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O dia em que os “taberneiros” se revoltaram no Porto

O dia em que os “taberneiros” se revoltaram no Porto

Estávamos em 1757 quando a mui nobre cidade do Porto viveu aquele que foi um dos principais motins da sua história, a Revolta dos Taberneiros. Tudo aconteceu a 23 de fevereiro desse ano, uma quarta feira de cinzas.

O Campo do Olival foi o primeiro palco de uma revolta contra os privilégios da Companhia Geral de Agricultura e das Vinhas do Alto Douro, instituída em 1756 por Sebastião José de Carvalho e Melo, futuro Marquês de Pombal, que dava ao estado o monopólio do comércio do vinho do Porto e o controlo de todo o seu circuito comercial.

Na origem do problema, que desencadeou o motim, segundo conta a história, estariam problemas ligados à produção e comercialização do vinho do Porto. e aos privilégios da elite em relação aos pequenos consumidores.

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“Viva El-Rei! Viva o Povo! Morra a Companhia!”, gritavam os amotinados, ao som dos “sinos da Sé e da Misericórdia”, enquanto seguiam para o Largo de S. Domingos. “Avançaram até à casa do Juiz do Povo, sita no Largo de S. Domingos, que foi arrastado pela turba e conduzido numa cadeirinha por, alegadamente, se encontrar indisposto”, recorda a Universidade do Porto, na sua página oficial.

O objetivo principal da entrada do Juiz, também taberneiro e alfaiate, conhecido como “o Lisboa”, nos protestos é que este assumisse a “cabeça da revolução” e subscrevesse as reivindicações em causa, com o objetivo principal de revogar a criação da Companhia e, consequentemente, restabelecer o comércio do vinho a retalho.

“O numeroso e exaltado cortejo seguiu até à Rua Chã, ao encontro das residências do regedor das justiças, a quem foi exigida a extinção da Companhia, e do provedor Luís Beleza de Andrade. O escritório da Companhia, a habitação do seu provedor – de onde um criado disparou sobre os revoltosos – e as casas vizinhas de Manuel Barroso (secretário da Companhia) e de Custódio dos Santos (seu deputado) foram vandalizadas”, lê-se ainda.

Depois do sucedido, os ânimos terão acalmado um pouco, dando possibilidade à saída da “Procissão das Cinzas”, já no período da tarde. Contudo, a verdade é que a afronta ao poder central ainda não tinha terminado e estava longe de ser esquecida… A notícia havia chegado à capital, através da relação enviada pelo Desembargador Bernardo Duarte de Figueiredo, e, rapidamente, os conflitos retomaram.

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Dias mais tarde, o Rei D. José I ordenou a abertura de um inquérito para averiguar os acontecimentos em causa. Essa foi uma decisão que não agradou aos envolvidos e, aquando da chegada do enviado do Rei ao Porto, João Pacheco Pereira de Vasconcelos, ter-se-á espoletado uma segunda onda de protestos, resultando, assim, num novo motim.

De acordo com a instituição portuense, a devassa registou um total de 462 suspeitos, 26 dos quais, 21 homens e cinco mulheres, seriam condenados à morte.

Além disso, a Invicta foi ocupada por “vários regimentos da Beira, do Minho e de Trás-os-Montes” e os munícipes tiveram ainda que assumir a responsabilidade de “alimentar as tropas” e pagar um imposto especial para “pagar o salário dos soldados e das munições”.

Ter-se-ão verificado também mudanças significativas na vereação da cidade do Porto e na estrutura do comando militar, nomeadamente a “extinção da «Casa dos 24» e a nomeação de João de Almada e Melo para Governador do Partido Militar do Porto”.

“No final, oito condenados conseguiram fugir, uma mulher escapou à forca por se encontrar grávida e os restantes 17 sentenciados à pena capital foram enforcados ou decapitados no dia 14 de Outubro de 1757. As suas cabeças foram colocadas nos patíbulos e os corpos, esquartejados, expostos no Largo de S. Domingos, nas ruas Chã e de Cimo de Vila e no terreiro de Miragaia”, refere ainda a nota divulgada pela instituição portuense.

São quase três séculos de um motim, que teve a compreensão de uns, que entendiam que a intenção do Marquês ao criar a Companhia Geral de Agricultura e das Vinhas do Alto Douro pretendia “evitar a degradação da qualidade do vinho do Porto”, e a revolta de outros, mas que marcou, indubitavelmente, a história da cidade portuense.

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