É uma das artistas mais emblemáticas do país e no mundo. Começou o seu percurso a bordo dos Madredeus e, em 2011, apresenta-nos um diversificado e profundo trabalho a solo traduzido em dois álbuns: “O Mistério” e “O Horizonte”, projetos que não são estanques. Apresenta-se este sábado na Casa da Música para um concerto intimista entre “O Horizonte e a Memória”. Lá estaremos, mas antes uma conversa com Teresa Salgueiro.
Em 25 anos de carreira, pela primeira vez, passou a compor as canções e a escrever as letras. “Foi um novo início na minha vida, e também a primeira vez em que me apresentei ao público enquanto autora. É um desafio e uma grande aventura que abraço com grande entusiasmo”, começa por explicar Teresa Salgueiro.
O Mistério
“O processo de criação do repertório começou um pouco mais cedo. Começou com um espetáculo intitulado ‘Voltarei à minha Terra’, no qual fiz arranjos para uma série de canções portuguesas de vários autores. Já tinha encontrado os músicos com quem queria trabalhar e estava a começar a desenvolver essa linguagem. Através de canções que não eram minhas, tentar sempre a minha abordagem aos temas”.
A ideia de um repertório original começou, no entanto, de forma sólida com “O Mistério”, no ano de 2011.
“Os temas foram gravados em agosto desse ano. É um desafio que abraço diariamente com todo o entusiasmo. Porque, de facto, a criação de música é um campo infinito de possibilidades”.
“O Mistério” referia-se mais ao sentido misterioso da vida. Ao mistério que nos acompanha na jornada terrena. Não sabemos de onde vimos, para onde vamos. É o foco da necessidade de aceitarmos essa realidade. “Saber e ter consciência de que não temos a possibilidade de conhecer tudo. Aceitar a nossa condição”, resume.
E continua: “O facto de compreendermos e aceitarmos as nossas limitações percebemos, por um lado, claro, a nossa fragilidade. Aceitar a condição humana e a noção de que ‘o mistério’ é algo que nos vai sempre acompanhar. A vida é um mistério”, remata.
“O Mistério” foi gravado no Convento da Arrábida. “No ‘Horizonte’ também estivemos lá a fazer arranjos. São dois discos muito ligados à Serra da Arrábida”.
O Horizonte
“O Horizonte” também contém de certa forma “O Mistério”. “Quando olhamos para o horizonte não sabemos o que está para lá. Podem ser os nossos sonhos. E acredito que esse horizonte faz com que tenhamos força para caminhar. Lá está. Para entrar em contacto com o mundo, com o próximo, com a natureza, com o que nos rodeia. Assim como com a nossa solidão, emoções. São esses os temas que tratam de certa forma este registo. A humanidade, acima de tudo. É a minha visão, muito pessoal do mundo e da vida. Acho que se dirige a uma pessoa de cada vez”, explica a artista.
Este disco demorou mais tempo a ser composto. “Todo um processo de viagem, de mudança de músicos. Mas também uma vontade de ir mais a fundo, nos arranjos, no papel que cada instrumento ocupa na música”.
Com o dinamismo nas digressões, certamente não faltarão histórias. “Haverá muitos episódios marcantes. Acho que é marcante a realização de uma tournée com o repertório original. ‘O Mistério’ foi edição de autor e conseguiu em 12 países distintos o entusiasmo de diversos editores que publicaram o disco. Depois fizemos concertos em diversos países de forma totalmente independente”.
Já “O Horizonte”, continua, “é uma edição do meu agente aqui em Portugal. Está também distribuído em diversos países”.
Teresa Salgueiro apresenta “O Horizonte e a Memória” no Porto (Casa da Música)
Setembro é o mês de arranque da digressão que Teresa Salgueiro fará pelo país, à qual a artista chamará “O Horizonte e a Memória”. Na Casa da Música, este sábado, 16 de setembro, às 21h30.
“O Horizonte e a Memória” irá decorrer num cenário envolvente e íntimo onde Teresa Salgueiro nos apresentará um breviário de canções representativas da “melhor tradição musical portuguesa”.
“Tendo como fio condutor o seu próprio repertório desde ‘O Mistério’ ao recém editado ‘O Horizonte’, a autora interpreta também os mais conhecidos temas dos Madredeus, prestando ainda homenagem a Amália Rodrigues, José Afonso, Carlos Paredes, entre outros”.
Seremos, assim, transportados para “um universo que nos é próximo e simultaneamente surpreendente”.
A voz que há três décadas canta Portugal e encanta o mundo, eleva-nos com o seu estilo “único e inconfundível”, através da poesia e da música, num espetáculo que é uma reflexão sobre o que é ser humano e onde habilmente se entrelaça o presente, o passado e o futuro.
Teresa Salgueiro refere que “o conceito que suporta este novo espetáculo cristaliza-se na relação estreita e indivisível entre o Horizonte e a Memória que nos impele e simultaneamente nos ampara”.
A componente da memória será mais aprofundada.
Próximos projetos
“Já estivemos na Itália, Espanha, Macedónia. E vamos para o Brasil no mês de outubro”, conta, entusiasmada.
O balanço destes anos a solo é mais que positivo, “em constante aventura onde se dá um contínuo aprofundar de capacidades e reforço da paixão pela música e poesia”.
A VIVA! não resistiu e questionou: algum músico com quem gostaria de trabalhar em especifico? “Há muitos anos que digo, das pessoas que mais admiro na música é Marisa Monte. Mas não sei se algum dia vai acontecer. Não sei. Há muitas pessoas com quem me queria cruzar” (risos).
E o futuro? É continuar a dar o meu melhor e lentamente ir transformando a realidade para um mundo um bocadinho melhor.