Um pequeno passeio pelo coração do Porto é o suficiente para se perceber que o calendário já marca o mês de agosto. A divertida figura do turista, de máquina fotográfica ao peito e olhos cravados no mapa, multiplica-se pelos recantos da cidade, onde as esplanadas se enchem de pessoas cuja principal preocupação é mesmo a de aproveitar o descanso das férias ao ritmo dos leves tragos de uma bebida fresca. Para os que ficam na Invicta, há boas notícias: durante o verão, não vão faltar programas culturais para desfrutar com os amigos e a família.
De nariz no ar
E nada melhor do que iniciar um roteiro cultural pelas surpresas que se podem encontrar nas próprias ruas portuenses. Até ao dia 6 de setembro, o Festival Varandas convida os cidadãos a olharem atentamente para o alto dos edifícios da baixa da cidade, onde vão ser brindados com literatura, música, dança ou poesia. Pelo segundo verão consecutivo, artistas de diversas áreas tomam conta daqueles pequenos terraços suspensos, prometendo dar-lhes uma nova vida e uma nova voz. Para esta sexta-feira, o espaço escolhido pelo evento foi a Praça das Cardosas, onde haverá uma conversa com o médico e escritor Miguel Miranda, pelas 19h, e fado de Coimbra pelos Torre D’anto, três horas depois.
A festa prossegue no dia 16, desta vez no Largo dos Lóios, com a presença do escritor Jorge Marmelo. A música, essa, ficará a cargo do Duo Ruim (Rui e Quim) que vai interpretar versões acústicas de canções em português. Para o dia seguinte, a proposta é diferente e assenta num passeio matinal pelas varandas mais emblemáticas do Porto, com partida do Campo Mártires da Pátria às 10h. Na sexta-feira seguinte, 23 de agosto, Mónica Baldaque é a escritora protagonista de uma conversa que decorrerá na Rua do Bonjardim, a iniciar um serão onde não faltará poesia, com Isaque Ferreira a declamar textos de Joaquim Castro Caldas. No final do mês, a 30, o Festival Varandas sugere um regresso às Cardosas, com uma conversa especial dedicada a Manuel António Pina, antes de um concerto assinado pelos Porta-Jazz. E o programa do evento não terminará sem que a animação chegue à Rua de Miragaia, já no dia 6 de setembro, com teatro e baile de música tradicional europeia.
Sábados de Jazz ao relento
Depois de traçar o percurso pelas típicas ruas portuenses, o roteiro cultural de verão chega aos jardins do Palácio de Cristal, onde os apreciadores de Jazz têm encontro marcado com a natureza. Desenhada precisamente para promover o género musical na cidade, a Associação Porta-Jazz está a promover concertos gratuitos ao relento, todos os sábados, às 22h, na Avenida das Tílias. O jazz “contemporâneo carregado de força, dinâmica, variedade e coesão” do sexteto Zagorro, formado por alunos da ESMAE (Escola Superior de Música, Artes e Espetáculo), é a proposta do próximo dia 10. Na semana seguinte, a 17, é a vez do Terceto de Manuel Beleza, acompanhado por Mário Santos, no saxofone, e Marcos Cavaleiro, na bateria, subir ao palco, com uma sonoridade “que faz lembrar os ‘velhos’ grupos de Larry Young com Sam Rivers e Elvin Jones”. No último sábado do ciclo, a 24, o “Porta-Jazz ao Relento” dá as boas-vindas ao projeto “J4nela”, de João Mortágua, que assume nascer “da necessidade de expressão sonora de uma alma humana”.
Mas as propostas musicais não se esgotam aqui. As tardes quentes de domingo também prometem animação, graças à segunda edição do Porto Sunday Sessions que, durante o mês de agosto, está a dar música aos cidadãos no Jardim de S. Lázaro. Aliás, este ano, a organização da iniciativa decidiu inovar, conforme sugestão da autarquia local, iniciando as sessões mais cedo, às 16h. Para além de boa música, os locais escolhidos para o evento (que regressa ao Parque da Cidade em setembro, depois de já lá ter estado em junho) oferecem um ambiente relaxado, um mercadinho com artesanato urbano, roupa “vintage” e comes e bebes.
E se o objetivo dos veraneantes passa por descobrir uma nova esplanada na cidade para tomar café na companhia dos amigos, a solução poderá estar na Avenida dos Aliados, onde o Moustache instalou uma espécie de quiosque com vista para os imponentes edifícios da baixa. Entre as bebidas frescas servidas durante o dia – com especial destaque para os batidos, smoothies e frappés – e os capuccinos e espressos mais concorridos à noite, o palco do café – que permanecerá nos Aliados até 4 de setembro, recebe, em parceria com a Porto Lazer, concertos e espetáculos de novo circo.
Os sabores especiais da Alfândega
O percurso prossegue até à Alfândega do Porto que, durante este mês, é a grande “mesa” da cidade Invicta, desafiando turistas e locais a deixarem-se levar por alguns dos mais tradicionais pecados calóricos. Entre as 11h e a meia-noite, o “A’gosto no Porto”, de entrada livre, terá quatro grandes especialidades à disposição dos visitantes. A primeira delas, a francesinha, que já se tornou um dos maiores símbolos portuenses, será a protagonista da iniciativa até este sábado, dia 10. Depois, de 12 a 18 de agosto, entrará em cena o marisco que, frio, acompanhado de cerveja ou em pratos quentes, como o arroz ou a açorda, já está na lista de preferências dos portugueses, sobretudo durante o verão. Na semana seguinte (entre os dias 19 e 25), as atenções vão estar centradas nos petiscos nacionais, muito apreciados nos almoços mais leves e nos lanches tardios. A fechar a iniciativa está outra das grandes especialidades da cozinha portuguesa – o bacalhau, nas suas múltiplas hipóteses de confeção.
Para fazer uma pausa entre refeições ou para digerir melhor alguma das especialidades, sugere-se um passeio pela Expo-Safari, que reúne, também na Alfândega, 80 espécies animais de quatro continentes. Répteis, anfíbios e insetos são alguns dos convidados de honra da mostra, destinada a alertar para a necessidade de preservar a biodiversidade do planeta. A exposição, ideal para um programa em família, pode ser visitada todos os dias das 10 às 20h, até ao dia 8 de setembro. O preço dos bilhetes varia entre os 2,5 (crianças a partir dos três anos) e os quatro euros (adultos).
Cinema gratuito e “fora do sítio”
E como nenhum roteiro fica completo sem aquela que é considerada a sétima arte, vários locais da cidade do Porto estão a desempenhar a função de salas de cinema improvisadas para a exibição de grandes êxitos. Até ao início do próximo mês há “Cinema fora do sítio”, aos fins de semana, em sessões com 200 lugares sentados garantidos. No próximo sábado, dia 10, todos os caminhos vão dar ao Jardim do Passeio Alegre, onde vai ser exibido o filme “Os Estagiários”. No dia seguinte, o destaque vai para “A Noite dos Mortos Vivos”, na Gruta dos Jardins do Palácio de Cristal. Em cartaz estão ainda “Django Libertado” (a 17, na Cândido dos Reis), “Hitchcock” (dia 18, na Av. Vimara Peres, junto à Ponte D. Luís), “Die Hard – Nunca é bom dia para morrer” (24 de agosto, na Praça do Metro da Trindade), “A Ressaca” (a 25, na Praça D. João I), “Lincoln” (dia 31, na Praça Carlos Alberto) e “Batalha do Pacífico” (na Praça da Ribeira a 1 de setembro). Todas as sessões arrancam às 22h.
As quintas-feiras do mês também estão reservadas a sessões de cinema, mas desta vez no jardim do Museu Nacional Soares dos Reis (MNSR), com o ciclo “Cinema no Museu”, promovido pelo Cineclube do Porto. Na próxima semana, a 15 de agosto, os portuenses estão convidados a assistirem ao documentário de Bruno Almeida “6=0 Homeostética” (2008), sobre o movimento Homeostética, que surgiu em Lisboa nos anos 80. Depois, na quinta-feira seguinte, 22, o destaque vai para “Banksy – Pinta a Parede!” (2010), um documentário do artista de rua Banksy, “que traça a história de um movimento, a street culture”. Para a última sessão de agosto está reservada a exibição de “A Arca Russa” (2002), de Aleksandr Sokurov.
Texto: Mariana Albuquerque
