar “frutos”. «Os jovens universitários, e não só, têm aderido cada vez com mais entusiasmo a projetos de voluntariado. O Banco de Voluntários da VO.U tem vindo a crescer e contamos já com mais de 1400 inscritos. Neste projeto UniCa, em concreto, estamos a ter uma resposta muito gratificante: três dias depois de termos lançado o pedido, já contamos com mais de 30 voluntários interessados em participar”, contou à Viva Rita Filipe, coordenadora do Plano Vida – VO.U.

Alimentação, tabagismo, cancro do colo do útero e da pele são os temas em destaque

«O voluntariado está, indiscutivelmente, em crescimento» e, para a responsável, o momento de crise que Portugal atravessa pode ser um dos fatores que contribuem para esta tendência. «O facto de os jovens serem progressivamente mais conscientes do seu contexto social e do próximo e conhecedores do seu poder de atuação faz destes projetos um verdadeiro sucesso», salientou. O número de pessoas que podem integrar o UniCa não é limitado e «todos os voluntários são bem vindos» – tal como referiu Cristiana Fonseca – uma vez que as atividades são desenvolvidas em período letivo, exigindo a articulação das disponibilidades.

Na edição deste ano do projeto, a alimentação, o tabagismo, o cancro do colo do útero e o cancro de pele são algumas das principais temáticas a serem abordadas junto dos mais novos. Ao longo das ações de sensibilização, os voluntários vão procurar criar uma ligação entre a área da saúde e a literatura. «Mais do que usar livros iremos apelar às atividades que envolvam a escrita e a leitura. Mas, por exemplo, ‘O Principezinho’ será utilizado para abordar as questões relativas ao cancro da pele», exemplificou a coordenadora do Departamento de Educação para a Saúde da LPCC – NRN. A reação dos miúdos às atividades tem sido bastante satisfatória. «Normalmente gostam e o facto de serem jovens mais velhos a dinamizá-las tem um impacto muito positivo», reconheceu Cristiana Fonseca.

Texto: Mariana Albuquerque
Fotos: Departamento de Educação para a Saúde da LPCC – NRN

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