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Inês Torcato

Inês Torcato

Um talento em ascensão

É, atualmente, uma das designers mais importantes e conceituadas do panorama da moda nacional, tendo já desfilado as suas criações por prestigiados palcos, como é exemplo a passerelle principal do Portugal Fashion, mas não só. Inês Torcato estreou-se na plataforma Bloom, em 2016, e desde então que o seu nome não mais parou de brilhar. A criadora recebeu a VIVA! no seu atelier, que divide com o pai, Júlio Torcato, em pleno coração da cidade do Porto, e, numa conversa intimista, contou-nos como tudo começou, partilhou alguns dos momentos mais marcantes do seu percurso e revelou quais são os grandes objetivos para a sua carreira.

A moda está-lhe no sangue, mas, admite, não foi uma paixão desde sempre. Inserida, desde que nasceu, no mundo das tendências, não fosse o apelido Torcato já bem conhecido de outras gerações, Inês revela que foi somente numa fase mais tardia da sua vida que se apaixonou pela área que, hoje, a faz vibrar. Estudou Audiovisual, Multimédia e Pintura, na Escola Secundária Artística de Soares dos Reis e na Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, e ainda antes de chegar ao curso de Design de Moda, que tirou na Escola Superior de Artes e Design (ESAD), em Matosinhos, julgou que o seu percurso profissional passaria pela fotografia. “[A moda] era uma coisa tão presente na minha vida, tão normal, que eu tive que ir a outro sítio perceber que era isto que queria fazer”, explica. E terá sido, precisamente, com o amigo, e fotógrafo de moda, Frederico Martins, durante um “estágio não oficial”, em que era “assistente do assistente dele”, que sentiu “o tal clique”.

Na altura, com uma “desvantagem grande” em relação aos colegas que frequentavam o curso, uma vez que entrou em Design de Moda já a meio do segundo ano, Inês Torcato resolveu apostar em tudo aquilo que a poderia diferenciar como, por exemplo, o facto de ter estado na Faculdade de Belas Artes durante três anos e ter estudado Fotografia, aliando, ainda, o seu enorme talento pelo desenho, o que, indiscutivelmente, a levaram a criar “um valor diferente” nos seus trabalhos. “Era uma coisa que me diferenciava e fui aproveitando”, revela, enquanto explica que a “parte técnica estava um bocadinho para trás”, razão pela qual teve que se esforçar, ainda mais, para acompanhar a turma. Mas, como já diz o ditado, “filho de peixe sabe nadar” e esforço e dedicação são características que não faltam a esta jovem designer, cedo mostrou aquilo que vale e, rapidamente, vingou no mundo da moda.

Em 2016, estreou-se no espaço Bloom Portugal Fashion, de jovens designers, e no ano passado foi chamada a integrar os desfiles principais, um convite, inesperado, que surgiu quando estava em Roma a fazer um desfile com o Bloom, e que, naturalmente, a deixou “feliz”, mas, também, um pouco nervosa e ansiosa. “Pensei: eu tenho aqui uma coleção que estou a apresentar agora, que foi feita com o objetivo de fazer um desfile Bloom, se agora é o primeiro que vou fazer na passerelle principal, tenho que mudar isto tudo”, conta, revelando, ainda, que, na altura, alterou imensas peças e acrescentou outras, sendo, que nesse momento, sentiu, efetivamente, o peso da responsabilidade de estar a pisar o palco principal. Já “o momento do desfile” em si, destaca, “foi muito tranquilo”, até porque “já estava habituada a trabalhar naquilo com o meu pai”. No entanto, revela que esse momento teve, também, um lado sentimental associado. “Foi muito bonito estar na passerelle principal porque estava a trabalhar com as pessoas que, no fundo, me viram crescer ali”, diz com um brilho no olhar.

Com uma coleção particularmente especial apresentada em março deste ano no Portugal Fashion, inspirada na declaração universal dos direitos humanos, e destacada, em massa, pelos vários órgãos de comunicação social, conta que “Artigo 1º” foi algo que surgiu “de uma forma muito natural”, uma vez que o tema acaba por ser uma sequência da coleção anterior, “Alma”. “Acho que a questão dos direitos humanos esteve presente em todas as minhas coleções, porque sempre foi uma preocupação minha tentar que elas abrangessem um número grande de pessoas e que a mesma peça pudesse ser vestida por pessoas muito diferentes. Só que eu nunca anunciei, no fundo, que esta questão da igualdade era importante para o meu trabalho, apesar de ter estado sempre lá”.

E essa foi uma preocupação que, admite, foi surgindo ao longo das suas criações. Sem nunca ter feito “grande distinção entre aquilo que era a roupa de homem ou a de mulher”, sublinha que sempre tentou balancear a sua linha criativa com as chamadas “peças adaptadas”, ou seja, “criar a mesma peça adaptada a um corpo masculino ou a um corpo feminino”, algo que considera ser “a parte mais interessante” do seu trabalho. “É a mesma peça que está ali, só que tem uma adaptação às formas que vão estar dentro, que, no fundo, é aquilo que mais diferencia uma mulher de um homem. Portanto, acho mesmo que essa adaptação deve existir”, sublinha.

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Assume uma estética baseada na reinterpretação dos clássicos e exploração de novos elementos formais numa busca pela perfeição visual. Todas as coleções são autorretratos, e a inspiração vem sempre de uma análise ao comportamento, interação e existência do ser humano. Trabalha materiais clássicos como a lã fria, popeline e riscas de giz em cores neutras ou não, contrastando com materiais técnicos como nylons impermeáveis e malhas de performance desportiva.

A inspiração para as suas coleções pode acontecer a qualquer momento e em qualquer sítio, até porque o processo criativo de cada uma delas “varia muito”. “Não tenho uma fórmula matemática que me permita fazer coleções quando eu quero”, afirma, enquanto sorri, garantindo que a inspiração, por vezes, “vem do desenho” e outras surge através “dos tecidos”, porque esses, como, divertida, nos explica, “também pedem”. “Nós não podemos pegar num tecido qualquer e fazer a peça que nos apetecer”, salienta. A jovem, natural do Porto, sublinha, ainda, que se terminar uma coleção e, de imediato, começar o seu ritmo de trabalho normal, acaba por “desenhar coisas iguais” às anteriores, sentindo, por isso, a necessidade de fazer, pelo menos, uma semana de pausa entre cada apresentação.

Sobre os momentos que mais marcaram a sua carreira, Inês Torcato não consegue eleger apenas um, porque “todos os desfiles são especiais”. Mas, sublinha que aquele que, possivelmente, mais a marcou, “na altura porque também tinha muitos sonhos e era miúda”, tenha sido o convite da Vogue Itália para ir a Milão fazer uma feira e para estar no suplemento do Vogue Talents. “É sempre algo importante para uma pessoa que está a começar a carreira. Foi a minha primeira coleção no Bloom e fizeram-me esse convite. Portanto, foi especial, para alguém que caiu ali depois de um concurso, porque, até aí, nunca tinha feito uma coleção tão grande”, reforça.

Já com algumas ações internacionais realizadas, como feiras e showrooms em Paris e em Milão, e consciente da importância do reconhecimento da marca em solo nacional, revela que o principal objetivo da sua carreira é, sem dúvida, a internacionalização da marca Inês Torcato. “Gostava muito de começar a vender lá fora, até porque acho que é o melhor mercado para nós [designers] neste momento”, explica. A criadora está segura de que lá fora há uma recetividade maior não só à moda portuguesa, mas à moda de autor em geral, algo que, possivelmente, ainda, falha no que respeita ao nosso país. “As pessoas acham sempre que tudo o que é feito por designers é uma coisa muito espalhafatosa, que não é. Pode ser, efetivamente, uma coisa muito alternativa, ou diferente, fora do habitual daquilo que vemos na rua, em desfile, mas, depois, se por acaso, nos dermos ao trabalho de desconstruir o coordenado que está a ser apresentado, vemos que é feito de peças que podem ser conjugadas com outras e facilmente usadas no dia a dia”, nota, acrescentando que o “preconceito” dos preços também é uma realidade. “Há a ideia de que nós temos preços muito altos, de que é tudo muito caro, o que muitas vezes também não é”.

Um dos sonhos de Inês Torcato, revela, era ver alguém vestido com roupa sua a passear pela rua, algo que, curiosamente, já aconteceu, “embora não com uma pessoa completamente desconhecida”. O que, pelo contrário, já aconteceu com calçado e diz ser “muito engraçado” e “uma sensação boa”, porque “temos uma pessoa que não é conhecida, que está a passar na rua, à nossa frente, não faz a mínima ideia de quem nós somos, mas está a usar algo que nós criamos”. Mas, o grande sonho da jovem designer, admite, é, realmente, “vender no mundo inteiro” e “ter uma marca reconhecida mundialmente”.

Os dias que antecedem grandes eventos como o Portugal Fashion
“São um bocadinho um caos. Sempre!”, diz, sem hesitar, reforçando que as duas semanas antes são sempre “muito complicadas, de confusão, de trabalho, de tratar dos últimos pormenores”. Há peças que podem ser mudadas à última hora na coleção, ou até mesmo acrescentadas, porque, como explica, às vezes, “quando chega a altura de fazer um desfile há coisas de que já não gosta tanto”, tendo em conta que esteve, muito tempo, “com aquela coleção”. Aliado a essas indecisões, há, também, “a confusão de organizar tudo”, uma vez que é necessário “preparar a coordenação do desfile”, o que implica “tratar dos cabelos e da maquilhagem” e “decidir que modelo vai vestir o quê”, algo que confessa gostar muito, assim como os dias que antecedem grandes desfiles. Já quando chega a hora de apresentar a coleção ao público sente-se sempre muito nervosa, revela. “Primeiro porque não sei se a peça foi bem. Eu estou a arranjá-los [modelos] antes de eles entrarem para a passerelle, mas, depois, se eles se mexerem ou assim, pode ficar qualquer coisa mal, ou melhor, não ficar como eu quero”, realça, destacando que o nervosismo também surge, naturalmente, porque nunca sabe “quais vão ser as opiniões do público”.

A roupa, e calçado, de Inês Torcato encontram-se, neste momento, à venda no atelier que partilha com o seu pai, Júlio Torcato, no nº 118 da Rua Sacadura Cabral, na Wrong Weather e na Farfetch.

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