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Rita Rocha

Rita Rocha

“Mudou muita coisa, porque tens uma aparição televisiva, as pessoas conhecem-te por alguma coisa, mas ao mesmo tempo nada mudou.”

Rita Rocha é natural da Maia, tem 17 anos, e já é uma das grandes certezas do panorama atual da música pop, em Portugal. Começou a ser conhecida do público com a participação no The Voice Kids, em 2021, onde, apesar de não ter vencido, encantou os portugueses com o seu timbre único.

Atualmente, é presença assídua na programação das principais estações de rádio do país, tendo já lançado temas como  “Mais Ou Menos Isto” ou “Outros Planos”, que rapidamente a catapultaram para os grandes palcos.

Em conversa com a VIVA!, Rita Rocha falou-nos detalhadamente sobre o seu percurso artístico, dando também a conhecer um bocadinho do seu lado pessoal.

Participaste no The Voice Kids, em 2021, onde deste nas vistas. No entanto, hoje quando falamos em Rita Rocha, pensa-se já na artista e não na concorrente de um programa de televisão. Porque é que achas que das centenas de concorrentes que passam pelos programas, só alguns depois conseguem estabelecer-se como artistas?

Eu vou ser muito honesta. No meu caso, sinto que tive mesmo muita sorte com as pessoas que me calharam. A minha mentora foi a Carolina Deslandes e ela como mentora representou tudo para mim. Acreditou em mim, quando eu achava que não havia absolutamente nada para acreditar. Acho que ou é muita sorte e as pessoas veem algo em ti que é impossível ver, que foi o que me aconteceu, ou de facto as pessoas têm um talento natural, que é o caso do Fernando Daniel. Eu acho que o Fernando nasceu para cantar e é tipo o Messi da música. Mas depois do voto de confiança que as pessoas dão é trabalhar muito para criar alguma coisa. É o que estou a fazer agora, para mostrar à Carolina que apostou numa coisa que até valia a pena. Então, o método agora é trabalhar para mostrar que tenho jeito para isto.

Olhando para o teu percurso, e tal como referiste, há um nome que assumiu particular importância no mesmo, que é o da Carolina Deslandes. Para o espectador mais atento, é possível ver que a Carolina é uma figura muito querida entre artistas, de quem todos gostam e manifestam esse apreço. O que é que é tão especial e diferente, na Carolina?

Eu acho que há pessoas que são genuinamente boas e que não fazem as coisas por esperar nada em troca. A Carolina é essa pessoa. É uma pessoa muito altruísta, que é a melhor característica que alguém pode ter. Só por aí, está tudo dito. Por ela ter acreditado em miúdos com 14 e 15 anos que gostam muito de música e começar uma carreira para eles. Ela é uma pessoa excecional, não tenho nada a apontar.

Hoje em dia, falar na Rita Rocha é falar numa artista. No entanto, quase nos esquecemos que ainda és muito nova, tendo, inclusive, idade para andar na escola. A título de curiosidade, como é que é um dia normal na escola? Ainda dá para andar nos corredores, nos intervalos?

Com isto da música, houve muita coisa que mudou, como é óbvio. Eu, antes, passava despercebida. Era uma pessoa algo tímida, quando não conhecia ninguém. Isto da música deu-me um arcaboiço diferente. Fiquei muito menos tímida e as pessoas começaram a vir ter comigo. Eu fico sempre muito feliz quando as pessoas vêm ter comigo. Mas claro que dá para andar nos corredores, eu não sou assim tão conhecida (risos). Mudou muita coisa, porque tens uma aparição televisiva, as pessoas conhecem-te por alguma coisa, mas ao mesmo tempo nada mudou. Continuo a ser a mesma pessoa e tem sido mesmo incrível.

Ainda assim, dirias que há um choque, quando se começa a ser conhecido?

Claro, no bom sentido. Passas de ser despercebida, para as pessoas saberem quem és e virem ter contigo. Agora, o que me ajudou muito foi eu ter os valores certos. E a partir daí, quando temos os pés bem assentes na terra, nada se torna um choque nem um espanto assim tão grande.

Em tão pouco tempo, já alcançaste muito, pelo que a tendência é sempre esperar mais e mais e mais. Sentes, de alguma forma, pressão para seres um exemplo, até pela idade que tens?

Claro que sim. Eu revejo-me em imensos artistas da minha idade estrangeiros. Muitos deles estão na minha playlist, como a Olivia Rodrigo, por exemplo. O facto de sentir que estou na playlist preferida de algumas pessoas é uma responsabilidade muito grande e o que eu estou a tentar fazer, agora, é trabalhar, trabalhar, trabalhar, para continuar a ser uma referência para as pessoas. Se é uma pressão gigante? É. Porque eu sinto que as pessoas esperam uma coisa sempre melhor. Quando se lança uma canção, não se pode lançar nada pior, depois. Logo aí, é uma pressão gigante.

Sentes-te mais inibida, em público?

Sentia-me mais um bocadinho, há uns tempos. Mas agora eu acho que estou num ponto da minha vida em que sou só quem eu sou. Tenho mais alguma atenção no que digo, principalmente com quem não tenho confiança. No entanto, sou o que sou, que até é uma das coisas que, pelos vistos, as pessoas mais gostam em mim, que é o facto de eu não fingir ser um exemplo, quando tenho muitos defeitos e faço muita porcaria, também. Se calhar, por um lado, sempre que faço asneira mais em público, até serve para me redimir e mostrar que quem tem exposição também faz porcaria. Ninguém é perfeito.

Para além de cantora, tu também és autora de muitas das músicas que publicas. Em relação ao processo criativo de dar vida a uma música, ou seja, naquele que é o caminho que vai desde a ideia até ao lançamento, qual é a etapa que mais te fascina? É o cantar, é o descobrir a sonoridade certa para te expressar, é a letra?

Eu vou ser honesta, o que me fascina mais é mesmo a escrita. Eu estou sempre a escrever, até nas aulas, sei que isto não se diz, mas é verdade. Sempre que me vem uma ideia ou quando estou a viver uma emoção forte, o meu instinto é pegar no telefone e escrever. Faz de conta que passo pela rua, vejo um sinal vermelho, e por algum motivo aquilo dá-me inspiração, o que eu faço é escrever. É a minha parte favorita, o escrever, o processo de fazer canções. Adoro tocar ao vivo, claro, mas mais do que isso, escrever, pois é um modo de me expressar. Logo eu que sou tão reservada, é uma espécie de diário, em que as pessoas acabam por me conhecer melhor pelas canções.

É engraçado que grande parte das canções falam sobre coisas que são muito íntimas. É fácil seres sempre 100% honesta contigo própria, enquanto escreves? Ou dirias que existem partes que preferes deixar sempre para ti?

Consigo ser 100% transparente comigo própria, sim. Mas se calhar essa canção fica só para mim. Se calhar, não vou mostrar algumas canções que tenho que são mais fortes. Há mensagens que guardo para mim e depois penso, “okay, pode haver quem passe por isto, logo vamos mandá-la”. No meu primeiro álbum, que vou lançar, eu tenho pelo menos duas canções que escrevi em fases mais ansiosas da minha vida, com pressão até por causa dos exames e isso tudo, em que estava pouco recetiva, mas tomei a decisão que vou lançá-las. É um processo, é preciso pensar muito nesses assuntos, mas acabei por chegar à conclusão de que a quero lançar e espero que as pessoas sintam que não são só elas que passam por isso.

Sentes que, quando publicas, as músicas deixam de ser tuas?

Não sinto que deixem de ser minhas, só que passam a ser de mais pessoas. Isso é incrível. Eu nunca quis escrever sobre o que as pessoas querem que eu escreva. Se eu não estou feliz, eu não vou fazer uma canção feliz. Eu sempre fui muito sincera comigo própria. A coisa gira na música é que tu escreves uma coisa e a outra pessoa está a passar exatamente pelo mesmo. Pode ser um tópico triste, mas é muito giro de ver, que ao mesmo tempo estamos a viver coisas iguais. Por isso, sim, é um bocadinho função minha fazer isso.

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Num curto espaço de tempo, passaste de cantar canções no quarto para encher o Marés Vivas. Como é que se processa isso mentalmente? Tens alguma rotina pré-concerto? É sempre “só mais um concerto” ou há todo um processo psicológico de preparação, antes?

Eu acho que, antes dos concertos, as pessoas ou ficam muito nervosas e engasgam-se todas, ou então já lidam bem e nasceram para aquilo. Eu fico muito nervosa, mas os meus nervos são o meu melhor amigo. Eu fico nervosa, antecipadamente. O que costumo fazer é estar sempre a mexer-me. Antes dos concertos, fazemos um grito que é muito engraçado. É “decide-te, Rita!”. Depois disso, é só um abraço coletivo. Após o abraço, parece que os meus nervos saem todos, Tenho uma equipa muito boa a trabalhar comigo. Como são pessoas que eu confio, dão-me um conforto enorme. Se não fosse assim, ia ficar muito mais nervosa.

Disseste numa outra entrevista que sempre tiveste o sonho da medicina. Continua a ser um sonho? Ou eras capaz de te imaginar dedicada a 100% à música?

Eu sempre disse que queria tirar o curso de medicina. É algo que está dentro da minha cabeça. Eu sou uma pessoa com muitos objetivos e, normalmente, não desisto de nenhum. Quero sempre alcançá-los a todos. É claro que quero tirar medicina, na mesma. Se a música estiver a correr melhor, eu se calhar paro um bocadinho e vou fazendo a medicina. No entanto, é uma coisa que eu quero muito fazer e que sei que vou fazer. Obviamente que é complicado, principalmente se fizer música o tempo inteiro. Contudo, é como uma espécie de decisão, eu quero tanto fazer que acabo de arranjar tempo para tudo. No entanto, não gosto de pensar no futuro, porque senão começo a dar voltas à cabeça e penso que afinal não sei o que quero. Se calhar, para o ano já nem quero, mas hoje quero.

Na música “Outros Planos”, há uma parte da música que dizes “Um dia vai ser só uma piada, uma história mal contada”. Há alguma história engraçada da tua vida que possas contar hoje, em que na altura foi assim um grande problema, mas que agora te dá vontade de rir sobre o assunto?

Tenho, sim! O meu primeiro EP, na altura, foi todo feito para o meu melhor amigo. Isto tem muita graça, porque eu gostei dessa pessoa durante 5 anos. Até que um dia ele vem ter comigo e diz-me, “ó Rita, tenho de falar contigo”. E eu pensei “ei, finalmente, vai dizer que gosta de mim”, ao que ele diz, “olha, eu não gosto de meninas”. Eu pensei, “ei, isto não me está a acontecer”. Em público, eu nunca disse isto, mas acho que é tão engraçado, porque eu fiz um EP inteiro sobre aquele que, agora, é o meu melhor amigo. Tem muito mais piada, agora, porque ainda que não tenha corrido bem, romanticamente, eu nem podia ficar chateada, porque ele tinha-me dado um EP incrível, foi graças a ele.

Agora, uma série de perguntas que permitam conhecer melhor a Rita do dia a dia. Série e filme favoritos?

Filme favorito diria que é o “Divergente”. A série é mais complicado e, agora que penso, é que percebo o quão nova eu sou. No entanto, gostei muito da série “Rabo de Peixe”, da Netflix, acho que estava uma grande série. Para além disso, gosto de “Vampire Diaries”, porque sou uma miúda (risos)! Depois, pronto, gosto daquelas típicas séries românticas, em que ele é mau e ela é fixe. Enfim, esse tipo de séries, é o que eu gosto. No fundo, escrevo canções românticas. O que seria não gostar de séries românticas…

Comida favorita?

Sushi e qualquer tipo de massa. Carbonara, por exemplo. Picanha, também gosto muito.

O que é que mais te irrita nas pessoas?

Sabes as pessoas que falam e tocam muito, ao mesmo tempo? Isso irrita-me. Mas de uma forma mais profunda, diria que são pessoas que mentem e que são falsas. Eu topo-as à distância.

Agora ao contrário. O que é que tu fazes que mais irrita as pessoas?

Eu sinto que estou sempre a cantar, o que irrita muitas pessoas. Quem não gostar de música ao mesmo nível que eu, vai ficar “ei, Rita, já te calavas”. Estou sempre a cantar e a escrever. As pessoas ficam irritadas de me ouvir sempre a cantar, ou murmurar, vá. Para além disso, sou demasiado honesta e não penso muito naquilo que digo. As pessoas não estão prontas para a minha honestidade, às vezes. Sinto que tenho de começar a pensar um bocadinho.

Qual é a tua maior qualidade?

Eu acho que sou altruísta e que me preocupo. Pelo menos isso. Preocupo-me e, apesar de dizer que não gosto de sentimentos e que não falo sobre eles, eu falo e preocupo-me muito com as pessoas. Se calhar, mais do que aquilo que devia. Dou muito mais do que aquilo que recebo, às vezes. Até acho que sou engraçada, também.

Sem ser a música, quais são os teus passatempos favoritos?

É assim, tudo o que eu faço para além da escola, é a música, por isso não há muito mais a dizer. Só se for sair com os meus amigos, isso eu adoro, claro.

Que conselho darias a alguém com o mesmo sonho que tu?

Eu sinto, cada vez mais, que as pessoas pensam que as coisas caem do céu. Só que as coisas não caem do céu. Tu tens de trabalhar muito para isso. Não no sentido de dizer aquela frase fatela de “é preciso trabalhar muito”, mas no sentido de abdicar de muita coisa para alcançar os meus objetivos. É sacrifício e as pessoas têm de saber o que é fazer sacrifícios. Acho que é o maior conselho que eu posso dar, é que alguém que trabalhe tem maior probabilidade de chegar muito mais longe. Se estudar, à partida, tenho boas notas. Se não estudar, não tenho boas notas. É tão simples quanto isso e, por vezes, tens de abdicar de algumas coisas, claro.

Fotografias: Sons Em Trânsito

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