“Ninguém anda como os tripeiros, anda-me!”
No Porto, o verbo Andar assume múltiplos e variados sentidos. De facto, enquanto lá mais para baixo andar é simplesmente “deslocar-se, mover-se”, para as gentes tripeiras tanto pode ser um elogio como um insulto, como pode querer dizer coisas que nem o diabo imagina.
E, na lista que se segue, onde constam 50 entradas, faltam, seguramente, outras tantas. De certeza!
Tem dúvidas? Ande daí e beija! No final, se for capaz, termine com um concludente “Anda-me! Bib’ó luxo!” e acrescente o seu “andar” preferido…
Andar à babugem: Não fazer nada, não trabalhar; viver à custa de alguém.
Andar à batatada: Andar à pancada.
Andar à bulha: Confronto físico.
Andar a butes: Andar a pé.
Andar à calhoada: Andar à pedrada.
Andar a coçá-los: O mesmo que andar a coçar os tomates.
Andar a coçar o cu pela esquina: Não fazer nada.
Andar a coçar os tomates: Não fazer nada.
Andar a dá-la: Oferecer sexo.
Andar à gosma: Viver à custa dos outros. Gosma, no sentido coloquial, designa qualquer substância líquida pegajosa. Gosma é, pois, sinónimo de cola, ou seja, andar colado a alguém.
Andar à guna (ou andar de guna): Andar dependurado, sem pagar, na parte traseira do elétrico.
Andar à mama: Parasitar, viver às custas de alguém.
Andar à moina: Não fazer nada; vadiagem.
Andar à nora: Atordoado, sem saber o que fazer.
Andar a pedi-las: Diz-se de alguém que persiste em provocar uma situação com consequências negativas.
Andar a pintar à pistola: Estar de diarreia.
Andar a pisar ovos: Andar com muito cuidado; fazer tudo muito vagarosamente e sem vontade.
Andar a roê-la: Ter relações sexuais com determinada mulher.
Andar a seco: Não ganhar nada; não ter relações sexuais.
Andar à segóvia: Relativo à masturbação masculina.
Andar à tomatada: Ato de violência física; pancada.
Andar ao cheiro: Seguir algo ou alguém muito insistentemente com o objetivo de conseguir alguma coisa.
Andar ao milho: Pancadaria.
Andar aos caídos: Estar em baixo, estado de pobreza, ter de aproveitar todas as ofertas.
Andar aos tiros: Pedir dinheiro emprestado.
Andar de beiça: Amuar.
Andar de cu tremido: Viajar de automóvel.
Andar de gesso: Não trabalhar.
Andar de gunas (o m. q. andar à guna): andar pendurado na parte traseira do elétrico.
Andar de monco caído: Cabisbaixo.
Andar em grande: Estar contente, bem de finanças.
Andar em manobras: Estar a tentar tramar alguém.
Andar empenado: Ter problemas ósseos ou musculares, que dificultam a locomoção.
Andar enfeitiçado: Diz-se de alguém de quem gostamos quando namora com alguém de quem não gostamos (ou quando os pares são, em termos de beleza ou de riqueza, muito diferentes).
Andar enrodilhado: Ter relação não duradoura com alguém.
Andar enrolado: Ter um caso com alguém.
Andar murcho: Estar em baixo, psicologicamente; triste.
Andar na broa: Andar muito apressado, com muita velocidade.
Andar na gandaia: Só querer festa e diversão.
Andar na passa: Drogar-se.
Andar Na-Boa-Vai-Ela: Ter uma boa vida, sem preocupações.
Andar no cravanço: Pedir sistematicamente dinheiro ou outras coisas (tabaco, por exemplo) sem qualquer intenção de devolver.
Andar no engate: Ter intenção firme de conquistar alguém, sexualmente.
Andar novo: Alusão de gosto duvidoso a práticas sexuais, por analogia com andar/apartamento.
Andar num sino: Estar muito satisfeito.
Andar numa fona: Muito ocupado.
Andar numa freima: O mesmo que Andar numa fona.
Andar saída: Diz-se de mulher que anda em período de cio.
Andar sempre ó tio, ó tio: Estar em permanente estado de aflição, sobretudo por causa de dívidas ou falta de dinheiro.
Andar torto: Diz-se do que está errado ou daquele que apresenta uma curvatura nas costas pronunciada.
Andar violeta: Corruptela de “andor violeta”; Põe-te a andar.
João Carlos Brito
Professor, linguista, escritor