
O Centro Hospitalar Universitário de São João (CHUSJ) realizou, recentemente, uma cirurgia inovadora, e “pioneira em Portugal”, para tratamento de cancro do pulmão, através da Unidade de Cirurgia Torácica do Serviço de Cirurgia Cardiotorácica.
Em comunicado enviado às redações, a unidade hospitalar explica que o procedimento em causa é realizado desde outubro de 2020, mas que, agora, foram utilizadas “ferramentas tecnológicas que permitem aumentar a precisão da intervenção” – através de uma segmentectomia apical direita por VATS Uniportal.
“A primeira destas ferramentas é a reconstrução pré-operatória da anatomia pulmonar. A Cirurgia Torácica desenvolveu um protocolo em colaboração com o Serviço de Radiologia, de forma a realizar uma TC Torácica pré-operatória que nos permite entender em detalhe a anatomia pulmonar e conseguirmos antes de entrar no bloco operatório saber que vasos segmentares devemos laquear, bem como o brônquio segmentar a ser excluído”, partilhou Pedro Fernandes, cirurgião do CHUSJ.
Por sua vez, acrescentou, a segunda ferramenta tecnológica que permite o aumento da eficácia da cirurgia é a “utilização de uma torre de toracoscopia equipada com imunofluorescência”. “Intra-operatoriamente, após laqueação das estruturas do segmento pulmonar referidas anteriormente, é utilizado um produto – verde de indocianina – que através de uma torre de imunofluorescência, nos permite definir com precisão os limites do segmento pulmonar a ressecar”, descreveu.
De acordo com o cirurgião, a combinação do desenvolvimento técnico cirúrgico de realização de uma segmentectomia anatómica por VATS Uniportal, combinado com o planeamento imagiológico pré-operatório e o uso intra-operatório de uma torre de imunofluorescência “tornaram esta cirurgia pioneira em Portugal”.
Em causa está uma cirurgia “dirigida sobretudo às pessoas com cancro do pulmão em fase precoce”.
Na mesma nota, o São João salienta que o cancro do pulmão é a principal causa de morte por neoplasia em Portugal, sendo que apenas 15 a 20% das pessoas com cancro do pulmão são diagnosticados numa fase precoce da doença, na qual o tratamento preconizado é a cirurgia.
“A técnica cirúrgica no tratamento do cancro do pulmão tem como gold-standard, há mais de duas décadas. a realização de ressecções anatómicas major, como sejam a exérese (remoção) de cerca de um terço a metade do pulmão (procedimento definido como lobectomia) ou exérese total do pulmão (pneumectomia). No entanto, existe evidência crescente para a mudança de paradigma e adoção de estratégias cirúrgicas «poupadoras de pulmão», como sejam as ressecções sublobares, nomeadamente as segmentectomias anatómicas, que consistem em cirurgias de complexidade e precisão cirúrgica superiores, na qual retiramos apenas o segmento pulmonar no qual está localizada a lesão neoplásica”, apontou ainda Pedro Fernandes.
Segundo o clínico, a evolução da Cirurgia Torácica nos últimos anos permitiu a realização desta técnica por abordagens minimamente invasivas, utilizando apenas uma pequena incisão com cerca de 3 a 5 centímetros, assistida por vídeo, aumentando muito a exigência cirúrgica, mas possibilitando aos doentes um pós-operatório com menos dor, internamentos mais curtos e melhor recuperação funcional.
Adicionalmente, o desenvolvimento da técnica em causa permitirá, ainda, “a possibilidade de um tratamento cirúrgico de cancro do pulmão em casos com lesões com menos de 2 centímetros que, de outro modo ,seriam inoperáveis por impossibilidade funcional para a realização de lobectomia pulmonar”.