Tem como território âncora o espaço constituído pelos antigos armazéns de mercadoria da Refer, junto à desativada linha 1 na Estação de S. Bento, e o parque de estacionamento da rua da Madeira, e promete dar um “abanão” cultural à cidade Invicta. O projeto Locomotiva, promovido pela autarquia portuense (através da PortoLazer) em parceria com a Refer, promete, até junho deste ano, fazer “paragem em todas as estações e apeadeiros transversais do Porto criativo, dinâmico e ambicioso que existe no Centro Histórico”. A iniciativa arrancou na reta final de 2014 e visa revitalizar aquela área com “novas dinâmicas, negócios” e projetos culturais. Convocar todos os criativos da cidade para animar um local que se pretende transformar num novo polo de centralidade é, assim, a grande meta do projeto, cofinanciado em 800 mil euros pelo “ON.2 – O Novo Norte”.
A “Metamorfose” da ruína
Uma das ações em curso – que será inaugurada no próximo dia 17 – já começa a ser visível, em jeito de provocação, na Avenida da Ponte, oficialmente designada de D. Afonso Henriques. Pela ação da dupla criativa FAHR 021.3, “uma malha metálica, desenvolvida digitalmente, encontra o seu lado físico na irregularidade imposta pelas mãos humanas”, em modo “Metamorfose”. Este é o nome da instalação que, não tapando a ruína, lhe confere uma “nova textura e leitura, acrescentando-lhe irregularidade e ampliando, paradoxalmente, a sua visibilidade”. “Não, a intenção não é tapar o seu aspeto grotesco e desleixado, mas antes dignificá-lo”, explicam os próprios artistas.
“Tanto que o nosso olhar não se consiga desviar do que se esconde por detrás do que já foi e do que podia ter sido”, acrescentam, reiterando que a metamorfose “só desta forma” faz sentido.
Todos convocados a… “Espigar”
Entretanto, está já aberta a convocatória a todos aqueles que, ao longo de uma semana, quiserem ser programadores culturais “daquela que será a nova praça do Centro do Porto: a Rua da Madeira”. Sob o mote “Espigar”, o desafio estará recetivo a propostas até ao dia 2 de março, garantindo sete mil euros de financiamento a cada uma das ideias vencedoras. Os projetos terão, depois, de ser implementados entre os dias 13 de abril e 10 de maio. Segundo esclarece a organização do “Locomotiva”, o público-alvo desta viagem são os criativos, as associações e entidades culturais com ideias inovadoras referentes a qualquer disciplina artística. O único requisito – explicou – é que lhes imprimam “um ritmo de ocupação que estabeleça um diálogo com os ciclos diários e semanais da envolvente: desde as manhãs de chegada a São Bento, aos almoços dos restaurantes da Rua da Madeira, à música de início de tarde que ecoa na Rua Cimo de Vila”.
Haverá, assim, espaço para iniciativas nas mais diversas categorias: património, gastronomia, teatro, dança, design, arquitetura, fotografia, música ou cinema. A seleção será feita mediante um conjunto de critérios que passam pela “sensibilidade demonstrada para ler e dialogar com o lugar”, a “originalidade do conjunto multidisciplinar da programação”, a “atratividade das propostas de mediação orientada de públicos” e a “razoabilidade da produção e orçamento”. As sugestões podem ser enviadas para o endereço [email protected].
Tal como frisou o presidente da autarquia, Rui Moreira, na apresentação oficial do projeto, numa primeira fase o “cais de embarque” do “Locomotiva” será preparado, transformando-se, até março, numa zona de fruição, numa praça, num espaço “para ser vivido”. Haverá um tempo de programação promovida pela autarquia e depois, acrescentou, caberá ao “mercado e aos agentes económicos” agarrarem a ideia.
“Redescobrir espaços”
Nas próximas semanas, o projeto conhecerá novos desenvolvimentos. A partir de fevereiro começarão a ser organizadas exposições e iniciativas de residência artistica, nomeadamente nos armazéns de São bento e espaço envolvente, com curadoria de Jesse James. “Não estamos em tempo de construir estações de São Bento. Estamos em tempo de redescobrir espaços”, sublinhou Rui Moreira. “Não vão nascer aqui escadas rolantes ou corredores. Vai nascer algo que acredito que num futuro próximo fará de São Bento um local de referência da vida cultural do Porto”, acrescentou Rui Lopes Loureiro, presidente da Refer. O “Locomotiva” tem como parceiros de viagem, por exemplo, a companhia ACE-Teatro do Bolhão, o Museu de Marionetas do Porto, a Erva Daninha, a PELE-Espaço de Contacto Social e Cultural, o FITEI e o Circulando.
Texto: Mariana Albuquerque | Fotos: “Metamorfose”
Ficha de Inscrição “Espigar”: http://www.portolazer.pt/assets/misc/img/em_cartaz/Ficha%20de%20Inscri%C3%A7ao.pdf