Quem conhece o Porto e os portuenses sabe que o São João é a festa mais emblemática da cidade. Todos os anos são milhares as pessoas que saem às ruas para festejar em honra deste santo. Não faltam as típicas “marteladas”, os alhos porros, os balões e a sardinha assada.
Mas se atualmente não restam dúvidas de que esta é a festa mais acarinhada do Porto, noutros tempos a situação não era clara. Antigamente, por esta altura do ano, a cidade Invicta vivia intensamente uma outra grande festividade: a dos três Reis Magos.
Esta festa “chegou a ombrear com a do São João” afirmou o jornalista e divulgador de história da cidade do Porto, Germano Silva, acrescentando que “era animada e chegou, em certas épocas, a rivalizar, em popularidade e entusiasmo popular, com a do tradicional São João tripeiro”.
“A festa aos três Reis Magos, também referenciados como três santos reis Magos, que se celebra entre os dias 1 e 6 de janeiro”, mobilizava sempre muitas pessoas para grandes festejos em honra de Gaspar, Baltazar e Belchior, sublinhava, o jornalista numa crónica publicada na Visão.
“Grupos de pessoas, mais ou menos organizados, por ruas, a «trupe das Eirinhas»; por profissões, «o grupo dos empregados da Carris»; por coletividades, «os reiseiros dos Unidinhos da Sé», percorriam as ruas da cidade cantando os reis de porta em porta, sempre de noite, em atenção ao pormenor de os Magos terem sido guiados por uma estrela, logo de noite”.
Estima-se que as origens desta devoção remontem ao século XV, sendo que no início do século XVIII as festas passaram a ter o seu ponto central numa capela anexa ao antigo Palacete dos Monteiro Moreira, que se localizava na atual Praça da Liberdade.
O espaço era dedicado aos três Reis Magos e congregava as celebrações. Mais tarde o Palacete, que albergou, durante quase um século, a Câmara do Porto, foi demolido para abrir a Avenida dos Aliados, e a capela também deixou a sua localização.
Ainda assim a capela dos Reis Magos não «caiu no esquecimento», tendo um destino feliz e simultaneamente improvável. Foi adquirida por um rico proprietário do concelho de Cantanhede e transportada para lá.
“Quando a capela começou a ser desmontada, as pedras foram todas numeradas e transportadas de comboio até Cantanhede. E de Cantanhede até Pocariça, as pedras foram transportadas em carros de bois”, contava o arqueólogo Joel Cleto. Depois de reerguida, a capela passou a ser dedicada a São Tomé, mas a memória das festas portuenses em honra dos três Reis Magos persiste.