INVESTIDOR INGLÊS COMPRA FESTIVAL DE CINEMA E O SEU ESPÓLIO
O credível jornal “Times” do último Domingo trazia uma notícia inédita e bastante curiosa. Um investidor tinha adquirido a denominação e o espólio do Festival Internacional de Cinema de Edimburgo, certame, dos mais importantes da Europa, o qual não se realizava desde o início da Pandemia. O investidor manteve o responsável pelo certame e garantiu-lhe a escolha da equipa. Admito que tenha também tido em conta a existência de um orçamento compatível para com o investimento por ele realizado.
A notícia era longa e tecia os mais diversos comentários sobre a importância no investimento na Cultura diferenciando também os Festivais de Cinema das Mostras de fim de semana, bem como dos certames de Curtas, Animação ou Documentários. Esta sua aquisição foi justificada como uma forma de fortalecer a imagem turística de Edimburgo bem como da Escócia no Mundo. Não referia a notícia os valores envolvidos nesta aquisição, mas para publicar uma notícia de relevo sobre o tema nesse icónico jornal os valores envolvidos deverão ser significativos.
Esta não é uma situação única mas os “investimentos” em certames de forte potencial são Mecenas muito generosos, particularmente nos Estados Unidos, contando esses importantes eventos com as participações financeiras dos Estados e das Autarquias no sentido de lhes garantir um potencial de imagem internacional forte e capaz de garantir às cidades onde se realizam um impacto mediático forte que permita atrair o turismo. É isto o que pode fazer com a realização de um festival de cinema, isto é, oferecer aos cinéfilos um menu gourmet e, às cidades onde se realizam, mais prestígio chamando assim a atenção dos média, bem como naturalmente dos cinéfilos (e não só) de todos os cantos do Mundo.
Cannes, sendo o maior Festival de Cinema, tem anualmente mais de 5 mil jornalistas a fazer a cobertura do evento (mais do que uns jogos olímpicos!), o que leva o nome da cidade a todos os cantos do Mundo. Tal proporciona a presença nestes eventos de um enorme número de “estrelas” que povoam as cidades durante os eventos. São milhões investidos nestes certames, mas estes têm um retorno financeiro gigante.
Festivais de Cinema e FESTIVAIS DE CINEMA
Tal acontece em todo o Mundo, e Portugal não foge à regra: os certames cinematográficos desmultiplicam-se. Eu diria, exagerando um pouco, que uma qualquer cidade tem o seu festival, mas só um ou dois por país têm impacto, mas os outros não passam de ciclos de cinema sendo estes exclusivamente vocacionados para cinéfilos, algo que é importante, mas que não me parece chegar para que o investimento financeiro ali feito tenha outros resultados.
Por sua vez os grandes festivais os quais cumprem também o seu papel cultural ao garantir a cinéfila são aqueles que mais atraem as produtoras, agentes de vendas ou realizadores a ali tentar colocar os seus filmes. Nesses certames poder-se-á ver quase toda a produção, sobretudo em eventos tais como os de Berlim, Cannes, Tóquio, Montreal, Hong Kong, e alguns outros que criam em paralelo os denominados mercados do filme em espaços onde centenas de produtoras vendem os direitos e exibem os seus filmes como se de uma feira se tratasse. No fundo esses grandes festivais que como disse são suportados sobretudo pelo Estado e pelas autarquias são para além da cinefilia que deles emana, motores reais de investimento com retorno imediato, na altura da realização dos mesmos, e durante o ano dado serem centros de Turismo por natureza.
TUDO ISTO PARA CHEGAR AO PORTO E AO FANTASPORTO
Tudo isto para chegar ao Porto e ao Fantasporto, já na sua 43ªedição que, ao contrário do que acontece no estrangeiro apesar de ter crescido fortemente a nível internacional, trazendo ao Porto anualmente muitas centenas de estrangeiros, tal a cobertura e referências positivas que lhe são feitas pelos Media. Apesar do festival ser também um dos pilares para os epítetos, quase consecutivos nos últimos anos, para esta cidade ser considerada a mais, ou das mais atrativas, a nível de turismo, tal não parece ser suficiente para obter apoios institucionais ou outros para ampliar a sua ação, publicitando o certame e a cidade, nas agências internacionais de turismo, nas revistas de avião, nos mercados internacionais do filme ou até nas revistas especializadas e dirigidas aos meios profissionais de cinema como o Variety, a Screen International, Hollywood Report e outras. Não vou aqui alargar-me demasiadamente dado que assim até poderia “ensinar” a realizar um verdadeiro festival!!!
Claro que o Fantasporto continua a ser um centro de cinefilia forte e tal é o mais importante. Mas as presenças dos realizadores, atores e atrizes ou elementos das equipas técnicas e artísticas dos filmes que anualmente atingem números superiores à centena é bom, mas não cumpre com as necessidades para catapultar cada vez mais o Porto de forma que este atraia as grandes estrelas do cinema e por inerência os mais importantes media Internacionais, os quais divulgariam verdadeiramente a cidade e o País. É pena que nem sequer o Turismo de Portugal há cerca de 7 anos tenha deixado de suportar este tipo de custo, e a resposta é no mínimo estranha e surrealista: o Porto não tem Casino! Isto é, só podem apoiar eventos em cidades que tenham casino!!! Tal parece só acontecer há 7 anos…enfim ponderamos fazer o Fantasporto em Chaves…
ESPÓLIOS IMPORTANTES QUE SE ESTÃO A PERDER
Qual é a importância dada pelos responsáveis pela cultura deste país aos espólios, em particular aqui, ao dos festivais de cinema? Quem poderá garantir a manutenção dos grandes, e seguramente valiosos espólios de festivais que, como o Fantasporto há 43 anos se constroem?
Porque é que não há entidades, públicas ou privadas, ou então mecenas que tenham iniciativas semelhantes às do “empresário” inglês referido numa das minhas últimas newsletters, cuja notícia em parte repito:
“O credível jornal “Times” do último Domingo trazia uma notícia inédita e bastante curiosa. Um investidor tinha adquirido a denominação e o espólio do Festival Internacional de Cinema de Edimburgo, certame, dos mais importantes da Europa, o qual não se realizava desde o início da Pandemia. O investidor manteve o responsável pelo certame e garantiu-lhe a escolha da equipa” (…)
Assim tudo se perderá…nada se transformará em algo de serviço público tal como pequenos museus.
Bem, de qualquer forma, com o pequeno orçamento que possuímos lá vamos continuando a contruir o nosso espólio e a realizar um grande festival de cinema, evento, com um ambiente único, que vê o público aplaudir todas as quase 100 sessões de cinema que anualmente se realizam na presença da maioria dos realizadores dos filmes apresentado a concurso, bem como um conjunto alargado de atividades ligadas à literatura, música, ciência, artes plásticas e workshops com diversas temáticas.
Mário Dorminsky