“Na verdade, todos somos imaginarius”. É com esta frase-chave, voltada para um reforçado sentido de coletivo, que se ultimam os pormenores para a 14.ª edição do Festival Internacional de Artes de Rua de Santa Maria da Feira – Imaginarius, que se vai realizar nos dias 23 e 24 de maio. Democratizar o acesso à cultura e afirmar a cidade como a “capital das artes de rua em Portugal”, são, segundo o vereador da Cultura da autarquia, Gil Ferreira, as grandes metas do evento, que assumiu o desafio de, com um novo fôlego, recuperar a grandiosidade de edições anteriores. Assim, se, em festivais passados, foi notada a ausência de algumas grandes companhias, agora, a organização do MEO Imaginarius (nova designação da mostra artística, numa referência clara ao seu principal patrocinador) está decidida a contornar a crise. A prová-lo estão as 139 intervenções de rua, protagonizadas por 502 artistas de nove países, que prometem contagiar a cidade no próximo mês.
Repensar a sociedade moderna
Durante a apresentação do programa do festival – realizada recentemente – Gil Ferreira adiantou que a edição de 2014 partirá de uma “dicotomia ente construção e desconstrução”, uma vez que as 45 companhias, oriundas de países como França, Holanda, Alemanha, Reino Unido, Chile e Sérvia, desafiarão o público a repensar a sociedade moderna, questionando dogmas e preconceitos. “Ponderando a condição humana e vincando algumas questões sociológicas, o Imaginarius funde linhas construtivas e desconstrutivas na definição do seu eixo central de programação, atingindo uma quase guerrilha urbana, plena de emoções”, pode ler-se nas linhas programáticas do evento.
Ao longo dos dois dias, a cidade receberá 35 espetáculos e projetos distintos, 13 dos quais em estreia absoluta e 14 em estreia nacional. Teatro, teatro físico, novo circo, música, instalação e multimédia são algumas das formas de expressão abrangidas por essa oferta, que abordará temas como o poder da imprensa, a falência dos sistemas financeiros e as expectativas de emprego e natalidade. Para o vereador, “o festival vale por todo o teor estético e artístico do programa”, mas também pelo “conjunto de reflexões que se propõe à cidade”.
De acordo com Bruno Costa, responsável pela direção artística do Meo Imaginarius através da Bússola – Plataforma para o Desenvolvimento Artístico e Cultural, há dois “macro-espetáculos” em destaque este ano. Um deles, intitulado “BoO – Casa Vostra”, chegará a Santa Maria da Feira em estreia nacional, pela companhia francesa CirkVOST, abordando “o ritmo, os fluxos e
sobretudo as relações humanas no interior de uma sociedade fechada em si mesma”. Tudo decorre numa estrutura cénica composta por 368 peças de bamboo, a 15 metros de altura, remetendo para “as fronteiras dessa sociedade restrita”. “Ao longo de 60 minutos as sensações transbordarão da imensidão visual, tocando a euforia, a indiferença, o riso e tantas outras perceções de uma realidade paralela”, descreve a programação. A peça será apresentada nos dias 23 e 24 de maio, às 23h00, na Casa do Moinho.
Outra proposta em destaque é a de “Quo”, descrita por Bruno Costa como “um espetáculo intermédio que funde videomapping com música ao vivo”. Esta “viagem idílica ao mundo imaginário que habita por detrás da realidade” vai ser realizada nos dois dias, pelas 00h10, na Igreja Matriz, envolvendo a Orquestra Sinfónica de Jovens da Feira, a Sinergias – Creative Media, o CIRAC, o Ballet Contemporâneo do Norte e a já referida Bússola.
Em estreia nacional, o parque de estacionamento da Avenida Belchior Cardoso da Costa receberá “Trap”, performance da companhia De Jongens, durante a qual duas personagens “tentam subir ao topo”, estabelecendo uma “relação entre a condição humana e as adversidades que afetam qualquer conquista”. “Num conceito recheado de humor e surpresas, as desventuras sucedem-se rumo ao objetivo central de qualquer um de nós: o sucesso”, revela a organização.
As companhias locais também ganham, este ano, uma nova vida, com diversos projetos que concetualizam uma ligação intrínseca da comunidade à criação artística. A geografia do movimento urbano ganha forma com a linguagem dos All About Dance. O Projeto EZ invade as ruas com uma nova criação que parte da construção cada vez mais plástica da sociedade contemporânea. As Marionetas da Feira e o Projeto Alquimia, por sua vez, prometem experimentar uma nova linguagem no domínio da manipulação de marionetas.
Entre os desafios propostos pelo evento estão ainda workshops, residências artísticas, um mercado de rua, gastronomia criativa e o programa paralelo “Mais Imaginarius”, aberto a propostas arrojadas de jovens criadores que abordam o espaço público nas suas mais diversas perceções, testando formatos e modelos, rumo à construção de novas identidades artísticas. “Twightwire Duo”, dos italianos Autoportante, “La Risa es Bella”, da companhia espanhola Cia Circotito, “It only feels real when it’s gone”, da portuguesa Joana Saraiva, e “The Beat Goes On”, performance dos “estranhos palhaços” italianos The Beat Brothers, são alguns dos espetáculos confirmados nesta secção do festival.
Imaginarius Infantil: nova forma de ver e sentir a realidade
Pela primeira vez em 14 edições, o MEO Imaginarius terá uma programação específica dedicada ao público infantil, com temáticas, horários e espaços ajustados a esta faixa etária. Trata-se de um projeto de “formação de novos públicos, que estimulará nas crianças a vontade de fruir, pensar e intervir no espaço público”. Entre as propostas dirigidas aos mais pequenos estão “1 voo sobre a imaginação”, referente à pintura de um mural com base no estudo de imagens e histórias do universo cinematográfico infantil; “Os Pássaros”, espetáculo que explora o ciclo de vida destes animais, e ainda uma visita à estrutura de bamboo criada no âmbito da peça da companhia de circo contemporâneo CirkVOST.
Texto: Mariana Albuquerque | Fotos: http://www.imaginarius.pt/index.php
