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João Seabra

João Seabra

Na comédia nacional, existem grandes referências e João Seabra é uma delas há muitos anos. Subiu pela primeira vez a um palco para fazer comédia em 2003, em Braga, e foi no “Levanta-te e Ri” que continuou a crescer no mundo da comédia.

Entretanto, passou pelo Got Talent, já atuou em tudo o que são salas emblemáticas da cidade Invicta e é um nome que, não raras vezes, se associa a Fernando Rocha, Hugo Sousa e Miguel 7 Estacas. Em entrevista à VIVA, João Seabra falou um pouco sobre o seu percurso.

Costuma dizer-se que tudo o que é grande nasce pequeno, logo também o humorista João Seabra teve de começar por algum lado. Ainda te recordas do teu início no mundo da comédia?

Sim, “oficialmente” começou no início de 2003, realizou-se em Braga o 1º Festival de Stand Up Comedy do país, como já na altura eu dizia umas coisas engraçadas alguns amigos convenceram-me a inscrever e eu assim fiz. Eu e um colega marcamos uma noite num bar de um amigo, gravamos a atuação e enviamos para a organização do Festival, fomos escolhidos e atuamos no festival. No final do Festival, a produção do “Levanta-te e Ri” veio falar conosco, pois andavam à procura de novos comediantes. Ficou logo ali feito o convite para ir ao programa e a partir daí não parei mais.

Sempre olhaste para o stand-up como um objetivo de profissão ou uma mera forma de te divertires? Qual foi o momento em que percebeste que dava para fazer vida da comédia?

Eu trabalhava em computação e via a comédia, no início, apenas como uma diversão mas com o aumento de convites para atuar, em teatros, bares, televisão, em 2004 tomei a decisão de me dedicar apenas à comédia, mas sempre a pensar que seria apenas durante uns tempos pois achava que era uma “moda”. A verdade é que já passaram 21 anos e a “moda” continua.

Uma das tuas expressões conhecidas é a do “eu vim de Braga”. Pegando no facto de seres do Norte, achas que há algum “ingrediente especial” que se associa ao comediante nortenho?

Sim, tal como a maioria dos nortenhos, os comediantes do norte têm mais tendência a ser mais desbocados, com uma comunicação mais enérgica e direta … e claro, o sotaque.

Ainda que todos atuem a solo, costumas partilhar muitos palcos com Fernando Rocha, Hugo Sousa e Miguel 7 Estacas. O que é que dirias que há, na vossa forma de trabalhar, que consegue ter tanta longevidade e aceitação do público?

Acima de tudo a amizade, conseguimos perceber bem os fortes e fraquezas de cada um, somos muito sinceros uns com os outros e com o público, ajudamo-nos a preencher essas lacunas e quando atuamos em conjunto criamos um todo onde puxamos pelo melhor de cada um.

Em qualquer área, todos temos referências. Quais são os teus ídolos, tanto em Portugal como fora?

A primeira referência de quando era criança como para quase todos os comediantes portugueses foi o Herman José e, passado uns anos, já tive a sorte de partilhar várias vezes o palco com ele. No estrangeiro, consumo espetáculos de vários comediantes mas não tenho nenhum como ídolo.

Das artes performativas que existem, dirias que o stand-up comedy é a mais complicada delas todas? O que é que te atrai tanto na comédia?

Não sei se é a mais complicada, é uma que exige muito de ti, porque és tu sozinho em placo e dependes para o bem e para o mal apenas de ti. Tens de te expor e conquistar a plateia apenas com as palavras, passar as tuas ideias e conseguir fazer rir pessoas que tu não conheces de lado nenhum. E é isso que me atrai na comédia, a magia de fazer rir as pessoas, a satisfação de mudar para melhor a disposição de uma plateia.

Há alguns anos, tiveste uma passagem no Got Talent Portugal. Para alguém que já era (e é) consagrado no humor nacional, o que é que te fez abraçar essa oportunidade?

Foi uma aposta, pois queria demonstrar outra arte para o grande público que era o ventriloquismo. Já o fazia de vez em quando nos meus espetáculos com alguns momentos, mas nunca o tinha feito assim para o grande público.

Quem conhece o João Seabra, está habituado às gargalhadas e ao artista, mas não conhece propriamente a pessoa. Por isso, quais dirias que são as grandes parecenças e diferenças do artista para o ser humano?

Quase nenhuma… entre amigos gosto de dizer as minhas piadas e tenho sempre umas piadolas para disparar, mas no contexto social sou uma pessoa reservada que gosta mais de observar do que falar, gosto do silêncio, de paz e de boas energias.

O teu percurso fica marcado pelo “Levanta-te e Ri”, que catapultou muitos comediantes para a cena nacional. Já passaram mais de 20 anos: o que achas que mudou na tua forma de fazer humor, durante este período?

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Eu olho para textos e vídeos de há 20 anos e penso, eu hoje não o faria assim. Crescemos e aprimoramo-nos com a idade, tal como a nossa maneira de olhar para as coisas vai mudando, a descoberta do que faz rir as pessoas também vai evoluindo. A presença em palco também foi mudando sendo agora menos rígida e mais fluida.

O teu currículo já é vasto e a qualidade do mesmo fala por si, no entanto há sempre coisas por fazer. Qual é que dirias que é o teu próximo grande objetivo na área da comédia?

Não tenho um grande objetivo, gostava de fazer mais cinema ou séries de comédia, explorar o ator de comédia. 

Imaginavas-te a fazer outra coisa? No caso de não haver stand-up, como é que seria o João Seabra hoje?

Muito diferente, estaria no mundo dos computadores, a programar aplicações de telemóvel, ou a trabalhar com bases de dados de alguma empresa. Acho que seria muito mais aborrecido, viveria num mundo mais fechado e teria a minha veia humorística bastante asfixiada.

Há sempre o “clichê” dos limites do humor e a resposta costuma ser sempre a mesma: não há. Mesmo assim, nunca esteve tão presente a cultura do cancelamento, de forma paradoxal. Sentes que há algum cuidado que tens sempre de ter nas coisas que fazes? Dirias que o público está a ficar “demasiado sensível”?

Sim, acho que o público, principalmente nas novas gerações, tem uma fatia grande “demasiado sensível” e cada comediante tem de ter o cuidado que acha que deve ter. Há comediantes que gostam de chocar, outros gostam de inflamar certas questões, eu sou daqueles que quer é que as pessoas se divirtam, nas atuações ao vivo gosto de analisar bem o publico para tentar que a maioria do publico fique bem disposto, nas redes sociais tento ser o mais abrangente possível e evito entrar pelos temas “sensíveis”.

Passando para o lado mais pessoal: quais são os teus hobbies?

Gosto de ir para a aldeia, plantar árvores, podar vinhas, enxertar castanheiros, semear pinheiros, dá-me satisfação e limpa-me a cabeça.

Quais são as tradições do Norte que mais te encantam? Desde comida, a forma de estar, etc…

A forma de estar das pessoas, a sinceridade para o bem e para o mal, as festas, festinhas e festarolas, os bailaricos, a broa, as papas de sarrabulho, o vinho, os rojões, o granito, o verde.

Sendo o teu trabalho, consegues ver comédia apenas por lazer?

Gosto de ver comédia e vejo sempre que posso, mas é muito raro conseguir ver apenas por lazer, pois está sempre o olhar crítico e analista desperto.

Quais são os teus maiores “guilty pleasures”? 

Cerveja e chocolate.

Por fim, pedia que completasses a frase: “Quando falarem em João Seabra, gostava que dissessem que…”

É um gajo porreiro.

Fotografias: Instagram João Seabra

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