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Quarteirão Bombarda

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E num olhar mais atento pelo “catálogo cultural”, destaca-se, na Galeria 111 (situada no n.º 246 da Rua D. Manuel II), até ao dia 25 de maio, a exposição coletiva A20, que junta duas dezenas de criativos de diversos locais e com diferentes motivações. Além do papel e da tela, a mostra privilegia o lixo do aspirador de Pedro Gomes, as beatas de cigarros de João Leonardo, a cerâmica e o crochet de Joana Vasconcelos e o arame de David Oliveira, para além do desenho feito com a ponta do lápis vermelho do Pedro A. H. Paixão, dos recortes brancos de Lisbeth Moe Nilsen e das fotografias de Samuel Rama. Em termos temáticos, na mesma exposição há espaço para a paisagem específica da floresta Laurissilva, na Madeira, por Pedro Vaz, para a paisagem urbana americana, por Martinho Costa, e ainda para a Guerra no Iraque, por Gabriel Abrantes.

bomb2Já na Rua Miguel Bombarda, a Galeria São Mamede, localizada no n.º 624, apresenta as “Arquiteturas da memória” de Benedita Kendall. O trabalho da artista portuense – formada na Faculdade de Arquitetura, e que exerce, atualmente, funções de docência no ensino secundário – consiste em “representações labirínticas de casas, ruas, quartos, cenários onde as personagens se revelam e se perdem”. “São interiores que se prolongam para o exterior, onde a dimensão cartesiana se confunde, onde perdemos a linha de horizonte, a noção de perspetiva e embarcamos no mundo da infância, da memória, dos sonhos e possibilidades da existência”, descreve Benedita Kendall.

De seguida, na Galeria Presença (n.º 570) é possível encontrar a exposição “Criss-cross”, de Pedro Calapez, que integra diversos trabalhos recentes de pintura. Elaboradas entre os anos 2012 e 2013, as obras refletem a utilização de tintas arrastadas em camadas, numa contínua sobreposição de transparências e fusões de cores, que expressam, simultaneamente, um gesto e uma atitude. Por outro lado, segundo a descrição do trabalho, as grandes dimensões e a utilização de suportes elaborados complexificam a usual definição de “quadro”, sendo que o processo de pintura de Calapez se desenrola no repetido cruzar da espátula na superfície da tela, do alumínio ou do papel.

bomb3Outro ponto de paragem obrigatória é a Galeria Serpente, situada no n.º 558 da mesma rua, na qual é possível encontrar a mostra “Imagens para nada”, do fotógrafo Algimantas Aleksandravicius. Nascido em 1960, o lituano apresenta, de acordo com o crítico de arte Bernardo Pinto de Almeida, uma obra assente num renascimento da fotografia europeia no período contemporâneo, pertencendo a um grupo de novos fotógrafos que renovaram a prática fotográfica nos países europeus num período de libertação da imagem dos chamados “heróis da fotografia moderna”, especialmente os que integraram o grupo internacional da agência Magnum.
E o passeio cultural por este “quarteirão das artes” prossegue com “Pintura”, de Nikias Skapinakis, em exposição na Galeria Fernando Santos (localizada no n.º 526), até ao dia 25 de maio. Conhecido pela abrangência de registos e domínio da cor, o artista apresenta uma obra que “não é abstrata mas sim metafísica”, destacando-se a peça “Lago de Cobre” (1990), de grandes dimensões, que serviu de base a duas novas séries, inéditas, de óleos sobre tela e guaches sobre papel. Nesta mostra, os visitantes têm a oportunidade de ver “Jardins de Arcádia”, uma tela com dez metros de comprimento, em forma de cortina, que é “pintada à medida que é desenrolada; pintada à medida que é vivida”, integrada na recente exposição antológica comissariada por Raquel Henriques da Silva e levada a cabo no Museu Berardo, “Nikias Skapinakis-Presente e Passado 2012-1950”.

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Na mesma galeria está também patente a exposição “FLASH Automático, Control Remoto y Resolución de Problemas”, de Cristina Mateus. De acordo com a artista, o maior desafio foi o de “pensar em coisas (como um vídeo e outros problemas) para duas salas de uma galeria” e “ficar na parte mais interior (…), no lugar mais distante do ar livre da rua”. “Convidei uma amiga espanhola que me ajudou na tradução. Com ela fiz esta instalação. Uma sala a negro e outra em preparação para outra explicação (a mesma). Tudo permanece em montagem, não há outra maquinação”, explica a portuense, co-fundadora da Organização Virose.

bomb4Também com uma inauguração em dose dupla, a Galeria Ap’arte apresenta “Levando o açúcar na fonte acreditando noutros gerúndios”, de Mário Vitória, descrito por Boaventura Sousa Santos como “um mestre de cerimónia que tanto pode ser para rappers como para receções a embaixadores e outras inutilidades com charme”. De acordo com o Professor Catedrático Jubilado da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, Mário surge como um “arrumador exímio de loucuras”, apresentando-as “em séries tão incessantes que mais parecem normalidades avulsas deambulando pelos centros comerciais do subterrâneo”. Além disso, no n.º 221 da Rua Miguel Bombarda há ainda uma mostra coletiva de cartões postais criados por artistas brasileiros e lusos no âmbito da comemoração do Ano Internacional Portugal no Brasil e Brasil em Portugal.
O percurso pelo quarteirão das artes permite ainda apreciar a exposição coletiva “Primavera”, na Galeria Trindade, localizada no n.º 141, que reúne nomes como Evelina Oliveira, com o seu “Chegar silenciosamente”, Teresa Silva, com “Cacos e trapos”, e Juan António Mañas, com “salida del laberinto”. No dia 1 de junho, a “casa” da arte contemporânea acolhe novas inaugurações, com a promessa de conquistar o público com mais uma dose de animação de rua.

Texto: Mariana Albuquerque

 

Imagens:
1. A20 – Galeria 111
2. “Arquiteturas da memória” de Benedita Kendall – Galeria São Mamede
3. “Imagens para nada” de Algimantas Aleksandravicius – Galeria Serpente
4. “Primavera” – Galeria Trindade

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