De 22 a 28 de novembro, uma equipa composta por sete pessoas de diferentes nacionalidades estará isolada na Gruta do Natal, localizada na Ilha Terceira, nos Açores. No local, será replicado o ambiente lunar como parte da primeira missão do projeto CAMões, que significa “Caving Analog Mission for Ocean, Earth and Space Exploration”, ou seja, “Missão Analógica de Escavação para Exploração do Oceano, da Terra e do Espaço”, naquela que é a tradução literal para português.
O projeto em questão tem como objetivo principal transformar os Açores num local de teste para astronautas de todo o mundo e é promovido pela Associação Os Montanheiros e pelo INESC TEC – Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Tecnologia e Ciência. A apresentação oficial do projeto está agendada para 8 de novembro, no próprio INESC TEC.
Qual o potencial de Portugal para o treino de astronautas? Que importância tem a missão para os Açores? Que fatos vão ser usados? O que vai ser feito dentro da gruta? Tudo questões que serão esclarecidas, numa apresentação que “dá a conhecer os detalhes da missão que coloca a Gruta do Natal, nos Açores, como o cenário ideal para missões de investigação que podem contribuir para estudos análogos e auxiliar no planeamento e design de missões lunares e marcianas”, tal como é referido em nota à imprensa.
Ana Pires, pesquisadora do INESC TEC, destaca a riqueza da estrutura natural da gruta, composta por tubos de lava., constatando que astronautas de diferentes agências espaciais, como a ESA e a NASA, procuram este tipo de ambiente para treinamento de geologia planetária, devido às semelhanças com os tubos de lava presentes em Marte e na Lua. Testar a estabilidade geotécnica dessas estruturas é crucial para considerá-las como potenciais locais para futuras missões espaciais, protegendo os astronautas das radiações, por exemplo.
É uma situação histórica, na medida em que seria a primeira missão deste tipo a ser realizada em Portugal. A expectativa é que, até 2024, a Gruta do Natal seja um local fidedigno e validado para missões análogas. Para que isso aconteça, depois desta missão inaugural, o projeto CAMões irá permitir a participação de equipas da comunidade nacional e internacional em próximas missões.
Durante sete dias e seis noites, a tripulação será a primeira a pernoitar nesse ambiente. Representam cinco países e falam oito idiomas, sendo que, entre todos, abrangem mais de 11 áreas de conhecimento. Aproveitando as características únicas e a biodiversidade da gruta como cenário científico e de pesquisa, irão conduzir estudos em várias áreas, assim como treinos, testes de tecnologias, coleta de dados e outras atividades científicas. Do lado de fora, uma equipa de especialistas em espeleologia, vulcanismo, microbiologia, geoquímica e medicina espacial atuará como “centro de controle da missão.” Haverá, ainda, em permanência, uma equipa médica multidisciplinar, voluntária no projeto.
No entender de João Claro, CEO do INESC TEC, trata-se de uma iniciativa de grande importância que demonstra o potencial de Portugal em termos de recursos naturais, geológicos e de pesquisa interdisciplinar. O próprio enfatiza, ainda, a colaboração em rede de alta qualidade entre instituições e pesquisadores, prevendo que este projeto consiga marcar o posicionamento de Portugal nesta área.
O projeto envolve vários parceiros nacionais e internacionais e possui uma forte ênfase educacional nas áreas de Ciências, Tecnologia, Engenharia, Artes e Matemática (STEAM). O programa Ciência Viva e ESERO desempenham um papel importante na divulgação desta missão nas escolas, num projeto que é multicultural e envolve pessoas de diferentes partes do mundo.
A apresentação oficial da missão análoga começará às 14h30, no dia 8 de novembro, no INESC TEC, no Porto.
Fotografias: @marcbluhm_
