“Pensei, inicialmente, que este trabalho pudesse servir os meus propósitos, realizar os meus caprichos e a ideia de ser capaz de consolidar a interpretação de todos os instrumentos, produção e arranjos, mas nunca julguei que viesse a ser um trabalho tão ‘mainstream’ e reconhecido pelo público em geral”, contou Tozé Santos, em declarações à Viva, acrescentando que, até ao momento, a experiência a solo está a ser “excelente”. “Via isto como uma investida ‘low-profile’, eu queria e pronto! Agora vejo ter realçado a minha carreira, permitindo-lhe mais um passo para o sucesso, sem querer ser pretensioso”, salientou.
“Homem dos 7 Instrumentos”, um projeto “transparente e orgânico”
Nesta nova etapa, o vocalista dos Perfume assume o pseudónimo de “Homem dos 7 Instrumentos”, numa espécie de coincidência de ocorrências que conduziram o cantor ao referido algarismo. “Parece que tudo vai dar ao sete”, notou, mencionando, por exemplo, a criação dos Perfume, “a 07/07/07”. Além disso, apontou, o termo é utilizado, “na gíria, para quem toca mais do que um instrumento ou, de forma mais transversal, para quando alguém é multifacetado e tem mais do que um ofício. No meu caso concreto, também por ser o meu sétimo disco de estúdio na carreira e… já reparou que esta é a sétima pergunta?”, acrescentou Tozé Santos, entre risos.
Para o cantor, o novo projeto representa “uma aventura” rumo a tudo o que é “autêntico”. “Apesar de ter estado a fazer os arranjos e a composição em estúdio durante cerca de um ano, as gravações finais de todos os instrumentos e vozes foram ao primeiro take”, revelou, destacando que lutou para que o resultado final fosse “transparente, orgânico” e capaz de traduzir a sua “verdadeira essência e valências como interprete e músico”.
Escrito e gravado por Tozé Santos, o disco “Dissertação sobre tudo e coisa nenhuma” foi elaborado ao longo de um período “moroso, mas não penoso”. “Eu estava habituado aos processos de gravação sendo parte integrante de uma banda. Não tinha de gravar tudo ‘de fio a pavio’, como neste caso concreto”, explicou, referindo que o atual trabalho envolveu “várias jornadas estanques”, durante as quais, por vezes, já tinha temas em estado avançado de produção, “com baterias, baixos, guitarras e pianos gravados”, e percebia que a direção da canção deveria ser diferente, repetindo todo o processo. Já com o disco lançado e a pouco tempo da apresentação do respetivo livro, o cantor confessa sentir “um gozo desconforme” ao recordar os momentos do desenvolvimento “desta cruzada”.
Uma reflexão musical sobre a vida
Apesar do receio inicial de que associassem o novo álbum ao trabalho dos Perfume, o “Homem dos 7 Instrumentos” considera que “o público tem reagido muitíssimo bem”. “Tive medo que confundissem esta obra com a carreira dos Perfume, mas não há nada a comparar. São de uma disparidade enorme, embora exista a inevitável semelhança na forma de composição e voz, até porque o elemento é comutativo”, descreveu, salientando que, ainda assim, as pessoas entenderam a razão que o levou a apostar noutro álbum e estão “ávidas para ver o compêndio”.
A vida foi, no fundo, a grande fonte de inspiração de Tozé Santos na concretização do disco “Dissertação sobre tudo e coisa nenhuma”. “Eu já tinha começado a pensar nisto há dez anos. O tema ‘Pudera’, que poderá ser o próximo single, é desse ano, precisamente. O fio condutor que faz a confluência de toda a obra é a vida”, apontou, esclarecendo tratar-se de uma viagem pelas questões colocadas pelo ser humano ao longo da sua existência. “O que é a vida? Porque é que vivemos? Este nosso procedimento está correto? Poder-se-ia ter feito mais ou de forma diferente? Qual a verdadeira razão da minha existência? É a opinião sobre estas questões que eu profiro nas canções, numa visão muito própria, singular e sui generis”, caracterizou.
O livro, que será lançado em outubro, incide na mesma temática, revelando histórias do passado do cantor, as suas crenças e descrenças, a perspetiva sobre temas religiosos e espiritualidade e algumas mensagens com considerações pessoais. O filme consistirá num conjunto de clips de vídeo nos quais Tozé Santos apresenta, “numa visão muito cinemática”, a interpretação das canções pelos vários instrumentos.
“3D”, um “projeto arrojado” dos Perfume
Ação é palavra que não falta na agenda do músico nos próximos tempos, nomeadamente devido à produção e edição de um trabalho dos Perfume. “Chama-se ‘3D’ de terceiro disco, mas também porque toda a envolvente é nesta tecnologia”, explicou à Viva, informando que a obra “trará um par de óculos estereoscópicos em papel com uma lente azul e outra vermelha, que permite ver o encarte do próprio disco, as fotos, os vídeos contidos no DVD de extras, o website, as projeções ao vivo, em suma, tudo o que tiver a ver com este novo lançamento”. Mas o título dado ao trabalho está também associado ao facto de integrar três discos – “o Eixo X, a lançar em janeiro de 2013, o Y em 2014 e o Z, em 2015”.
Por outro lado, o próximo ano ficará ainda marcado pelo lançamento de “Adenda”, do “Homem dos 7 Instrumentos”, assim como pelo regresso dos “Zeca Sempre”, projeto de tributo a Zeca Afonso que junta Tozé Santos, Vítor Silva, Olavo Bilac e Nuno Guerreiro.
Crescer a “respirar vários ares”
Apesar de admitir que chega a ser difícil colocar em prática todas as ideias que vão surgindo, o vocalista dos Perfume não pretende limitar a sua carreira a um só género, defendendo a importância de “respirar vários ares”. “Continuarei a procurar afirmar-me pela diferenciação e por trejeitos de novidade. Foram esses laivos que me foram permitindo ser rápido e objetivo na obtenção das metas traçadas”, observou, confessando ainda o gosto pela conjugação daquilo que é “o melhor de dois mundos”. “Adoro os grande palcos, que normalmente piso com os Perfume e os Zeca Sempre, mas sou fiel às origens das salas intimistas, é aí que situo o projeto Homem dos 7 Instrumentos, com ou sem Trupe!”, concluiu.
Mariana Albuquerque
