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Santiago de Compostela

Santiago de Compostela

“Ousem pegar na mochila”

A fé move montanhas e desvenda caminhos bem longos. Os peregrinos partem em nome das suas crenças numa longa e imprevisível viagem. São muitas as famílias que partem rumo ao conforto espiritual, mesmo que o caminho a percorrer seja íngreme. É o caso de Afonso Silva, e família, que rumou a Santiago de Compostela em 2017 e deixou para a posteridade um diário deste caminho tão especial. A VIVA! leu e abre o baú das memórias.

“Seguimos do denominado Caminho Português da Costa. Nem sempre seguimos as famosas setas amarelas, nem fizemos a travessia do Minho em Caminha”, conta-nos Afonso Silva.

E acrescentou: “Durante 11 dias em que partilhamos dores, angústias, sede e às vezes fome, em que falamos muito, mas em que também partilhamos silêncios, as nossas famílias e as pessoas que nos são queridas e de quem realmente gostamos, estiveram sempre presentes nos nossos pensamentos”.

Afonso contextualizou-nos a experiência.

Já não é uma estreia nestas andanças. O que o move, acima de tudo?

Move-me o prazer de viajar, e essencialmente a sensação de realizar objetivos cuja concretização depende apenas de mim, da forma como me preparo e da forma como encaro o desafio sabendo que o prazer de chegar ao destino faz esquecer todas as dificuldades inerentes a uma aventura desta índole.

compostela4A fé move montanhas?

A fé move montanhas quando temos fé em nós próprios e na nossa capacidade de superar as dificuldades sabendo que não existem rosas sem espinhos e como alguém já disse “só precisamos de guardar as pedras que encontramos no caminho para um dia construir o nosso próprio castelo”.

Porquê a ideia de criar um diário sobre este ‘Caminho’?

A ideia de criar um diário do Caminho serviu não só para memória futura, e desta forma contrariar a vida efémera que as novidades têm hoje em dia nas redes sociais, mas essencialmente para poder despertar nos amigos a vontade de fazerem o seu Caminho.

As dificuldades fazem parte. O resultado final justifica tudo? Porquê? Com que sensação ficamos?

As dificuldades obviamente fazem parte do Caminho, mas, a felicidade de chegar ao final faz-nos sentir a sensação de que, se conseguimos superar este desafio, seremos capazes de superar a maior parte das adversidades que encontramos nas nossas vidas.

Que lições traz deste percurso a Santiago de Compostela em concreto?

As lições que trago são, em primeiro lugar a de que afinal preciso de muito pouco para sobreviver, basta uma mochila, algumas peças de roupa e um bom calçado para fazer o Caminho. Em segundo lugar, aprendi que não existem impossíveis quando a nossa vontade é inabalável. Por último, as lições de solidariedade e generosidade com que nos deparamos durante o Caminho são marcas que jamais se extinguirão.

Que mensagem gostaria de deixar aos leitores da VIVA!?

A mensagem que gostaria de deixar aos leitores resume-se a uma simples palavra. Ousem, ousem pegar na mochila, calçar umas sapatilhas e fazerem o vosso Caminho. Garanto que, tal como eu, irão regressar com uma diferente perspetiva da vida, percebendo que às vezes também nós somos capazes de escolher o ritmo a que queremos viver e pelo menos durante os dias em que o fizerem a vossa vida será completamente diferente. Com certeza que, tal como eu, quando chegarem, sentirão uma enorme vontade de partirem de novo.

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compostela3Iniciemos, então, o périplo, com alguns momentos marcantes.

17 de outubro de 2017

Porto-Vila do Conde

A saída prevista para as 8h00 aconteceu mais próximo das 9h00.

“Seguimos viagem pelos passadiços e fomos passando sucessivamente por Agudela, Angeiras, Labruge, Sampaio e finalmente Vila Chã onde também chegou a chuva. Perante este panorama e os cerca de 7km que nos faltavam para chegar ao destino optamos por chamar um táxi. Chegamos ao Hotel Santana em Vila do Conde.

27 de outubro

Padrón-Santiago de Compostela

Um caminho bonito mas com muito asfalto foi-se tornando mais doloroso mas sempre animados pela alegria da chegada ao nosso destino final. Fomo-nos cruzando com vários peregrinos.

Prosseguimos ao nosso ritmo debaixo de um sol abrasador e a ansiar por uma paragem num café ou restaurante que ao longo de vários quilómetros teimava em não aparecer. Finalmente encontramos uma placa a anunciar um café e lá saímos do Caminho para um desvio que nos levou a uma pausa que já desejávamos há algum tempo. Repostas as energias lá retomamos a nossa marcha que nos levaria ao tão ansiado destino final.

Os momentos finais

A partir de Milladoiro e quando já estávamos a cerca de 7km da Catedral o caminho parecia nunca mais acabar e então a Avenida que nos leva até ao centro de Santiago de Compostela parece aumentar de comprimento a cada cruzamento que é ultrapassado, fazendo-me recordar as enormes dificuldades que, em junho de 2016, eu, a Elsa, a Filomena, a Rosário e o Luís tivemos para completar a nossa peregrinação. Quando chegamos ao Parque da Alameda e antes de entrarmos na Rua Franco que nos levaria à Praza do Obradoiro, fomos surpreendidos pelos jovens da escola de Madrid e as jovens com quem nos tínhamos cruzado à entrada de Pontevedra que nos fizeram uma bonita receção gritando e abraçando-nos e foi assim no meio de toda esta alegria que rodeados dos jovens que entoavam os seus cânticos, chegamos ao local mais desejado durante os 11 dias que passamos em peregrinação. Estávamos finalmente na Praza do Obradoiro onde se situa a fachada principal da Catedral de Santiago de Compostela que se encontrava em obras de conservação.

praza_obradoiroAli, naquele momento, foi a altura de soltar todas as emoções contidas deixando correr as lágrimas de alegria pela concretização do nosso objetivo e continuaram os abraços não só aos já referidos jovens como também a outros peregrinos que como nós davam largas à sua alegria.

Analisadas as nossas credenciais, o funcionário disse-nos que iria colocar 260 km como a distância por nós percorrida.

28 de outubro

Santiago de Compostela

É estranha esta sensação de já não ter mais caminho para fazer, de já não ser necessário besuntar os pés com creme para prevenir as bolhas, de sair do hotel sem ser com a mochila às costas. É boa a sensação de já termos chegado mas deixa alguma tristeza já não ter mais Caminho para percorrer, mas a realidade é que acabou esta aventura de 11 dias que nos levou do Porto a Santiago de Compostela.

A chegada da Maria João e do Ricardo para assistirem connosco à missa foi mais um momento de emoção e foi neste sentimento de família e comunhão que assistimos os quatro à bonita homilia.”

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