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João Paulo Rodrigues

João Paulo Rodrigues

“A minha comida preferida é francesinha à moda do Porto e feita no Porto.”

A VIVA! esteve à conversa com João Paulo Rodrigues, que é o noss protagonista do mês de Outubro. Para além de comediante, é ator, é apresentador, é músico e tem como principais passatempos andar de mota e de avião.

Desde o seu lado mais pessoal, à esfera profissional, tivemos a oportunidade de conhecer este grande nome do entretenimento português, que é conhecido, por exemplo, pela sua personagem “Quim Roscas”.

Fotografia cedida por Glam Celebrity Management

Falar em João Paulo Rodrigues é falar num artista consagrado, especialmente na área do humor, no entanto, a verdade é que todos começamos por algum lado. Nesse sentido, consegue dizer qual foi o momento em que percebeu que tinha capacidade para ser alguém importante nesta área?

O humor começou na brincadeira, para mim, quando estava no primeiro ano da faculdade. Havia um bar, no Porto, que se chamava “Púcaros”, que tinha umas noites temáticas. Eu comecei a parar nesse bar, na altura, com uns amigos meus de uma banda que eu tinha, na época. Um dia, por brincadeira, começamos por lá a contar umas anedotas e a cantar umas músicas engraçadas. Um dos empregados desse espaço, na altura, era o Rui Xará, que é um grande humorista, lançou-me o desafio de fazer uma noite de comédia, no “Púcaros”, isto em 1998 ou 1999. Eu disse que sim e começamos a fazer umas noites de comédia, no “Púcaros”, que rapidamente se tornou num sítio de paragem obrigatória, até porque não havia comédia, naquela altura, em bares. Fomos os pioneiros a fazer comédia e ali ficamos durante muitos anos. Aquilo tornou-se rapidamente num sucesso e eu percebi que gostava muito de fazer rir os outros, que era algo que adorava fazer. Na verdade, tudo começou nesse bar. Depois, passado dois anos, comecei a fazer rádio, passado mais algum tempo, comecei a fazer televisão e tudo começou assim, com uma noite de comédia, em 1999. 

Quando se pensa no seu percurso, é normal lembrar a dupla Quim Roscas e Zeca Estacionâncio (João Paulo Rodrigues e Pedro Alves), que foi e continua a ser muito importante na sua carreira. Como é que se mantém um projeto de tanto sucesso durante tanto tempo? Há momentos de algum desgaste ou o entusiasmo é sempre o mesmo?

Não é fácil manter uma dupla sempre em cima. Nós começamos dois anos depois de eu já fazer comédia. Conheci o Pedro, quando ele foi ver o meu espetáculo no Púcaros. Ficamos amigos, sendo que, na altura, o Pedro já fazia uma personagem cómica na Rádio Nova Era, no Porto, e eu fui convidado para fazer rádio com ele. Foi lá que criamos as personagens do Quim Roscas e do Zeca Estacionâncio. Foi para o programa da manhã da Rádio Nova Era, que eu e o Pedro fizemos durante anos. Depois, começamos a ser convidados para ir a bares, para ir a teatros, fazer espetáculos de comédia e nós íamos. Foi sendo uma evolução… no início, íamos contando anedotas, depois fazíamos uns sketches de teatro cómico os dois, depois as coisas foram afinando e, se calhar por causa disso, fomos acompanhando a forma de se fazer comédia no país e no mundo. Até porque foi numa altura em que começou a chegar a Portugal a moda do stand-up comedy. Uns anos mais tarde, estreou o “Levanta-te e Ri” e as pessoas ficaram mais disponíveis para ouvir comédia. Posto isto, como é que se mantém a dupla? Com muita amizade, na medida em que somos amigos, porque é algo que gostamos muito de fazer e porque o palco é um sítio para nos juntarmos e pôr a conversa em dia, contando piadas um ao outro. Nunca é a mesma coisa, é sempre novo, apesar de haver aquelas músicas que nós repetimos porque as pessoas querem. É sempre diferente e, por isso, encaramos a dupla como uma terapia de tudo o resto que a gente faz. O segredo é esse, diria eu. Não ter de fazer esforço nenhum para estarmos em palco e apenas divertir-mo-nos um com o outro. Há dias que correm melhor, outros pior, mas estamos em dupla desde 2001 e fomos sendo muito requisitados, sem nunca termos “enjoado” o pessoal. Tivemos a sorte de, em primeiro lugar, termos animado uma geração de pessoas, e agora continuar sempre a renovar o público. Os espetáculos continuam a encher e uma coisa leva a outra: o público quer ver, nós gostamos de fazer e, sem dar por ela, já passaram 20 e tal anos de dupla. E que venham mais 20! (risos)

quim roscas zeca estacionancio
Foto: JF Produções

Com o passar do tempo, o João Paulo Rodrigues passou de ser comediante, para ser também apresentador, ator e músico. Sente que ao ser tanta coisa, consegue dar 100% em tudo ou há sempre alguma área que fica preterida?

Eu sou sempre aquela pessoa que não aceita ficar rotulada por ser uma coisa só. Eu adoro comédia, gosto muito de ser ator, gosto de apresentar, gosto de música. Seria natural que as pessoas não aceitassem que eu quisesse fazer tudo, mas como são coisas que eu gosto de fazer, eu dou 100% em tudo o que faço. Eu tenho uma equação para ser feliz, sob um ponto de vista profissional, que é estar no palco com o Pedro, fazer cinema, fazer televisão, cantar, por isso se me faltar alguma coisa delas eu não me sinto completo. Se for só humorista, vai-me fazer falta estar num estúdio de televisão e o stress dos diretos. Vai-me fazer falta isso tudo. Até hoje, não deixei de fazer nada, porque alguma coisa pode roubar tempo a outra. Claro que se estiver na estrada com o Pedro, em tour, tenho de dizer que não a um programa de televisão que me apresentem, mas isso já será por falta de tempo. No entanto, acho que tenho conseguido gerir bem isso. E uma coisa é certa, se há algo que nunca falhou é a comédia. Já houve alturas em que fiquei muito tempo sem fazer televisão, mas a comédia sempre esteve lá. Muitas pessoas me diziam, quando eu andava a fazer o programa da manhã, que eu já não precisava de andar sempre na estrada, a correr de um lado para o outro, cansado. Eu dizia “pois, mas se a televisão esmorecer, eu tenho outras coisas para fazer” e, na vida, começa a ser complicado ter só uma fonte de rendimento. A minha filha mais velha fez-me essa pergunta. Com 7 anos, perguntou-me porque é que faço tantas coisas. Eu disse-lhe que faço as coisas que gosto e que ela própria, um dia, vai ter de fazer mais do que uma coisa, porque a vida é para aí que nos está a empurrar. Ter apenas uma profissão começa a não ser suficiente e eu já faço isso há muitos anos. Fui sendo aceite pelas pessoas, nas diferentes áreas em que me envolvo. Por isso, eu vou fazendo, pois são coisas que eu gosto muito de fazer e por isso e por não me engavetar numa coisa só, faço todas as coisas que eu gosto.

Fotografia cedida por Glam Celebrity Management

Há uma frase que o Ricardo Araújo Pereira dizia que era: o riso tem má reputação. Ou seja, por vezes, uma pessoa, por ter um sentido de humor muito acima da média, não é tão levada a sério como deveria, em certas ocasiões. Já sentiu isso em algum ponto da sua vida profissional?

Honestamente, não. Eu acho que sempre fui dividindo bem as coisas. Se estou a fazer comédia e a fazer rir, é isso que estou a fazer. Se estou a apresentar um tema sério e complicado, estou focado nesse programa e nesse tema, em que estou completamente mergulhado. Claro que as pessoas, às vezes, por termos um trato bem disposto, de comédia, tendem a querer brincar connosco, ainda que nós tenhamos o direito de estar mal dispostos. Mesmo assim, diria que, na minha vida pessoal, sou uma pessoa bastante calma e discreta, até um bocadinho introvertida. Mas o que é facto é que se eu estou a brincar e as pessoas sabem que eu estou a brincar, quando falo sério as pessoas também percebem. Até percebem mais facilmente, porque há uma clara mudança de forma de estar. Mas claro que às vezes as pessoas não nos levam a sério. Nada que com treino não se consiga!

Nesta etapa da sua carreira, qual é o tipo de projeto que o motiva mais a fazer?

É difícil de responder, até porque, como disse há bocadinho, todas as coisas que eu faço profissionalmente, são coisas que eu preciso de fazer para estar bem. No entanto, há alturas em que me sinto muito melhor a andar na estrada, de palco em palco com o Pedro. Há alturas em que estou mais focado na parte da música. Acho que vai variando, mas nenhuma das coisas se sobrepõe à outra. Contudo, se me perguntares “o que é que adoras mesmo fazer e se não pudesses fazer mais nada, farias?”, eu diria cantar, sem dúvida nenhuma.

Ainda que muita gente sonhe com isso, a verdade é que só quem experiencia um certo nível de fama é que tem realmente noção do que é ser-se famoso. Diria que é possível manter tudo igual a sempre ou há algo que muda pelo facto de estar mais exposto?

Eu procurei não mudar muito e ser fiel àquilo que eu sou. Até porque o trabalho que eu faço é para o público. O público é inteligente e entende quando temos uma personagem criada e não somos aquilo que mostramos ser na televisão, no palco, ou noutro sítio qualquer. Obviamente que há coisas que uma pessoa que não é conhecida está mais à vontade para fazer. Nós somos muito mais visíveis e mais facilmente criticáveis por algo que a gente faça do que alguém incógnito. Claro que vou adaptando a minha forma de estar em público. Então sendo eu uma pessoa, por natureza, introvertida e tímida, que procura passar despercebida, há vezes em que fico envergonhado e sem jeito, sem saber o que fazer. Isso acontece, quando as pessoas vêm ter comigo e pedem uma fotografia ou para eu contar uma piada. Infelizmente, há dias em que passamos por antipáticos, quando estamos num dia menos bom e queremos mais estar sossegados com os nossos pensamentos. Muitas vezes, temos de sorrir quando estamos chateados, mas são os ossos do ofício, é assim. Eu e o Pedro costumamos estar disponíveis para as pessoas, mas também temos os nossos dias maus. Somos pessoas e temos direito aos nossos dias maus. Eu, normalmente, fico calado e ponho-me no meu canto. Fico mais reservado, mas também há aqueles dias em que é para partir a loiça toda. Depende muito do meu estado de espírito, mas costumamos ser muito bem tratados pelas pessoas, o que torna tudo muito mais fácil.

Fotografia cedida por Glam Celebrity Management

Há quem diga que para se manter a paixão por uma coisa é preciso mantê-la como um hobby. Acha que se perde um bocadinho o interesse pelo humor quando se trabalha na área? Ou seja, como grande parte do tempo é dedicada a fazer humor, em contexto social, perde-se a vontade de ser o elemento que conta as piadas e que diverte o grupo?

Naturalmente que acontece um bocadinho, quando não estamos a trabalhar, quando não estamos no palco, quando não estamos a fazer comédia em televisão. Eu sempre fui aquele rapazinho que, no grupo de amigos e na família, gostava de contar umas piadas e umas anedotas. Se calhar, isso desligou-se. Como faço isso profissionalmente, acaba por acontecer. Um advogado, quando está de férias, também procura não estar a pensar em processos nem em prazos. Claro que é um bocado difícil, mas naturalmente que na comédia a gente tem de o fazer, se não é piada a mais. No entanto, de vez em quando, em contexto de grupo, ainda me saem piadas, porque eu sou naturalmente bem disposto. Contudo, admito que quando não estou a trabalhar, apetece-me estar tranquilo, na minha e a fazer outras coisas completamente diferentes, pois é preciso manter um equilíbrio. Se passas muito tempo a fazer piadas, a tentar fazer com que os outros se riam, também é preciso desligar. Não é só na comédia, é em tudo.

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Alguém que trabalha em comédia… vê comédia?

Vejo muita comédia. Muitos humoristas norte-americanos que eu gosto. Vejo esse tipo de coisas, na medida em que também gosto que me façam rir a mim. Também aprecio estar só sentado a rir-me e é justíssimo, sem dúvida! (risos)

Quais são as melhores e piores memórias que se lembra de ter tido em cima de um palco?

Isso é que é uma pergunta difícil. No meu caso, já são 24 anos de comédia, 22 com o Pedro, praticamente 23. Por isso, é difícil… tive muito bons momentos. Lembro-me de, no nosso início de carreira, subir ao palco de um bar, às tantas da manhã, numa discoteca, as pessoas todas a curtir a música, nós subimos ao palco e as pessoas nem sequer nos deixaram começar a falar. Queriam era ouvir música e estar a curtir e a dançar. Na altura, não tínhamos o à vontade que temos hoje para gerir esse tipo de situações, mas dissemos “obrigado, boa noite” e fomos embora. Ficou resolvida a questão. Como a minha avó dizia, o que não tem remédio, remediado está. Quanto a boas memórias, há muitas mesmo. Já muitas vezes fiz anos em cima do palco. A primeira vez que aconteceu lembro-me de ter visto milhares a cantarem-me os parabéns e houve alguém que entrou com um bolo no palco. É daquelas memórias boas de estar em cima do palco e do carinho das pessoas para connosco. Tínhamos um grupo de fãs que ia connosco para todo o lado e começaram todos a cantar os parabéns. Elas entraram com um bolinho e foi um momento muito giro. Não me lembro se era bom o bolo, mas lá soprei as velas e continuamos o espetáculo.

Fotografia cedida por Glam Celebrity Management

Se não tivesse enveredado pelo meio artístico, o que é que o João Paulo Rodrigues estaria a fazer hoje em dia, muito provavelmente?

Se não estivesse na comédia, hoje em dia, provavelmente seria advogado ou juiz. Eu estudei Direito e houve uma altura em que pensei seriamente, nos primeiros 3 ou 4 anos em que comecei a fazer comédia, que se calhar ia mesmo seguir algo relacionado com o curso. Por isso, não segui a área jurídica, por estar na comédia, precisamente. Não sendo isso, seguia o Direito, muito possivelmente. Não me arrependo de ter continuado na comédia, pois não teria sido tão feliz num escritório a tratar de papeladas e de processos. Acho mesmo que o melhor é escolher uma carreira que nos dê prazer, porque quando se faz o que gostamos, não temos de trabalhar nunca na vida. Tive sorte de fazer disto uma brincadeira séria, que é uma profissão e o meu ganha pão.

Qual é a sua comida favorita?

Francesinha à moda do Porto e feita no Porto. Já me aconteceu, em Genebra, às 10 da noite, apetecer-me uma francesinha, ao que o meu promotor diz-me que havia um sítio, ao lado, que tinha. Eu pensei logo, “ui, já vou levar com aquelas francesinhas inventadas”. Comecei a comer e pensei “fogo, isto parece as francesinhas do Porto”, ao que depois entendi que o chefe tinha já trabalhado no Capa Negra, portanto é natural que as francesinhas saibam ao mesmo. A surpresa foi muito boa!

Qual é o seu passatempo favorito?

Gosto muito de pegar nas minhas motas e dar uns giros com os meus amigos. Pegar na mota e espairecer a cabeça. Gosto de pegar nos meus aviões e voar. Quando não estou a trabalhar, ou estou a voar, ou pego na mota e vou à minha vida, gosto de estar com os meus amigos e com as minhas filhas.

Foto: João Paulo Rodrigues (Facebook)

O que é que mais o irrita?

Injustiça. Se calhar, foi por isso que fui para Direito. Dizerem que fiz ou disse alguma coisa que eu não fiz nem disse. Há poucas coisas que me tiram do sério, mas injustiças e o trânsito tiram-me do sério. Digo umas asneiras e tudo, mas pronto… é saudável! (risos)

O que é que faz que mais irrita os outros?

Dizer que vou a uma festa ou aniversário e depois não apareço. Eu sou desse tipo de pessoa, quando me convidam e eu digo que vou, genuinamente queria ir. Eu sou introvertido e, às vezes, quando chego a casa penso “ei, tenho de inventar uma desculpa qualquer”. Ou tenho uma unha encravada, ou qualquer coisa. Isso acontece muitas vezes. Aos meus amigos, que me conhecem, já sabem como eu sou. Mal eu ligo, eles dizem, “pronto, não vens, já sei que não vens e que vais ficar em casa!”. Mas quem gosta de mim, já me conhece e não me leva a mal. Peço desculpa aos meus amigos! (risos)

Há algum sonho ainda por cumprir? Se sim, qual?

Tenho muitos sonhos. Um deles que tenho por cumprir é o meu disco, é fazer música a sério, que é o que estou a fazer agora, por isso, quando as minhas músicas estiverem a tocar na rádio, vai ser, sem dúvida, um sonho cumprido.

Fotografia de capa cedida por Glam Celebrity Management

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