Logo no arranque da conversa, moderada por Júlio Magalhães, o atual líder da autarquia, Guilherme Pinto, começou por explicar que sentiu necessidade de se candidatar às próximas eleições, desta vez como independente, por considerar que existe “uma obra que é necessário continuar” no concelho. De seguida, o social-democrata Pedro Vinha da Costa, referiu que o PSD não vai a eleições coligado com o CDS, como tem acontecido, “simplesmente” pelo facto de os dois partidos terem entendido que “cada um deveria seguir o seu caminho”. De resto, defendeu, “depois de 37 anos de uma gestão do PS em Matosinhos, é já tempo de mudar”.
O número de desempregados do município que, segundo informações da base de dados Pordata, aumentou, nos últimos dez anos, de 4,8% para 9,8%, foi um dos temas que gerou mais discórdia ao longo das duas horas de discussão. Criticado pelo socialista António Parada por apenas “falar em milhões quando há pessoas a passar fome”, Guilherme Pinto, que se desfiliou do PS para avançar como independente, sublinhou que Matosinhos é o concelho que melhor tem resistido à crise nacional. O autarca realçou ainda que conseguiu reduzir “mil desempregados no último ano” e que espera “reduzir mais dois mil nos próximos seis meses”, na sequência de um investimento de 1700 milhões de euros em diversos equipamentos que estão, neste momento, em fase de conclusão, como o pólo do Mar da Universidade do Porto, o Centro de Investigação e Aeronáutica (CEIA) e a Porto Business School. “Matosinhos está numa situação única, temos uma estratégia económica bem sucedida. Concluímos tudo em matéria de escolas, equipamentos desportivos e sociais. E a câmara tem uma saúde de ferro. Não devemos nem um euro a ninguém a curto prazo”, assegurou.
Ainda assim, António Parada não se mostrou convencido com a visão otimista de Guilherme Pinto, recordando que, “a cada dia que passa, há aqui mais 13 desempregados”. Para além disso, negou o investimento apresentado pelo presidente da autarquia, defendendo que “é privado e não público”. “Nós temos é de falar do emprego e dos problemas dos cidadãos porque é preciso combater o afastamento das pessoas em relação aos partidos e à política. Eu faço atendimento há oito anos na junta de freguesia e sinto que há desespero nas famílias”, realçou o socialista. O candidato aproveitou, então, para apresentar algumas das propostas do partido, assegurando que não permitirá a abertura de mais nenhum hipermercado em Matosinhos “que vá asfixiar ainda mais o mercado tradicional” e que pretende criar uma estrutura móvel que vá ao encontro dos pequenos e médios empresários para os aconselhar em relação à apresentação da candidatura de projetos a financiamento europeu.
Pedro Vinha da Costa, por sua vez, reconheceu que o problema do desemprego “é nacional”, mas que parte de uma questão local – a desindustrialização levada a cabo no concelho nas últimas três décadas. “Matosinhos não tem, por exemplo, um parque industrial e isso faz com que não tenha ofertas de emprego”, referiu. Do lado da CDU, José Pedro Rodrigues destacou o desemprego jovem, que aumentou 62% entre 2010 e 2012, sublinhando que a média nacional se fica nos 31%. “É a prova de que a Câmara prescindiu de uma estratégia para o desenvolvimento”, lamentou. O comunista criticou a Esquerda, mas não poupou a Direita, acusando o PSD de não cumprir os mandatos até ao fim. Manuel Maio, do CDS, voltou a centrar atenções no atual autarca local, acusando-o de não ter criado os 16 mil postos de trabalho que prometeu. Já Orlando Cruz, do Partido Trabalhista Português (PTP), serviu-se da ironia. “Tenho aqui um lenço para limpar as lágrimas do PS, PSD e CDS, que dizem estar preocupados com o desemprego, quando são os seus carrascos”, sublinhou, criticando também as “campanhas extravagantes” que os candidatos têm no terreno.
A polémica Brito Capelo
A intervenção de Orlando Cruz viria a lançar para a discussão outro tema que tem gerado discórdia entre os candidatos autárquicos: a questão do abandono em que se encontra a Rua Brito Capelo. O social-democrata Pedro Vinha da Costa assumiu, então, a palavra, recordando que, “em março de 2008, Guilherme Pinto apresentou um projeto” para aquela rua que viria a revelar-se “uma treta”. “Quem conhece Matosinhos sabe que aquilo foi uma treta, mas o presidente fala como se não tivesse tipo responsabilidade”, defendeu o candidato do PSD, assegurando que, há quatro anos, o atual autarca “fez 173 promessas”, acabando por cumprir “apenas três”. “Na habitação estão por cumprir: há bairros da câmara onde vivem pessoas em condições proibidas por lei. Na área do turismo, prometeu cinco hotéis em Matosinhos. Prometeu a requalificação da Docapesca, captar investimento ligado às atividades náuticas e não cumpriu”, enumerou.
Mais centrado na apresentação das ideias socialistas para o município, “porque as pessoas querem é conhecer as propostas”, António Parada retomou o discurso, sustentando que o PS quer “proteger o pequeno comércio; defender as Pequenas e Médias Empresas, criar três pólos industriais” e ainda apostar num “equipamento de apoio aos lavradores”. José Pedro Rodrigues, da CDU, frisou a importância de desenvolver uma rede itinerante de cultura e também de fortalecer a receção dos turistas, de forma a fixá-los no concelho.
Sondagem Porto Canal mantém Guilherme Pinto no poder
No final do debate – descrito pelo atual presidente da Câmara de Matosinhos como “um contra seis” – o Porto Canal (único meio de comunicação televisivo que, em parceria com o Instituto Politécnico do Porto, se dispôs a organizar debates autárquicos consoante as regras da Comissão Nacional de Eleições, ou seja, com a presença de todos os candidatos) apresentou uma sondagem que dá a vitória a Guilherme Pinto, com 36,2% das intenções de voto. O socialista António Parada surge na segunda posição, com 24,9%, e Pedro Vinha da Costa, do PSD, em terceiro, com 10%.