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Lendas do Porto III

Lendas do Porto III
Eternizar a essência de um povo

A provar que o fascínio pelo Porto não se esgota na área classificada pela UNESCO como Património da Humanidade, o historiador Joel Cleto e o fotógrafo Sérgio Jacques acabam de lançar o terceiro volume de “Lendas do Porto”, apresentando uma mão cheia de histórias – com o seu lado fabuloso – que vai muito além desses quarteirões e monumentos. Mas a aventura, que começou em 2008, conta com um aspeto bem real: a admiração dos leitores por estas narrativas, “envoltas numa névoa breve” e inscritas “nos lugares, no edificado, no curso de um rio, no traçado das ruas ou ao virar da esquina”. Depois de seis anos em contacto com os cidadãos – “responsáveis pela longevidade” do trabalho – há 22 novas lendas a despertar a atenção dos curiosos e daqueles que acreditam que a identidade de um povo também se faz de apontamentos mais ou menos fantasiosos. Até porque, como refere Joel Cleto na Introdução da obra – citando o poeta popular António Aleixo – “p’ra mentira ser segura e atingir profundidade, tem que trazer à mistura qualquer coisa de verdade”.

“Unir os Tripeiros em volta das suas estórias”

Segundo reconheceu Sérgio Jacques, foi “com grande surpresa” que os autores assistiram à publicação de quatro edições do primeiro volume do livro. “Sabemos que a procura e o interesse por temas sobre o Porto tem crescido muito e ficamos satisfeitos por esta obra estar entre as mais procuradas”, frisou o fotógrafo, em declarações à Viva. De resto, a grande meta de todo o processo de trabalho está a ser cumprida: “unir os Tripeiros em volta das suas estórias, fortalecendo a sua identidade coletiva”. O retrato das últimas lendas publicadas surge, à semelhança dos anteriores, dos percursos efetuados pela dupla na cidade, em busca do melhor olhar sobre cada estória.

lendas_pto3_2Entre as questões que os portuenses podem colocar está, por exemplo, a seguinte: será que a espada do primeiro rei de Portugal está no Porto? ‘Reza a lenda’ que a “Excalibur” portuguesa se encontra, desde 1834, à guarda da cidade Invicta. Exposta, atualmente, no Museu Militar, a espada de D. Afonso Henriques já esteve no seu túmulo, em Coimbra, viajou até Lisboa e, no século XVI, acompanhou D. Sebastião até Alcácer Quibir. Depois, voltou a Coimbra e, daí, seguiu para o Porto. Da lenda à realidade, tal como nos conta a o livro, esclarece-se que “o mais provável é que a espada se tenha perdido, com D. Sebastião, em Alcácer Quibir”.

E se, por um lado, existem histórias com objetos passíveis de serem fotografados, há outras narrativas que exigem encenações de acontecimentos históricos, como é o caso da guerra dos Bugios e Mouricos e da Lenda de Contumil. Estão são, “provavelmente”, as narrativas fotografadas “com mais prazer, pela participação de muita gente amiga e pela encenação e grandiosidade do momento”, ressalvou Sérgio Jacques.

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Tradições que passam de geração em geração

Mas, afinal, quem são estes Bugios e Mouriscos que animam, há séculos, o dia 24 de junho na freguesia de Sobrado, em Valongo? Com efeito, todos os anos, o dia de S. João é assinalado, naquela área geográfica, de uma forma especial: uma parte significativa da população encarna diferentes personagens e, desde manhã cedo, dá vida a uma antiga lenda – a do confronto entre mouros (os “mouriscos”) e cristãos (os “bugios”) pela posse de uma imagem do santo festejado naquela data. As roupas e os adereços utilizados vão passando de geração em geração, eternizando gestos, danças, diálogos e memórias.

lendas_pto3_3“Saber ouvir… para saber contar”

Estórias que, para Joel Cleto, acabam por funcionar como “um facilitador na transmissão da História e na salvaguarda do Património”, envolvendo as pessoas “na descoberta do saber ouvir para saber contar”. “Contar para saber explicar… o porquê daquelas velhas ruínas, a origem toponímica de um lugar, de que modo é que um determinado monumento foi edificado, como se processou a humanização de uma paisagem ou a apropriação pela comunidade de um espaço caracterizado pela sua envolvente natural”, escreveu o arqueólogo. Está preparado para embarcar nesta viagem?

Texto: Mariana Albuquerque

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