Já todos sabemos que o Porto é casa de vários acontecimentos históricos e continua a somar distinção atrás de distinção, no entanto, acredite: há sempre qualquer coisa que nos escapa nesta história imensa de uma cidade que nos surpreende, mesmo quando achamos que já não é possível fazê-lo.
Sabia que, em Portugal, o Porto é, também, uma cidade histórica, no que toca ao cinema? Provavelmente já terá ouvido que grandes nomes da sétima arte nasceram na Invicta, como é o exemplo de Manoel de Oliveira, que exerceu brilhantemente a sua profissão, numa vida de sucesso que durou mais de 100 anos.
No entanto, e se lhe disséssemos que foi no Porto que se gravou o primeiro filme de sempre, no nosso país? Pode acreditar: é verdade!
Corria o ano de 1896, menos de um ano depois de, em França, ter-se exibido aquele que se diz ter sido o primeiro filme da história, da autoria dos irmãos Lumière, em Paris. Foi nessa altura que surgiu Aurélio da Paz dos Reis, o comerciante/cinéfilo que foi pioneiro da sétima arte, em Portugal.
Tal como refere a Porto Secreto, “fascinado pelo cinematógrafo dos irmãos franceses, Paz dos Reis viajou até Paris para o comprar, mas sem sucesso. Contudo, acabou por adquirir um aparelho semelhante aos irmãos Werner. Este ficou conhecido por Kinematografo Portuguez e cumpria a intenção pretendida: filmar”.
Fazendo uma pequena alteração da icónica frase de Neil Armstrong, primeiro ser humano a pisar solo lunar, foi uma pequena compra para um homem, que fez com que se desse um grande salto na cultura portuguesa.
Através do referido aparelho tecnológico, criou-se um filme mudo de aproximadamente um minuto, a preto e branco, chamado “Saída do Pessoal Operário da Fábrica Confiança”, que teve como pano de fundo a Rua de Santa Catarina, em 1896.
Como refere a Câmara do Porto, no seu portal de notícias oficial, “no filme pode ver-se o momento da saída dos operários da Camisaria Confiança, enquanto na rua vai decorrendo o movimento quotidiano da cidade”.
Para além de ser um nome histórico do cinema português, Paz dos Reis foi floricultor, onde foi responsável pela criação da Flora Portuense, que, hoje em dia, dá lugar à Confeitaria Ateneia, na Praça da Liberdade.
Falar em Aurélio da Paz dos Reis, mais do que falar em sucesso no mundo audiovisual, é falar em alguém que deixou uma marca inquestionável na Invicta que hoje conhecemos. Sabia, por exemplo, que o seu espólio se encontra guardado pelo Centro Português de Fotografia, “que compreende mais de 11.000 documentos fotográficos”?
Ainda que seja pioneiro no cinema nacional, Paz dos Reis acabou por desistir da área cinematográfica, na medida em que sempre se sentiu desvalorizado por uma sociedade que reagia com alguma indiferença à sua arte, naquele tempo, completamente inovadora.
Passaram-se os anos, no entanto o respeito, esse, manteve-se intacto. Aurélio Paz dos Reis chegou a ser vereador e presidente substituto da Câmara do Porto. Faleceu aos 79 anos, em 1931, e encontra-se sepultado no Prado do Repouso.
Imagem de capa: Captura de ecrã da curta-metragem