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Não há saúde sem saúde mental

Não há saúde sem saúde mental

No dia da Saúde Mental, deparamo-nos com a informação que os portugueses compraram no primeiro semestre deste ano perto de 10,9 milhões de embalagens de ansiolíticos, sedativos e antidepressivos.

É verdade que o período pandémico colocou um holofote na saúde mental, mas continuamos a caminhar sem pressa.

Continua a ser urgente, aumentar a resposta nos cuidados de saúde primários, aumentar os recursos humanos, promover um maior acesso aos cuidados de saúde e à inovação, é preciso combater o estigma, por exemplo, através da literacia, é necessário um investimento nos cuidados de saúde intermédios.

Se não investirmos na saúde mental, estamos, inevitavelmente, a investir na doença.

A depressão é a terceira causa global de doença, é a primeira nos países desenvolvidos, estando previsto que comece a ser a primeira causa mundial em 2030.

A depressão mata. É a causa que mais contribui para as mortes por suicídio que chegam a 800 mil por ano, em todo o mundo.

Como é que as pessoas conseguem identificar que estão com uma depressão?

Nós somos diferentes, mas é importante conhecer-se a sintomatologia depressiva, de modo a identificarmos em nós, ou para que seja possível identificar, entender e compreender nalgum familiar ou amigo.

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Relativamente ao humor dá sintomas de tristeza, ou seja, a tristeza é mais intensa, dura mais tempo, que uma tristeza normal, dura pelo menos duas semanas e interfere no funcionamento diário da pessoa. A pessoa sente realmente que o mundo perdeu a graça.

Há uma diminuição do interesse em coisas que já achou interessantes, há uma diminuição do prazer nas atividades. A ansiedade e o medo são sintomas comuns, porque há uma maior sensibilidade a qualquer ameaça. Relativamente aos sintomas físicos, há uma diminuição de energia, um aumento da fadiga, há uma maior sensibilidade à dor física e o sono perde qualidade. É comum relativamente ao sono ocorrer a insónia terminal, ou seja, a pessoa adormece e depois acorda por exemplo às 3 ou 4 da manhã e não volta a dormir. Há também aqui uma diminuição da libido e este é muitas vezes dos primeiros sintomas a aparecerem.

Relativamente ao pensamento, há uma diminuição da concentração, da velocidade de raciocínio, há mais lentidão psicomotora, há uma sensação de desesperança e de pessimismo, tende a olhar para as coisas no sentido de que aquilo não irá correr bem, há um aumento da autocrítica, achando que tudo o que faz está errado, culpabilização, achando que tem culpa de todas as coisas que faz, mesmo se a situação não for da sua responsabilidade.

A nível interpessoal a pessoa fica insatisfeita com os relacionamentos, por isso, é aconselhável que as pessoas também não tomem atitudes enquanto estão com depressão porque a sua satisfação está diminuída relativamente a tudo. A pessoa sente-se sozinha, sente-se incompreendida, não tem vontade ou força para interagir, começa a recusar convites, começa a isolar-se.

A farmacologia em determinadas situações pode ser importante mas sabe-se que a maior parte das perturbações mentais não têm uma origem numa alteração química do cérebro, mas sim numa causa emocional e, por isso é que a psicoterapia é fulcral.

Algumas sugestões para ajudar uma pessoa com depressão

  • É muito importante que se informe, quanto mais informado, mais empatiza e pode oferecer ajuda.
  • A pessoa não é a depressão. A depressão é o quadro em que a pessoa está, não é o quadro que a pessoa é.
  • A pessoa não é desleixada nem pessimista. Isso é a doença.
  • Ouça sem julgamento e sem tentar resolver porque uma solução que para si é simples, para uma pessoa deprimida é uma “montanha gigante”. Ela ao sentir que não consegue vai sentir-se ainda mais fracassada.
  • Evite a culpa. Há tendência para culpar a pessoa por não o estar a valorizar o suficiente. Evite também autoculpar-se, se a pessoa não está a recuperar à velocidade que queria, cada um tem o seu ritmo próprio de recuperação.
  • Compreenda o tratamento. No caso de medicações, é necessário que conheça os efeitos se for o parceiro ou a parceira. No caso de psicoterapia perceba que algumas alterações podem ser sugestões do processo terapêutico.
  • Dê esperança. Mostre à pessoa que ela está naquele quadro, que entende que é um quadro muito difícil, mas que existe saída e que caminharão nessa direção.
  • Ajude. Ofereça-se para ajudar em tarefas do dia a dia porque a pessoa deprimida tem dificuldade em executar, ou seja, aquelas pequenas tarefas, tarefas simples, tornam-se muito difíceis.
  • E procure ajuda. Se ajuda uma pessoa com depressão e sente que está a ficar muito pesado, procure um profissional de saúde mental.

Dra. Rosana Sousa
Psicóloga na Clínica de Saúde Mental HICOA

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