PUB
PD-Bairro Feliz

“LIFEisGAME”

“LIFEisGAME”

O jogo permite ajudar indivíduos com PEA – que partilham sintomas similares, tais como problemas de interação social – a desenvolverem as suas capacidades comunicativas de um modo divertido e sem estarem submetidos a qualquer tipo de pressão. Para isso, são desafiados a concentrarem-se em personagens virtuais, analisando, em tempo real, as respetivas expressões faciais.

O projeto, que envolve estudiosos de diferentes locais – Portugal, EUA, Índia, Argentina, Turquia, Espanha e Reino Unido – foi idealizado no momento em que a sua investigadora principal, Verónica Orvalho, viajou até à Califórnia para participar numa palestra durante a qual conheceu Pam Davis, docente da Universidade de Stanford. “Começámos, nessa altura, a discutir a possibilidade de ensinar a reconhecer expressões faciais através do desenho”, afirmou a investigadora, em declarações à Viva. No regresso ao Porto, a responsável teve conhecimento de que o Programa UT Austin | Portugal tinha aberto concurso para o financiamento de projetos de investigação. Havia chegado o momento de “dar vida” ao “LIFEisGAME”, através de um trabalho articulado entre profissionais das áreas da psicologia, reconhecimento facial em visão computacional, animação de personagens em computação gráfica e Interação Humano-Computador. “Juntos, moldámos o projeto e iniciámos esta viagem emocionante”, referiu a professora.

ligDefinir e redefinir expressões faciais através do desenho

A aplicação interativa foi desenvolvida durante três anos, depois de o financiamento ter sido assegurado por diferentes entidades, sendo uma delas a Microsoft Portugal. Em parceria com o estudante de pós-graduação José Miranda, foi criada uma nova interface de sketching (método popular de criar, deformar ou controlar modelos 3D) que dá a possibilidade ao utilizador de controlar um objeto sem ter conhecimento da estrutura interna do modelo 3D e ainda de criar, intuitivamente, poses faciais, sem a manipulação de estruturas complexas. “Por isso, agora, qualquer pessoa pode criar o seu próprio ‘avatar’ e animá-lo, em tempo real, sem precisar de ter experiência artística”, explicou Verónica Orvalho.

Desta forma, durante o jogo, o utilizador pode definir e redefinir uma nova expressão facial simplesmente ao desenhar uma nova pose, que permite uma animação rápida, ao desenhar linhas numa tela virtual. Com a manipulação dos olhos, das sobrancelhas e da boca, as crianças com Perturbações do Espectro Autista são desafiadas a reconhecerem a manifestação exterior da alegria e da tristeza, o que as ajudará no relacionamento com a família e os amigos. A aplicação funciona em computadores e em dispositivos táteis.

PUBLICIDADE - CONTINUE A LEITURA A SEGUIR

Aprender as emoções

Entre os vários desafios psicológicos e técnicos que a equipa de estudiosos teve de superar ao longo do processo de criação do “LIFEisGAME”, uma das preocupações foi a de construir um jogo motivante e adequado às particularidades de cada criança. Assim sendo, o terapeuta pode adaptar cada sessão à plataforma de jogo selecionada, às características do paciente e ao modo de jogo. A aprendizagem pretendida é que vai ditar a escolha das combinações e das configurações do jogo. Para isso, a nova aplicação interativa foi criada tendo em conta um ciclo de aprendizagem, dividido em quatro níveis distintos: um de reconhecimento, um de construção, outro de imitação e um último de concretização.

Numa primeira fase, incentiva-se a criança a assistir a uma sequência de expressões faciais aleatórias e a reconhecer a respetiva emoção. Num segundo momento, é-lhe pedido que construa a expressão facial de uma personagem 3D, de forma a coincidir com uma emoção definida. O terceiro nível é um modo de acompanhamento, no qual o jogador deve seguir as expressões de um avatar. Por fim, na derradeira etapa do desafio, a criança é confrontada com uma história, perante a qual terá de realizar a expressão correspondente àquela narrativa, adequando, assim, as suas expressões faciais às emoções despertadas pelas diferentes situações.

lig1De acordo com a investigadora responsável pelo projeto, o feedback dos psicólogos ao novo jogo de vídeo foi “muito positivo”. “Acredito que estamos apenas no início de uma empolgante estrada que está a abrir novas possibilidades de estudo das Perturbações do Espectro Autista. Agora, pais e especialistas podem usar a nossa tecnologia para moldar novas aplicações e ver se, de facto, elas podem ajudar as crianças a melhorar as suas capacidades de comunicação”, sublinhou Verónica Orvalho. “Esperamos conseguir fazer realmente a diferença com a nossa pesquisa, mas só com a continuação da investigação e a perceção do feedback das crianças, dos pais e dos terapeutas é que conseguiremos encontrar mais respostas”, acrescentou.

Ainda assim, a opinião de especialistas que testaram este jogo sobre emoções é já bastante favorável à sua utilização. “É um bom material de intervenção, especialmente numa área de difícil trabalho como é a das emoções. Também é positivo termos um instrumento em português, pois a maioria dos recursos são em inglês”, realçou uma das psicólogas. Aliás, segundo um terapeuta da fala que esteve também em contacto com o “LIFEisGAME”, “o jogo pode ser uma ferramenta de trabalho indispensável na intervenção com crianças que apreciam tecnologias”, como “é o caso da maioria” das que sofrem de autismo. Para além das vantagens terapêuticas, o fator diversão parece ser outro dos ingredientes garantidos. “Jogos é com ele, o problema é parar”, confessou a mãe de uma criança com PEA.

Texto: Mariana Albuquerque  |  Fotos: http://www.portointeractivecenter.org/lifeisgame/

PUBLICIDADE

PUB
PD-Bairro Feliz