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Junta da Galiza

João Espregueira-Mendes

João Espregueira-Mendes

“Porto reconhecido pela FIFA como centro de excelência médica em medicina do desporto”

É um dos mais conceituados cirurgiões do mundo e reconhecido, internacionalmente, na área da Ortopedia e Traumatologia Desportiva, tendo criado no Porto, a sua cidade, um império de renome nessa área. O gosto pela Medicina Desportiva, e pela Ortopedia e Traumatologia, em concreto, começou no seio familiar e, segundo João Espregueira-Mendes, ainda que a “componente genética” possa ter tido alguma influência é, indubitavelmente, da “vivência quotidiana” que vem toda a sua vocação.

Oriundo de uma família com mais de 90 anos de tradição nesta área clínica, o atual diretor da Clínica Espregueira – Dragão FIFA Medical Centre Excellence pertence à terceira geração de cirurgiões ortopédicos que têm dado um contributo único na saúde em Portugal, mas também para o ensino médico e para a investigação científica mundial na área da traumatologia desportiva.

Este mês, João Espregueira-Mendes abriu-nos as portas da sua clínica, situada no interior do Estádio do Dragão, vocacionada para responder a todas as necessidades médicas das principais especialidades, com especial destaque para patologias do sistema locomotor, disponibilizando a última tecnologia em equipamentos de diagnóstico. Mas não ficou por aqui… Nesta conversa, o cirurgião abriu também o seu coração e recordou todo o percurso profissional traçado até então.

O gosto pela medicina desportiva, os momentos mais marcantes da carreira, as cirurgias mais inovadoras e os casos difíceis que jamais esquecerá foram alguns dos temas que pautaram esta conversa, com o Porto como pano de fundo.

Como começou o gosto pela medicina desportiva, em concreto pela Ortopedia e Traumatologia Desportiva?

O gosto pela Medicina Desportiva, mais concretamente pela Ortopedia e Traumatologia Desportiva, começou na família. No meu caso, a vocação poderá até ter uma componente genética, mas, com toda a certeza, vem da vivência quotidiana. Sempre quis ser ortopedista e sou o terceiro de várias gerações de ortopedistas. O meu avô, João de Espregueira-Mendes, um dos primeiros ortopedistas portugueses, dirigiu a Unidade de Ortopedia do Hospital de Santo António, dotando-a de oito camas (quatro para homens e quatro para mulheres), em 1926. O meu pai, João Manuel Espregueira-Mendes, operou centenas de atletas de competição, incluindo muitos jogadores do Futebol Clube do Porto, tendo sido homenageado diversas vezes, pela cidade do Porto (medalha de ouro da cidade) e pelo Futebol Clube do Porto (Dragão de Ouro e Dragão de Honra), pela excelência na prestação de cuidados médicos.  Em parceria com o Dr. Domingos Gomes, na época diretor clínico do Futebol Clube do Porto, contribuíram para o reconhecimento do Porto como um centro de excelência no tratamento de lesões desportivas. O meu exercício profissional foi inspirado e instruído na Faculdade de Medicina do Porto, pelo meu pai e pela sua escola, nos valores e competências técnicas. Esta preparação foi melhorada além-fronteiras, na Europa e nos EUA (Mayo Clinic). Todos os dias trabalhamos para oferecer às pessoas o melhor que a ciência e as boas práticas alcançam. Há dias em que é notícia porque se trata de um jogador conhecido, mas em muitos outros isso será sentido por muitas famílias anónimas que nos agradecem o esforço e o apoio.

A cidade do Porto tornou-se um destino cirúrgico internacional de eleição, muito pela sua influência. O que sente ao ver que é um dos grandes responsáveis por este prestígio?

Sinto o esforço, o compromisso e a dedicação da nossa equipa, com grande respeito pela nossa história. Tudo o que alcançamos resulta de uma estratégia ibérica pensada e iniciada há mais de 20 anos, para mostrar o nosso trabalho no Mundo.  Lutamos por uma presença em sociedades internacionais para dar voz à cultura profissional ibérico-latina. A concretização da presidência da European Society of Knee Surgery Sports Trauma and Arthroscopy (ESSKA) (2012-2014), a presença na liderança e direção da Internacional Society of Knee Surgery Sports Trauma and Arthroscopy (ISAKOS), da Patellofemoral  Foundation e dos FIFA Medical Centres of Excellence, deu uma grande ajuda. Neste contexto, trilhamos um caminho baseado na procura da excelência nos cuidados médicos, na investigação e na educação médica. Na investigação, montamos um grupo exclusivamente dedicado a publicar a nível internacional, em revistas de qualidade. E, assim, nos últimos anos, conseguimos mais de 700 conferências (em mais de 40 países), 200 artigos científicos, 17 livros e 86 capítulos em livros internacionais. Na educação médica, fundamos a Academia Clínica do Dragão e o D. Henrique Research Centre que realizam um congresso anual patrocinado pelas principais sociedades internacionais e mais de 30 cursos por ano.

Esta visibilidade atual tem sido uma enorme oportunidade, sobretudo para os mais jovens. Temos a responsabilidade de fazer valer mais de 90 anos dedicados à Ortopedia e Traumatologia, em prol da saúde e do contributo para a melhoria de conhecimentos e competências. Este desempenho permitiu-nos um reconhecimento que nos posiciona no mundo para prestar serviços de saúde no sistema locomotor. Instituições como a Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal, E.P.E. (AICEP) e o Health Cluster Portugal (HCP) têm desenvolvido connosco um trabalho notável no setor da saúde, quer em Portugal como no mundo. A Clínica Espregueira – FIFA Medical Centre of Excellence, no Estádio do Dragão, é hoje um centro acreditado FIFA, ESSKA (Sociedade Europeia de Traumatologia Desportiva, Cirurgia do Joelho e Artroscopia), ISAKOS (Sociedade Internacional de Artroscopia, Cirurgia do Joelho e Medicina Desportiva) e ICRS (Sociedade Internacional de Regeneração de Cartilagem e Preservação das Articulações). É um dos poucos centros no mundo que reúne este conjunto de acreditações, tendo sido a primeira na Península Ibérica e a única clínica em Portugal a ser reconhecida pela FIFA como centro de excelência médica. No seu conjunto, estas acreditações endossam às pessoas, aos clientes e doentes, uma mensagem de confiança nos serviços de saúde, que os mais de 180 profissionais prestam na Clínica Espregueira – FIFA Medical centre of Excellence.

O que significa ter alcançado todo este sucesso precisamente na cidade que o viu nascer, o seu Porto?

A minha nacionalidade é ser do Porto. Só mudaria de cidade se a cidade do Porto emigrasse… Daí o meu imenso orgulho em trabalhar nesta cidade. Este percurso traduz muito trabalho, resiliência e não deixar fugir as oportunidades. Para servir este projeto e a nossa história, durante mais de 10 anos, não entrei em casa no dia em que saí, trabalhando mais de 16 horas por dia, lutando com adversidades e assimetrias gritantes. Tenho consciência do nosso pequeno contributo e da nossa limitada dimensão no mundo e, sobretudo, do muito que existe por realizar. O caminho que temos vindo a fazer é indissociável do capital humano, suportado nas pessoas, na sua formação e no seu desenvolvimento técnico-científico e profissional.

Nunca pensou em abrir um espaço, se não na Invicta?

Sim. Acontecerá já em 2022, com o lançamento de uma rede de clínicas com a marca Clínica Espregueira | FIFA Medical Centre of Excellence, que será anunciada numa cerimónia que decorrerá já no dia 17 de novembro, no Pátio das Nações do Palácio da Bolsa, no Porto, pelas 19h00.

Esta marca vai dar continuidade ao projeto que nasceu na cidade do Porto, com a Clínica do Dragão, e que pretende, agora, expandir-se para o resto do país e também para Espanha. Esta vontade de expansão encontrou sintonia na parceria com a sociedade de capital de risco, Growth Partners Capital, e com o Grupo Unilabs, perspetivando a abertura de novas clínicas, dedicadas à prestação de cuidados de saúde especializados no sistema locomotor, projetando a marca portuguesa em toda a Península Ibérica.
Queremos criar um prestigiado e competente universo de clínicas temáticas que dê resposta aos cada vez mais numerosos e incapacitantes problemas articulares, com enfoque nas lesões de desgaste articular, desportivas e na medicina regenerativa. Com entusiasmo, passaremos nos próximos anos, de 180 para mais de 1000 colaboradores, com presença em cerca de 40 cidades.

Que fatores acha que estiveram na origem do sucesso da sua carreira, além de muito trabalho, paixão e dedicação?

Além destes fatores, acrescento que outro determinante foi a sorte de estar no lugar certo, no momento certo. Estou consciente que a entrada de Portugal na UE, o facto de ser fluente em quatro línguas, a oportunidade de me formar em universidades e serviços de excelência, no Porto e no estrangeiro, abriram portas importantes. Há quase quarenta anos que viajo para partilhar e aprender com o que de melhor se faz no mundo, na ciência, na medicina e na organização de unidades de saúde. Cruzei-me com pessoas e oportunidades extraordinárias.

A Clínica Espregueira é uma unidade de refe­rência em todos os centros médicos do mundo, no âmbito das lesões desportivas. De que forma é possível contribuir, diariamente, para a atribuição deste título?

As acreditações internacionais são atribuídas e mantidas mediante a observação plena de um referencial de qualidade dos nossos serviços de saúde e dos quais temos que fazer prova anualmente. Assim, há que contribuir para o avanço técnico-científico de várias disciplinas científicas e profissionais com incidência nos desportistas e praticantes de exercício físico [médicos, fisioterapeutas, enfermeiros, nutricionistas, profissionais das ciências do desporto, psicólogos,], desenvolver iniciativas de formação que contribuem para o desenvolvimento dos profissionais suportado nas últimas evidências e boas práticas. Também oferecemos cursos dirigidos a alunos e profissionais de saúde, em casos especiais, no contexto do ensino superior como é o caso da Escola de Medicina da Universidade do Minho e da Católica Porto Business School com quem lançamos um curso de especialização em medicina do desporto e reabilitação. Por outro lado, há que investir na investigação para a melhoria contínua de conhecimentos e competências. Todos os anos, publicamos artigos e textos científicos nas mais prestigiadas revistas científicas e editoras médicas do mundo. À formação e investigação temos vindo, ano após ano, a tentar melhorar resultados e indicadores da qualidade dos tratamentos conservadores e cirúrgicos que prestamos. A Clínica Espregueira – FIFA Medical Centre of Excellence, Porto, oferece mais de 30 especialidades médicas às pessoas e, todos os anos, para manter a acreditação de centro de excelência médica da FIFA, presta contas da qualidade da formação, investigação e dos tratamentos de saúde que desenvolve.

Há alguma intervenção cirúrgica inovadora que apenas seja exercida na sua clínica? Se sim, qual ou quais?

Há diversas técnicas cirúrgicas e patentes desenvolvidas pela nossa equipa que estão publicadas e são utilizadas no mundo. Desenvolvemos técnicas inovadoras para o tratamento da cartilagem e ligamentos do joelho e do tornozelo. A título de exemplo, há uma nova técnica que consiste no retensionamento meniscal para criar uma espécie de “autotransplante” para tratar o menisco. Recentemente, fizemos uma cirurgia inovadora, pela primeira vez em Portugal, para tratar defeitos de cartilagem no joelho com um implante designado por Episealer, tratando-se de uma tecnologia avançada cuja solução cirúrgica é única e ajustada ao caso clínico do doente. Inventamos o Porto Knee Testing Device que permite medir a laxidez nas lesões ligamentares do joelho, dentro da ressonância magnética e definir, caso a caso, a necessidade da cirurgia e de que tipo. Hoje, o dispositivo é utilizado nos cinco continentes e em clubes de referência nacional e internacional, como o FC Barcelona.

Que nomes sonantes do desporto, nacional e internacional, já passaram pela clínica?

Muitos atletas extraordinários, mais e menos mediáticos, de diferentes modalidades e latitudes, passaram e foram tratados pela equipa da Clínica Espregueira – FIFA Medical Centre of Excellence. Futebolistas, basquetebolistas, andebolistas, jogadores de críquete, bailarinos, tenistas, pilotos de desportos motorizados, jóqueis, etc. Recebemos atletas de todos os cantos do mundo, podendo nomear e sem ferir o segredo médico, o Federico Santander, Rúben Neves, Pepe, Navarro, Stephan El Shaarawy e, recentemente, o João Félix, operado há poucos meses, e que já regressou em grande forma.

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Qual é a cirurgia mais inovadora que realizou até hoje?

As técnicas cirúrgicas têm uma amplitude de procedimentos ajustáveis a cada doente. Assim, podemos referir-me a cirurgias inovadoras na medida da novidade tecnológica e técnica, como implantes de cartilagem feitos à medida do doente a partir de uma reconstrução 3D na RM (e.g. referido caso do Episealer) ou o “autotransplante” meniscal publicado na renomada revista Arthroscopy: The Journal of Arthroscopic & Related Surgery. Podemos, também, referir-me a cirurgias onde a amplitude da técnica cirúrgica ajustada a cada caso é por si uma inovação. Com frequência, ajustamos técnicas para resolver problemas de características singulares, devido ao tamanho, à localização e profundidade de defeitos de cartilagem. Neste sentido, inventamos um enxerto de cartilagem inovador – GUT – para lesões extensas e graves.

Atualmente, quais são as lesões mais frequentes no mundo do desporto?

As lesões desportivas são cada vez mais numerosas e, em virtude da intensidade da competição, cada vez mais graves. As lesões musculares, da cartilagem, dos meniscos e dos ligamentos estarão, seguramente, no grupo das mais frequentes e incapacitantes.

A que acha que se deve a evolução da medicina desportiva em Portugal?

A medicina e a traumatologia desportiva portuguesas atravessam, hoje, um momento de prestígio e notoriedade nunca antes alcançado.

A qualidade do ensino das nossas universidades, os referenciais de formação onde se estabelecem os objetivos de conhecimento e desempenho, os centros clínicos, as associações e ordens profissionais (médicos, enfermeiros, fisioterapeutas e outras) e o excelente trabalho das sociedades científicas na promoção da qualidade técnico-científica dos profissionais têm sido um contributo essencial.

O sucesso internacional do desporto de elite em Portugal, em várias modalidades, condiciona, simultaneamente, o avanço e a exigência na qualidade dos cuidados. Todavia, existe ainda uma falta de investimento preocupante no desporto amador, no controlo regular da saúde dos atletas, na prevenção de lesões no desporto e na orientação terapêutica para centros especializados. Ainda existem muitos clubes que não possuem uma equipa de profissionais de saúde e desporto e, esta carência, constitui um ponto fraco e uma ameaça para o desempenho atlético e/ou desportivo e para o bem-estar e a saúde dos atletas. Estamos a melhorar, mas precisamos de aperfeiçoar as estratégias de desenvolvimento profissional, a organização, realizar mais investigação e formação e estabelecer cooperação pública e privada em rede. Em 2002, quando iniciei as minhas responsabilidades na ESSKA, sociedade que tive a honra de presidir entre 2012-2014, contavam-se pelos dedos de uma mão os médicos que ocupavam lugares de chefia em sociedades internacionais. Atualmente, a situação melhorou muito e é com enorme satisfação que podemos ver portugueses, por exemplo, na ESSKA, ISAKOS, SECEC, EFORT, Patellofemoral  Foundation e na FIFA.

Qual foi, até então, o momento mais marcante da sua carreira? Porquê?

Ao longo da minha vida profissional, foram muitos os momentos de partilha de emoções e conquistas divididas com os doentes. Refiro-me às vitórias que se conseguem no bloco cirúrgico ou no consultório, num diagnóstico ou tratamento que evita a incapacidade ou que previne uma condição sistémica que ameace a qualidade de vida.

Nenhuma satisfação profissional supera a imensa alegria de encontrar, casualmente, um doente que atravessa a rua e nos diz: muito obrigado pela ajuda que me deu ao operar o meu joelho, há 10 anos, e me permitiu voltar a correr e a sorrir…

No plano material, a abertura da Clínica do Dragão, em 2006, no estádio do meu clube, permitiu um reconhecimento e visibilidade, no plano nacional e internacional, muito marcantes para a nossa equipa.

Quais os maiores desafios que já viveu?

O maior desafio da minha vida foi educar as minhas filhas e contribuir para a educação e preparação dos meus netos.

No entanto, gostava de referir que me dá uma enorme motivação estar ao serviço da minha equipa e do meu grupo ajudando-os a alcançar metas e objetivos, funcionando como enzima – eles também são parte integrante da minha família.
Na vida familiar, profissional, empresarial e no associativismo internacional, a soma vale mais do que as partes.

E os casos difíceis que não esquece?

Não esqueço, sobretudo, os casos em que partilhei sofrimento, preocupação e a ansiedade dos doentes quando as probabilidades estavam contra nós. Lembro-me da data de cirurgias e nome desses doentes. Nem faço nenhum esforço para esquecer – fazem parte da minha memória afetiva. Preciso de me recordar para fazer mais e melhor.

Que objetivos lhe faltam conquistar?

Há muito por alcançar e vitórias para replicar. Há, sobretudo, objetivos pessoais, culturais e de contributo social. Sou bastante pragmático nas minhas metas e objetivos, embora infelizmente nem sempre bem-sucedido…

Como gostava de ver o estado da Ortopedia e Traumatologia Desportiva e o Porto daqui a 50 anos?

No caso da minha especialidade, em certa medida, já iniciamos hoje um percurso, em que a cirurgia será substituída por tratamentos ortobiológicos: injeções, células, mediadores e medicina regenerativa. Poderemos oferecer mais e melhores tratamentos ortobiológicos, que podem atrasar ou mesmo evitar cirurgias. Avançaremos muito na identificação e predisposição genética, antecipando a doença e intervindo de forma preventiva. Existirão avanços extraordinários na tecnologia de imagem, robótica e inteligência artificial. A esperança e a qualidade de vida continuarão a melhorar.

Como muito bem referiu Agustina Bessa-Luís, a cidade do Porto é um sentimento e eu acrescentaria um sentimento autêntico, intenso e duradouro. Sentimento que nutre gente com história, guardiã de uma cultura e de uma nobreza sem par. Por isso o que são 50 anos na idade deste Porto se o Porto é eterno?

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