PUB
Prémio Literatura Infantil Pingo Doce

Manuais Escolares

Manuais Escolares

Na luta pela reutilização

A chegada do mês de setembro é quase sempre sinónimo de uma grande ginástica financeira para as famílias com filhos em idade escolar. Assim, num momento em que a tão falada crise se instalou na rotina dos portugueses, é cada vez maior o recurso a determinadas estratégias criadas para diminuir um pouco a fatura a pagar, anualmente, pelos manuais escolares. De acordo com uma análise efetuada pela Lusa, em média, é preciso desembolsar cerca de 30 euros para adquirir os livros do 1.º ciclo, quantia que ascende aos 150 euros no 2.º ciclo, 220 no terceiro e quase 300 no ensino secundário. E se é verdade que a maioria dos cidadãos continua a preferir comprar livros novos (segundo conclusões do Observador Cetelem), também está provado que cada vez mais famílias procuram outras soluções, nomeadamente pedir os manuais emprestados a amigos ou comprá-los em segunda mão. É esta busca de alternativas que está na origem do sucesso de projetos como o Troika de Livros e o Reutilizar – Movimento pela Reutilização dos Livros Escolares.

livros_escolares2Criado em 2013, o Troika de Livros nasceu por iniciativa do docente António Vieira de Castro, do Instituto Superior de Engenharia do Porto (ISEP), que desafiou Pedro Carvalho, um dos seus alunos da cadeira de PESTI (Projeto de Estágio) da licenciatura de Engenharia Informática a executar uma plataforma na qual fosse possível doar, vender, trocar e comprar manuais. Estavam, assim, lançadas as bases do www.troikadelivros.com/, cujo feedback foi “fantástico”. “O balanço tem sido muito positivo”, referiu Pedro Carvalho, realçando que o número de visualizações, utilizadores e anúncios colocados tem crescido exponencialmente. “Acreditamos que este projeto, para além de fomentar a reutilização de livros, contribuindo para um mundo mais verde, e de contribuir para a literacia, ajuda todas as famílias a comprar livros e manuais escolares a preços baixos”, acrescentou, alertando que alguns podem até ser oferecidos. O projeto desenvolvido no ISEP tem sido, portanto, encarado como “uma solução” para muitos cidadãos, dando uma nova vida aos livros, promovendo a partilha e a reutilização e despertando uma “consciência ecológica”.

Com novas funcionalidades e um design renovado, o site tem registado uma evolução “bastante positiva”, com os seus dinamizadores sempre atentos às sugestões que chegam dos utilizadores. E naturalmente que, a pouco tempo de as salas de aula se voltarem a encher de alunos, os livros escolares “são claramente os mais procurados”, num projeto que decidiu basear o seu funcionamento na simplicidade. Para usufruirem de todas as funcionalidades, os utilizadores terão apenas de efetuar um registo. Depois, os interessados na venda de livros precisam apenas de inserir os seus dados e indicar o preço que pretendem; aqueles que quiserem comprar determinada obra podem fazê-lo facilmente, entrando em contacto com o respetivo vendedor. A dinânica da plataforma, “sempre em constante evolução”, é um dos aspetos mais apreciados pelos utilizadores, segundo adiantou Pedro Carvalho. Entre os objetivos futuros da equipa está, por isso, a manutenção da aposta em “funcionalidades úteis a todas as famílias, com uma grande vertente, cultural, social e económica”.

PUBLICIDADE - CONTINUE A LEITURA A SEGUIR
livros_escolares3Entregar e procurar livros escolares gratuitos em todas as escolas

E foi com igual entusiasmo que o Porto aplaudiu, em 2011, a abertura do primeiro Banco de Livros (BL) nacional, ação entretanto replicada um pouco por todo o país, dando origem ao Reutilizar – Movimento pela Reutilização dos Livros Escolares. Atualmente, a iniciativa integra já 190 bancos, espalhados pelos diferentes distritos portugueses. “Estamos presentes em cerca de um terço dos municípios do país e muitos são os concelhos que têm projetos semelhantes. Esta é uma boa medida do grande sucesso do movimento reutilizar.org”, frisou Henrique Cunha, fundador do projeto. Ainda assim, defendeu, ainda há um longo caminho a percorrer. “O objetivo único do movimento é tornar a reutilização universal, ou seja, que em todas as escolas seja possível entregar e procurar livros escolares gratuitamente. Esta meta, infelizmente, ainda não está atingida”, lamentou.

Só no ano passado, o BL da Avenida da Boavista recebeu cerca de 120 mil manuais, mas uma grande parte deles não foi reutilizada. “As famílias portuguesas, por educação e respeito pelos livros, não os deitam ao lixo. Acontece que, durante os últimos 30 anos, o sistema promoveu a compra de novos manuais em prejuízo da sua reutilização. Quando uma iniciativa como esta aparece, com alguma credibilidade, as famílias entregam os livros que foram guardando todos estes anos na esperança de um dia lhes dar uso”, justificou Henrique Cunha. Por outro lado, o criador do Reutilizar sublinhou que continuam a fazer-se “leituras muito criativas” da lei que prevê a adoção dos livros por um período de seis anos. Desta forma, perante as sucessivas alterações das metas curriculares, muitos dos manuais entregues nos bancos, às vezes “com apenas um ou dois anos, deixam de ser reutilizáveis e têm como destino a reciclagem”. Os livros do 8.º e 11.º ano, por exemplo, foram adotados, este ano, pela primeira vez, razão pela qual não foram encontrados pelas famílias nos bancos de manuais.

“Problema de irracionalidade que, na Europa, é quase exclusivo a Portugal”

Ainda de acordo com Henrique Cunha, os BL surgem como uma resposta da comunidade “a um problema de irracionalidade que, na Europa, é quase exclusivo de Portugal (só encontra paralelo em países subdesenvolvidos) – o facto de as escolas não promoverem a reutilização dos livros escolares entre os seus alunos”. Neste contexto – acrescentou – aquilo que os estabelecimentos de ensino “não fazem dentro de portas e de forma organizada e sistemática está a ser feito por cidadãos voluntários que usam as suas casas e empresas para alojar estes bancos, muitas vezes com grandes dificuldades”. E para o dinamizador do Reutilizar, na luta pelos interesses dos cidadãos estão também as juntas, autarquias e instituições que se têm vindo a associar ao movimento, alimentando “a esperança das famílias que não têm outra solução para adquirir os manuais”.

Texto: Mariana Albuquerque    |    Fotos: Troika de Livros/DR

PUBLICIDADE

PUB
Prémio Literatura Infantil Pingo Doce