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Ilhas do Porto

Ilhas do Porto
Dez mil portuenses vivem em ilhas

Feitas as contas, há dados que talvez possam surpreender: a cidade do Porto ainda tem 957 núcleos habitacionais pertencentes ao conceito de “ilha”, onde moram cerca de 10.400 pessoas. O número de residentes não chega, atualmente, a metade dos que lá habitavam em 2001, mas a verdade é que 4,4% dos portuenses residem entre os pátios e os corredores exíguos destes bairros. Informações que, segundo reconheceu a autarquia portuense – que encomendou um estudo de caracterização das ilhas do concelho a investigadores da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto – não podem cair no esquecimento. “Não é possível ignorar que um em cada 20 cidadãos vive numa ilha, muitas vezes em condições que não são dignas de habitabilidade”, constatou o vereador da Habitação e Ação Social, Manuel Pizarro, sublinhando que “a realidade” necessita de uma resposta urgente do poder político.

Para Isabel Breda Vázquez e Paulo Conceição, coordenadores da investigação, entre os possíveis modelos de intervenção aplicáveis a este tipo de alojamento tão característico da cidade estão a demolição ou a reabilitação de alguns núcleos. E partindo destes pressupostos, o presidente da Câmara, Rui Moreira, já fez saber que o município está a preparar um programa de reabilitação e de regeneração das ilhas da cidade, processo esse que não poderá cumprir de forma “solitária”, já que a maior fatia destes núcleos está na mão de privados. De acordo com o estudo, apresentado na passada segunda-feira (20 de abril), Campanhã é a freguesia com maior número de ilhas (243), seguida do Centro Histórico (176) e de Paranhos (155). No pólo inverso o destaque vai para a União das Freguesias de Lordelo do Ouro e Massarelos, com apenas 75. De referir ainda que as cerca de mil ilhas espalhadas pelo mapa do Porto são compostas por mais de oito mil casas, ainda que só 4900 estejam habitadas.

ilhas_3Pobreza instalada na generalidade das habitações

As conclusões avançadas indicam que a pobreza é uma realidade instalada na maioria das casas: 73% das famílias que vivem em ilhas têm um rendimento inferior a dois salários mínimos, sendo que 30% não dispõem, sequer, dos 485 euros que vigoravam até à data da realização do estudo. Desde o último inquérito, efetuado em 2001, o desemprego disparou. Se, na altura, 37% dos moradores estavam empregados, agora, o número não ultrapassa os 18%. Os desempregados superam os 19% e os reformados ascendem a 44,9% (eram 31,6% há 14 anos). Apenas 4,1% dos agregados beneficiam do subsídio de desemprego e 6,7% contam com rendimentos sociais. Quase 2% das famílias estão em situação de carência extrema, sem qualquer rendimento mensal. O levantamento desenvolvido pela FEUP ressalva a inexistência de lavatórios e instalações de banho ou duche com água quente em 15,1% e 12,9% das ilhas, respetivamente.

Há novos ocupantes entre os moradores mais velhos

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Se é certo que existe uma predominância de residentes velhos e isolados – a média de idades é de 53 anos e os residentes com mais de 65 anos constituem 37% dos cidadãos – também é verdade que 12,4% dos moradores destes núcleos se instalaram ali há menos de cinco anos. A presença portuguesa é de 97,4%, mas já se ouvem outras línguas nos pátios, entre os tanques de cimento. As rendas baratas atraem os imigrantes da Europa de Leste, da América do Sul, de África, do Nepal e da Índia. No topo da lista de nacionalidades estão búlgaros, brasileiros, angolanos e cabo-verdianos.

ilhas_234% não quer mudar de casa

Apesar dos vários problemas descritos por Isabel Breda Vázquez e Paulo Conceição – degradação, ausência de equipamentos básicos interiores ou exteriores, problemas de vizinhança ou isolamento – continua bastante evidente o sentimento de pertença vivido nas ilhas. Assim, 60% dos inquiridos estão “satisfeitos” com o seu alojamento, sendo que 34% não quer mudar de casa. Todavia, a maioria (54%) reconhece o desejo de mudança e, deste grupo, 60% afirmou que gostaria de morar num espaço reabilitado na mesma ilha. À luz da pesquisa efetuada no terreno, a renda média nestes núcleos habitacionais é de 85 euros – superior aos 57 euros de renda média numa habitação camarária. Mas para os mais recentes residentes, o valor ascende aos 162 euros.

Não ignorar o “problema das ilhas” e passar a encará-las “como uma enorme oportunidade” é, para Manuel Pizarro, a grande estratégia a adotar. De acordo com o vereador, há que requalificá-las e dar-lhes “novos usos”, não esquecendo que o Porto é uma cidade “com dezenas de milhares de estudantes universitários”. “Algumas delas talvez pudessem ser transformadas em residências de estudantes”, sugeriu o responsável.

Texto: Mariana Albuquerque   |   Fotos: estudo “Ilhas do Porto”

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