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“Generais da Ulla” – Carnaval galego

“Generais da Ulla” – Carnaval galego
Carnaval da Ulla: segredos de um património cultural

Montados a cavalo, de postura correta e espada em punho, percorrem os concelhos vizinhos e atiram “Vivas!” aos visitantes, atraídos pelo colorido dos seus trajes e pelos momentos de aparente tensão, que terminam sempre com enérgicos aplausos do público. O imponente tricórnio que ostentam na cabeça é, talvez, o elemento mais característico dos destemidos “Generais da Ulla”, protagonistas de uma festa de carnaval rural considerada, em setembro de 2013, uma celebração de Interesse Turístico na Galiza.

Mas desenganem-se aqueles que julgam que o enredo festivo se esgota aqui. No Carnaval da Ulla – que pinta de alegria os concelhos de Boqueixón, Teo, Touro, Vedra e Santiago de Compostela (pertencentes à província da Corunha) e de Vila de Cruces, Silleda e A Estrada (integrados em Pontevedra) – há um verdadeito “exército”, onde pessoas de distintas gerações celebram uma tradição que remonta à primeira metade do século XIX. A festividade galega arranca no próximo sábado, dia 22 de fevereiro, prolongando-se até 9 de março, com 26 ações espalhadas pelos diferentes concelhos situados nas proximidades do rio Ulla.

carnaval_esp1À cabeça da procissão – e também a cavalo – surgem os “correios”, cuja função mais não é do que a de anunciar a chegada dos generais. E nesta expressão autêntica e genuina do Carnaval tradicional galego – influenciado pelos confrontos bélicos da época, nomeadamente a revolução de 1846, contra o Governo de Narváez, e as Guerras Carlistas – pouco importa o género. Homens ou mulheres, todos podem “sentir na pele” o peso dos chapéus típicos (que pesam cerca de três quilos) e desempenhar o papel de protagonistas de uma história embelezada com adornos puramente carnavalescos. Do rol de personagens desta ação fazem ainda parte o Rei e a Rainha, com a incortornável coroa, os portadores das bandeiras, normalmente vestidos com um uniforme militar, o chamado coro dos “bonitos”, formado por rapazes e raparigas com o tradicional traje galego, e o coro de velhos, igualmente alegre e colorido. A comitiva não ficará completa sem algumas figuras pitorescas, personagens atuais e outras exclusivas de cada concelho.

carnaval_esp4Faça chuva ou faça sol, os ingredientes estão lançados e os “Generais da Ulla” colocam pés ao caminho. Percorrem diferentes locais ao longo do dia e terminam a jornada com um dos momentos mais aguardados do público: os confrontos verbais, que os generais protagonizam aos pares, de espada em riste, aproveitando para discutir questões locais, da política e do coração, muitas vezes recorrendo à sátira. Os rituais associados a esta festa, vivida tão intensamente pelos municípios espanhóis envolvidos, estão a conquistar um número crescente de turistas, ávidos de serem acolhidos com contagiantes “Vivas!”, disseminados pelo cortejo. E os trajes utilizados, esses, são dos aspetos mais apreciados.

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carnaval_esp6A peculiaridade das vestimentas

O tricórnio usado pelos generais é, para locais e visitantes, o artefacto “mais espetacular” de toda a fatiota. Forrado a veludo e cravejado de missangas e franjas, o chapéu é enriquecido com altíssimas plumas de pavão real, que acabam por revelar o “poder” do general. A jaqueta é a segunda peça mais vistosa, normalmente de veludo preto e decorada com fitas douradas e medalhas, colocadas a gosto. Presas aos ombreiros e a cruzar o peito do general estão as bandeiras espanhola e galega, normalmente utilizadas em conjunto, conferindo ao traje um caráter militar. Sobre a jaqueta há ainda uma faixa, usada à volta da cintura, embelezada com elementos dourados. As calças, próprias para montar a cavalo, podem ser brancas ou pretas. A espada é outro acessório fundamental do figurino, enfatizando a bravura da “luta” entre generais.

Sabores carnavalescos

O Carnaval da Ulla é também, por excelência, uma boa época para apreciar pequenos segredos da gastronomia galega. Para compensar a proximidade do período de abstinência imposto pelo calendário religioso, as atenções centram-se, sobretudo, na carne: de porco, de vaca e de ave. O cozido galego, muito semelhante ao famoso prato carnaval_esp3típico português, é um dos “reis” da temporada, acompanhado de grelos, batata cozida e grão de bico. Os vinhos alvarinhos, a aguardente e os licores compõem a lista de delícias da região. Esta é também a época das chamadas “filloas” (em tudo semelhantes a crepes) que podem ser servidas juntamente com o cozido ou como sobremesa. Sempre presente está também o queijo, inegavelmente apreciado na região, e muitas vezes servido com marmelada.
Mas para aqueles que não são tão fãs de carne, os “Generais da Ulla” têm uma solução, ou não fosse a lampreia uma das grandes riquezas daquele rio. Segredos de uma Festa de Interesse Turístico que a Galiza está prestes a revelar, uma vez mais, mas de forma única. E que entrem os Generais.

Texto: Mariana Albuquerque   |  Fotos: Turismo da Galiza
Calendário completo: www.xeneraisdaulla.com

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