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Marionetas da Feira

Marionetas da Feira
Tradicionalmente movidas por cordéis, as marionetas, que assumem as formas, as cores e os sentimentos de uma pessoa oculta, são muitas vezes consideradas a extensão do próprio corpo do artista. São pequenos pedaços de vida que arrancam reações do público de uma forma talvez mais intensa do que um ator. É com a paixão pela arte que lhe sai das mãos que Rui Sousa, diretor da companhia das Marionetas da Feira, descreve o espetáculo ‘r/e/t/a/l/h/o/s’, que foi apresentado no dia 17 no teatro Faialense, na cidade da Horta.

marionetas2“É um conjunto de cenas de teatro de marionetas que representam emoções e sentimentos”, descreveu, sublinhando que “os tons de cores neutros e as imagens estilizadas das marionetas conduzem o público a um auto-retrato”, levando-o a rever-se na “emoção” de determinados momentos. “São cenas de alegria, comédia, drama, carinho, alguma saudade, e nostalgia”, adiantou à Viva. Ainda no mês de março, as Marionetas da Feira apresentarão o espetáculo no Fórum Cultural de Alcochete e no PERIFERIAS – Festival Internacional de Artes Performativas de Sintra.

Uma companhia com 12 anos
A história das Marionetas da Feira nasceu há doze anos, escrita apenas por duas mãos – as de Rui Sousa, que acumulava todas as marionetas3funções, “de diretor a marionetista, passando pela produção dos espetáculos e pela confeção das marionetas”. “A companhia começou por ser um ‘one man show’”, contou, explicando que, “com o aumento da capacidade de resposta, a equipa foi alargada Alberto Castelo, responsável pela produção, manegement/agenciamento, apoiado por Lino Sousa nas estruturas cénicas e soluções de mecânica e por Telma Silva, do Jardim da Celeste, nas costuras, têxteis e figurinos.

“O gajo dos fios”
A companhia de Rui Sousa debruçou-se sobretudo sobre as marionetas de fios. “No princípio, e até meio da história das Marionetas da Feira, trabalhávamos única e exclusivamente com marionetas de fios. Eu era conhecido como ‘o gajo dos fios’”, revelou o marionetista. Atualmente, os artistas continuam a apresentar espetáculos clássicos que utilizam a referida técnica, embora comecem já a ser conotados como “divulgadores do Teatro Tradicional D. Roberto e percursores de espetáculos mais modernos de variadas técnicas em conjunto”.

As marionetas de varão e os fantoches também já fazem parte das performances da companhia, em resposta a desafios lançados aos artistas. “Com o passar dos anos, as exigências foram sendo cada vez maiores, o que nos foi obrigando a ser o que hoje somos: uma companhia reconhecida tanto em Portugal, como na Europa e no mundo”, admitiu o diretor do grupo, com orgulho.

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marionetas4A importância dos “surtos de inspiração”
A preparação de um novo trabalho está, segundo Rui Sousa, dependente de diversos fatores. “Um espetáculo de marionetas de fios tem um período de produção mais moroso do que o de fantoches”, apontou, explicando que a técnica da confeção das marionetas, as estruturas e a iluminação requerem “mais tempo de pesquisa e experimentação”. “Por vezes, passam-se dois anos e não conseguimos solucionar alguns problemas para colocar um espetáculo em cena; noutros casos, num mês, conseguimos ter um surto de criação e inspiração e colocar tudo em papel pronto a ser criado”, descreveu, em declarações à Viva. Ainda assim, regra geral, uma performance das Marionetas da Feira precisa sempre de um período de três a seis meses para ser produzido.

As fontes de inspiração, essas, são ainda mais diversificadas. “Em espetáculos clássicos inspiro-me em marionetas já existentes e bastante antigas, às quais posso dar nova roupagem e criar um upgrade na manipulação”, referiu Rui Sousa, acrescentando que, para o ‘r/e/t/a/l/h/o/s’, “as marionetas foram concebidas sem qualquer ideia padrão. “Basicamente, cada marioneta foi criada de um surto de inspiração, muita simplicidade técnica e muita objetividade de movimentos. Criei-as a partir da ideia do movimento que queria que fizessem e com o intuito de conseguir um aspeto neutro e limpo”, descreveu, sublinhando estar cientificamente provado que as pessoas conseguem ver-se ou ver feições familiares nas marionetas que possuem poucos ou nenhuns traços faciais.

marionetas1Próximos espetáculos
Depois da visita ao Faial, as Marionetas da Feira vão apresentar, a 24 de março, no Encontro Nacional de Teatro D. Roberto, em Montemor-o-Novo, as peças “o Barbeiro” e “Tourada à Portuguesa”, também reproduzidas no Porto na altura da comemoração do Dia Nacional dos Centros Históricos, a 31 deste mês.

Tal como adiantou Rui Sousa, os dois trabalhos foram-lhe ensinados pelo seu “mestre e amigo” José Gil. O primeiro deles conta a história do herói D. Roberto que, “no dia do seu casamento, vai ao Barbeiro fazer a barba e sente-se injustiçado pelo preço que este lhe leva pelo serviço”, desencadeando-se “uma série de cenas de justiça popular”. No espetáculo “Tourada à Portuguesa” destaca-se o herói Tourinho, “que vence tudo e todos, levando os forcados Elvis e Artur, o bandarilheiro Chibanga e o Cavaleiro ao desespero por fazer com que tudo lhes corra mal”.

Uma arte que conquista “grandes ovações”
Pela experiência que já acumulou no terreno, Rui Sousa defende que o povo português, “muito saudosista”, não esquece a arte centenária que envolve as marionetas. “Felizmente todos crescemos a ver estes espetáculos”, admitiu, reconhecendo que as atuações da companhia recebem “grandes ovações, palavras de apoio e testemunhos”. “É incrível podermos ver crianças a rir de felicidade e idosos a rir de lágrima no olho”, confessou, salientando a magia associada a esse momentos.

Mariana Albuquerque

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