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João Nunes Monteiro

João Nunes Monteiro

“Estou muito apaixonado pela responsabilidade de contar histórias que são muito mais próximas de quem as vê do que, talvez, para mim”

Natural do Porto, o jovem ator de 30 anos, João Nunes Monteiro, esteve à conversa com a VIVA!. Admitiu que é difícil para si descrever-se, mas confessou ser alguém “em constante movimento” e que “erra bastantes vezes”.

As coisas que mais o fazem feliz são trabalhar, estar com os amigos, viajar ou ir ao teatro. Tem medo de palhaços e o que “mais o irrita” são atitudes de “desconsideração pelo esforço” e “situações de injustiça”.

Nesta entrevista João Nunes Monteiro falou sobre as suas raízes, como foi o seu percurso académico e o início da sua carreira como ator. Fez uma viagem por alguns dos projetos que mais o marcaram, refletiu sobre os desafios da profissão e de como o feedback é importante.

O ator revelou também o que espera no futuro, o que mais gosta no Porto e nos portuenses, o seu clube e prato favorito.

Foto: Filipe Ferreira

Quem é o João Nunes Monteiro? Diga-nos algumas das suas principais características
Descrever-me parece-me ser sempre estranho e um exercício impossível, acho que nunca estaria satisfeito com a resposta dada. E, que a mudaria, no dia seguinte.
No entanto, aos 30 anos, julgo que posso tentar «tirar» uma fotografia bastante desfocada da forma como tenho agido ou pensado.
Espero ser alguém que esteja em constante movimento e a questionar-me; que tem receio de desapontar as pessoas à sua volta, que é impaciente, e, sobretudo, que erra bastantes vezes e age de formas bastantes contraditórias.

Que coisas ou lugares o fazem feliz?
Trabalhar. Ouvir uma boa história e ler, estar com os meus amigos, ouvir música, andar a pé, dançar, ir à praia, viajar, descalçar-me numa sala de cinema a ver um bom filme, ou ir ao teatro ou uma exposição.
E sou bastante feliz, quando vejo outras pessoas a usufruir da sua liberdade.

O que mais gosta de fazer nos seus tempos livres?
Ler, ver filmes e séries, dançar, sentar-me numa esplanada a apanhar sol e caminhar pelas ruas, ouvindo música.

Que situações ou atitudes mais o irritam?
Qualquer atitude de desconsideração pelo esforço ou desconforto de outras pessoas; situações de injustiça; de condescendência; violência (seja física ou verbal).
Detesto gritos, assim como também me deixa desconfortável mentiras ou omissões, ou pessoas que perturbam a liberdade individual dos outros.

Foto: Filipe Ferreira

Tem algum medo ou fobia?
Tenho muitos… Medo de palhaços, medo de me esquecer de uma janela aberta e um dos meus gatos saltar dela, medo de fazer algum mal irremediável a alguém. Medo de falhar com alguém ou de ser injusto.
E tenho fobia a baratas. Felizmente, tenho dois gatos que as afastam.
Medo do ódio e da violência: que a diversidade não seja respeitada.

Qual o seu prato favorito?
Eu sou vegano. Portanto, uma boa francesinha vegana vai sempre satisfazer-me por horas. E encontro sempre as melhores, obviamente, no Porto.

Tem clube de futebol e queira revelar?
Sou portuense, portanto, a resposta será o Futebol Clube do Porto.
Mas, durante a minha infância e adolescência foi o basquetebol – o desporto que ocupou grande parte do meu tempo e, em especial, o dos meus irmãos – portanto, torci pelo Académico FC Basquetebol, o Maia Basket e o Sporting Clube Vasco da Gama.

Foto: @omartim – Martim Torres

O que mais gosta no Porto e nos portuenses?
Qualquer generalização pode ser traiçoeira. Mas cedendo a essa ideia, acho que, nós, os portuenses somos hospitaleiros, falamos alto e sem filtros, «temos o coração muito perto da boca». Somos atentos às outras pessoas e temos coragem para mudar e criar coisas novas.
O Porto é saber que saio de casa e vou encontrar alguém que conheço ou que me posso deslocar rapidamente a qualquer parte; que o rio e o mar estão juntos e que os posso ver em pouco tempo, indo a pé ouvindo música no meu telemóvel.

E como define a cidade Invicta?
Defino-a por ter o privilégio de ter inúmeros espaços culturais, o rio, o mar, o cinzento, a tão larga Avenida dos Aliados, uma gastronomia diversa, um bom ensino artístico, e um orgulho em ser uma cidade que sabe bem receber quem não é de lá.

Fale-nos das suas origens, onde nasceu e cresceu?
Eu nasci na Ordem do Carmo, na Praça Carlos Alberto, muito próximo do Teatro Carlos Alberto.
Depois cresci pelos arredores dessa longa Rua de Costa Cabral, em diferentes casas. Até aos 18 anos, os meus percursos para as três escolas onde estudei, fizeram-me passar pela Rua de Cedofeita, pela Avenida dos Combatentes, pela Rua do Almada, pela Rua de Santa Catarina, pela Praça do Marquês do Pombal, pelo Hospital Conde de Ferreira, pela Rua Gonçalo Cristóvão, pela Avenida Fernão Magalhães (perto de onde moravam os meus avós paternos) ou pela Praça da República.

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Foto: Filipe Ferreira

De que forma descreveria os seus tempos de infância e adolescência?
Descreveria como um tempo de privilégio e de descoberta, onde apesar de sermos uma família numerosa, havia uma preocupação pela nossa educação: escolar, desportiva e social. A minha família fazia-me observar o Porto e as diferenças com outras localidades, assim como dirigia o meu olhar para as diferentes realidades sociais que existiam na cidade. E, ainda que sempre acompanhado, ensinaram-me a responsabilizar-me pelas minhas ações e decisões.
Diria também que apesar de viajar até outras partes do país, ensinaram-me que o Porto seria sempre casa e que tinha sorte de crescer lá.

Como foi o seu percurso académico? Sempre soube que queria trabalhar em representação?
Não, de todo. Confesso que já havia um fascínio enorme que sentia, quando nos juntávamos [lá em casa] a ver telenovelas. Ou então a ler, onde imaginava as histórias dos livros, na minha cabeça, como se fossem filmes. Também adorava organizar mini peças de teatro nos aniversários dos meus e minhas colegas, ou em apresentações de trabalho escolares.
Mas, só no nono ano de escolaridade, concluídos na Escola António Nobre, é que acabei por descobrir que era possível estudar para ser ator. E ainda que, com uma alguma reticência do meu pai (principalmente com o meu futuro económico), inscrevi-me para as audições na Academia Contemporânea do Espectáculo (ACE), o que me daria equivalência ao décimo segundo ano de escolaridade.
Naquela altura, sempre relativizei essa decisão, imaginando que esta não teria de ser definitiva. Depois de terminado o curso, inscrevi-me na Escola Superior Teatro de Cinema e mudei-me para Lisboa. Sentindo, durante vários anos, que a minha casa era o Intercidades ou o Alfa Pendular.

Foto: Andreas Rentz

Quais foram os primeiros passos dados nesta área?
O meu primeiro passo foi a formação – a inscrição no curso profissional de interpretação da Academia Contemporânea do Espectáculo.
E com 16 anos, integrei o elenco do filme “Aristides de Sousa Mendes – O Cônsul de Bordéus”, do realizador Francisco Manso (projeto que foi filmado quando estava no início do segundo ano da escola profissional).
Mais tarde, vim a concluir a ACE, num projeto dirigido pelo encenador e coreógrafo Victor Hugo Pontes, o espetáculo “Punk Rock” de Simon Stephens, e, com quem, trabalhei outras vezes, tendo a oportunidade de voltar a viver e ensaiar, no Porto: como foi o caso de “Fã”, com texto de Regina Guimarães e encenação de Nuno Carinhas, por exemplo.

Quando se estreou como ator? O que se lembra dessa primeira vez?
Estreei-me no filme “Aristides de Sousa Mendes – O Cônsul de Bordéus”, e lembro-me de não compreender as dinâmicas de trabalho, de ter gravado o primeiro take e nem sequer ter ouvido ação.
De estar bastante inseguro, mas simultaneamente, ter um grande prazer em trabalhar num registo que me fazia lembrar uma «casa de brincar em ponto grande».

Dos vários personagens que interpretou qual foi o mais desafiante e porquê?
Honestamente, todos os trabalhos ou projetos são desafios, seja pelas suas especificidades orçamentais, técnicas, temáticas ou das pessoas que os dirigem.
Contudo, sendo verdadeiramente sincero, as personagens que penso serem mais difíceis e que me tiram o sono, são as personagens com menos participação. Assusta-me ter de chegar a plateau, conhecer uma equipa inteira no espaço de pouco tempo e de ter de ser eficiente (muitas vezes com pouca informação dada pelo guião), num curto espaço de tempo.

Foto: Filipe Ferreira

Entre os diferentes projetos em que já esteve há algum que guarde de forma especial? Porquê?
Vários deles, no fim do dia, e na minha ainda curta carreira, mesmo aqueles que não são tão bem recebidos ou felizes, são importantes para eu me desenvolver e questionar-me.
No entanto, os projetos que guardo de forma especial, são sempre aqueles, onde se dá prioridade à experiência de o fazer e de que toda a gente esteja a sentir-se respeitada, ouvida e acarinhada. São sempre esses aqueles que me custam mais terminar.
O “Margem” do Victor Hugo Pontes com texto de Joana Craveiro foi um deles, o filme “Mosquito” do João Nuno Pinto, o espetáculo “Fake” da Companhia Formiga Atómica, entre tantos outros, onde fui afortunado por me cruzar com pessoas maravilhosas e cuidadosas.

De todos em qual acha que conseguiu mais reconhecimento por parte do público?
Ter tido a oportunidade de fazer parte do elenco da Telenovela “Quero é Viver”, escrita pela Helena Amaral, foi a que mais alcance teve, posso assegurar. As minhas caminhadas pela cidade ou entrada em certas lojas passaram a ter mais interações e conversas.

O que lhe costumam dizer?
Por norma, as pessoas comentam as personagens que interpreto ou o filme, peça, telenovela, série em questão. E, quando tal acontece, e há tempo para conversar, compreendo a dimensão que aquilo, que acho ter a sorte de continuar a fazer, de participar em projetos que podem realmente propor às pessoas novas perspetivas de olhar para o mundo. “Quero é Viver” foi um caso notório, onde as pessoas chegavam a confessar ter alterado a forma como olhavam para certas questões sociais ou que as ajudou a reforçar coisas que elas já pensavam antes, mas ainda tinham vergonha de assumir que pensavam assim.

Foto: Filipe Ferreira

De que forma o feedback é importante para si?
O feedback é sempre algo que recebo com alguma alegria e alívio quando é positivo e de uma forma que obriga a repensar-nos se for relativo a aspetos negativos.
No entanto, devo confessar que com a minha timidez e um pequeno «síndrome de impostor», acabo por retirar sempre valor do feedback positivo. Acabo por me esquecer passado minutos elogios que me tenham dado.
Hoje em dia, costumo tentar forçar-me a focar-me apenas se aquilo que foi visto impactou quem viu, mais do que necessariamente se o meu trabalho foi admirado.

O que mais tem aprendido nestes anos como ator?
(Risos) Que não sei como isto se faz; que há um lugar de não conseguir controlar e/ou prever, quando estou em palco ou a gravar ou a filmar, que aprendi a gostar e a desejar; que um bom ambiente de trabalho é meio caminho andado para um projeto bem sucedido; que necessito sempre de estar atento à forma de como olho para a representação, para o meu trabalho; que devo sempre continuar a fazer perguntas mais do que encontrar respostas; que no fim do dia, é um trabalho como qualquer outro. E, também, diversas questões laborais e de orçamentação que precisam de ser levantadas.
Há algum trabalho que se arrependa de ter integrado, ou que, por algum motivo, recusou fazer?
Num exercício de memória rápida, diria que não. Mesmo aqueles em que fiquei menos contente ou fui menos feliz, sinto que me ensinou sempre algo e a olhar para a profissão de uma forma diferente.
Quanto a recusar trabalho é um privilégio que poucas vezes pude usufruir. Só não aceito trabalhos quando não já tenho trabalho para as mesmas datas. É bastante comum correr o país ou a cidade de Lisboa entre diferentes projetos no mesmo dia. E sei que esta não é uma realidade apenas minha, mas de tantas outros colegas.

Foto: @joaonunesmonteiro (Instagram)

Já teve oportunidade de fazer cinema, televisão e teatro. Tem algum tipo de preferência? Onde se sente mais realizado?
Os diferentes formatos exigem coisas diferentes. E gosto dessa mudança de técnicas e de formas de trabalhar.
Contudo, seja qual for o projeto, a ideia do mesmo é o que me mais me fascina e me faz sentir feliz enquanto o estou a preparar ou a executar.

O que é que mais o apaixona nesta profissão?
A possibilidade de pensar e, simultaneamente, poder usar o meu corpo todo nesse processo. Fazer questões, tentar refletir sobre elas em coletivo, imaginar um outro mundo – uma outra realidade. Assim como, poder usar um sítio de ficção ou de “onde tudo é possível”, para me revelar e experimentar ações que “eu – João” nunca teria coragem de fazer.
Estou muito apaixonado também pela responsabilidade de contar/mostrar histórias que são muito mais próximas de quem as vê do que, talvez, para mim.

Se tivesse essa hipótese, com que atores nacionais e internacionais ainda não trabalhou e gostaria?
A lista poderia ser infinita. Então de colegas meus que muitas vezes não encontro desde o meu tempo de formação… Existem tantos e tantas profissionais especiais em Portugal…
Mas, repetindo-me, gostaria e, tenho tido a sorte de encontrar vários e várias colegas, qualquer colega que me respeite e que pense nesta profissão como um trabalho de coletivo.

Foto: Filipe Ferreira

E que série ou saga de filmes internacionais gostaria de fazer parte?
Sou muito fã da série Euphoria de Sam Levinson, ou de quase todos os filmes produzidos pela produtora A24. Como sou ou um grande fã dos realizadores e realizadoras como Mike Leigh, Sarah Polley, Xavier Dolan, Marco Martins. João Canijo, e de tantos e tantas, que me fizeram sair de uma sala de cinema fascinado, ou passar uma noite inteira acordado a refletir naquilo que tinha acabado de assistir.
E serei, com certeza, fã de muitos outros e outras que ainda não conheço.
Tenho trabalhado também com estudantes de cinema ou profissionais, em que é o seu primeiro ou segundo projeto, e sinto-me sempre arrastado pelo entusiasmo e pela forma fresca com que olham para a realidade e para a forma de fazer estas «artes» que não têm uma fórmula exata de serem executadas.

Há algum projeto que vá integrar e possa revelar? O que é que ainda o espera este ano a nível profissional?
Posso revelar que neste preciso momento, estou a filmar o filme “Sonhar com Leões” de Paolo Marinou-Blanco, produzido pela Promenade e co-produzido pela Dary Films, Capuri e Cinética Produccions.
O ano já se encontra quase no segundo semestre, e estou bastante contente por ter continuado a navegar por diferentes dispositivos: teatro, televisão e cinema.
Espero que assim continue e que seja um ano em que me posso rever e desafiar enquanto ator.
Honestamente, sonho participar em trabalhos que reflitam o mundo diverso e complexo que observo quando saio de casa.

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