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“Porto: Crónicas da Cidade de Dentro”

“Porto: Crónicas da Cidade de Dentro”
25 anos ao serviço da “Cidade de Dentro”

São textos que partem da própria realidade, das constatações obtidas no dia a dia, no terreno, ou simplesmente da inspiração. No próximo dia 10 de novembro, Hélder Pacheco apresentará o livro “Porto: Crónicas da Cidade de Dentro”, assinalando, assim, 25 anos de crónicas no Jornal de Notícias. Um quarto de século ao longo do qual o portuense deu atenção aos “sentimentos e segredos, auscultados por aí, um pouco onde calha e a cidade acontece, interpretando o pensamento e aspirações da gente comum”. E foi “absolutamente por acaso” que o cronista se apercebeu da efeméride. “Ainda devo ter por aqui a carta que a direção do jornal me enviou a pedir para escrever crónicas sobre a cultura popular do país”, admitiu, constatando que o primeiro texto saiu há precisamente duas décadas e meia, numa secção então designada “Vistas do meu Quinteiro”.

“Sem saber como”, foi ficando. Atravessou direções e administrações do jornal e viu os seus textos assumirem diferentes localizações no miolo noticioso, “ora na última página, ora no meio, ora a dois terços”. O conteúdo das crónicas, esse, também sofreu algumas alterações. Numa primeira fase, os textos incidiam em assuntos de âmbito nacional, passando, depois, para o regional e local. “Pediram que me cingisse ao Porto que, aliás, era aquilo a que eu aspirava”, confessou Hélder Pacheco. Na última remodelação do JN, as crónicas do portuense passaram a ter um limite de caracteres (1800), que ainda hoje se mantém e que o autor considera ter sido importante para o “aperfeiçoamento da escrita”. “Não tenho dúvidas nenhumas de que hoje escrevo muito melhor, mais claramente, sintetizando as ideias”, reconheceu.

vendedor_de_castanhas“O que é bom deve ser elogiado e o que é mau deve ser criticado”

A abrir a obra “Porto: Crónicas da Cidade de Dentro” está precisamente o primeiro artigo publicado pelo cronista, em 1989 – “Esta voz, este pregão discreto” – dedicado aos vendedores de castanhas. “A fechar o livro está o texto mais conflituoso que escrevi até hoje, que fez correr rios de tinta”, contou, esclarecendo tratar-se de uma crítica à Expo 98, numa altura em que o país estava “quase de tanga”. “Infelizmente, uma grande parte do diagnóstico que eu lá fazia concretizou-se”, apontou, realçando que, apesar de ter suscitado o apoio de alguns, foi “violentamente atacado por determinados setores”. A obra reúne ainda algumas crónicas mais recentes – as de 1800 caracteres – “diferentes das anteriores, mais incisivas, mas nem por isso menos fiéis aos objetivos que norteiam o pensamento e a caneta do cronista”. E, segundo realçou, cada texto surge ilustrado com imagens fornecidas por cerca de duas dezenas de fotógrafos que aceitaram o desafio de fazer parte desta “Cidade de Dentro”.

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As temáticas abordadas têm diferentes origens. “Há textos que saem da minha inspiração”, começou por frisar o autor, que, todos os anos, escreve, por exemplo, sobre o outono, “a estação mais motivadora do ano” e aquela que é, “por excelência”, a do Porto. Depois, muitas crónicas resultam “da própria realidade”. “Há tempos, o JN trazia uma notícia que dava conta da morte da Palmirinha, a última carquejeira do Porto. Como eu estou ligado a um grupo que quer construir um monumento às carquejeiras, quando vi a morte dela, escrevi logo a propósito disso”, referiu. “O terceiro tipo de texto está associado à minha experiência no terreno”, acrescentou, defendendo que “aquilo que é bom e bem feito deve ser elogiado, venha de onde vier, e o que é mau deve ser criticado, venha de onde vier”. É por isso que – sustentou – muitos dos seus artigos “são recados para a Câmara do Porto”, pelo facto de ser “a entidade que mais influência tem na vida da cidade”.

porto“Escrevo à mão, a lápis”

Concentrado no seu próximo livro, que será dedicado às tabernas do Porto como espaço de convívio dos pobres, Hélder Pacheco contou que mantém o hábito de escrever à mão e a lápis. “Aprendi isto num país muito atrasado, com gente muito atrasada, quando trabalhei num instituto, na Suécia, onde toda a gente que fazia investigação escrevia à mão, a lápis”, ironizou. Para o portuense, escrever “é uma arte mas também um gozo lúdico”, pelo que não prescinde da sensação de sentir o lápis na mão. Por isso, redige o texto, digitaliza-o e envia-o para a sua “secretária e confidente” – com a qual trabalha há 40 anos – que retribui a crónica já em formato digital, alertando-o para eventuais “palavras descontextualizadas” e para a quantidade de caracteres que precisa de eliminar (com vista a respeitar o limite dos 1800). Uma rotina que pretende repetir “enquanto o sonho não se desvanecer e a apetência da felicidade der sentido à doçura de viver na resistência a estes tempos amargurentos em que nos encontramos mergulhados”.

Texto: Mariana Albuquerque

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