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Gaia: Festival CALE-se

Gaia: Festival CALE-se
Como manda a tradição

Os parcos apoios concedidos à realização do festival transformaram-no num “ato louco”, ou melhor, “heróico”, e o certo é que, uma vez mais, a tradição vai ser cumprida em Vila Nova de Gaia. A oitava edição do “CALE-se” Festival Internacional de Teatro arranca este sábado, na Associação Recreativa de Canidelo, com a promessa de mostrar ao público, até ao dia 22 de março, o que de melhor se vai fazendo no teatro não profissional. Dinamizado pelo Cale Estúdio Teatro, o certame é o único do país que se dedica à competição entre grupos amadores, consagrando, a cada edição, uma figura “maior” do setor. Os grupos são distinguidos nas categorias de Interpretação, Cenografia, Desenho de Luz, Figurinos, Sonoplastia, Espetáculo e Encenação, havendo ainda o prémio do Público para o Melhor Espetáculo. Cinco comédias, dois dramas, uma tragicomédia e uma fantasia compõem o rol de propostas do festival deste ano, que terá como grande homenageada a atriz Fernanda Lapa.

cale_se014_2Ruy de Carvalho, Adelaide João, Margarida Carpinteiro, Nicolau Breyner, Maria do Céu Guerra, Vítor de Sousa e Rui Mendes foram outros nomes em destaque nas edições anteriores. “Todos eles, pelo seu excelente trabalho, pela sua carreira, são um exemplo e uma inspiração a quem aprende um pouco mais em cada espetáculo que faz. A todos eles, a população portuguesa, em geral, e os amantes e praticantes de teatro, em particular, devem a sua homenagem”, sublinhou Cândido Xavier, diretor do festival, adiantando que essa é exatamente uma das missões da iniciativa: homenageá-los “enquanto podem ouvir o nosso obrigado por tudo quanto nos têm dado e não quando as flores falam por nós”.

Em declarações à Viva, o responsável salientou ainda o “currículo digno e invejável” de Fernanda Lapa, sobretudo ao nível da encenação, “um papel primordial na construção do espetáculo teatral que tantas vezes é secundarizado”. “Também pelo seu projeto ‘Escola de Mulheres’ merece o nosso aplauso”, acrescentou. Com presença confirmada na sessão de arranque do CALE-se, a encenadora criou a Casa da Comédia, onde se estreou como atriz sob a direção de Fernando Amado, na peça “Deseja-se Mulher”, de Almada Negreiros.

De resto, as novidades prendem-se com os grupos participantes, os espetáculos a concurso e a composição do júri. “A estrutura [do festival] está estudada e testada, resulta e vamos continuar a ‘receita’”, referiu o diretor do evento. A diversidade das propostas programáticas é, para Cândido Xavier, uma das grandes mais-valias do certame. cale_se014_3“Dentro das candidaturas apresentadas, tentamos selecionar espetáculos que agradem a um público heterogéneo, ou seja, abarcar ao máximo todos os géneros”, informou. E como ‘rir é o melhor remédio’, o festival arranca este sábado, pelas 22 horas, com a comédia “À deriva”, da Associação de Juventude de Idanha-a-Nova (AJIDANHA), numa adaptação livre do texto “Em alto mar”, de Slawomir Mrozek. Ao longo da peça, o público vai poder conhecer a história de dois homens e uma mulher perdidos em alto mar, na sequência do que se julga ter sido uma catástrofe natural.

Com a mesma missão – a de despertar a gargalhada do público – será apresentado pela companhia de Matosinhos Cataus RM o espetáculo “Os pires de Sacavém”, de Ascensão Barbosa e Abreu e Sousa, no dia 8 de fevereiro, numa caricatura dos costumes de uma pequena burguesia portuense da década de 70 do século passado. A lista de comédias do CALE-se integra ainda a “Fábrica do Nada”, de Judith Herzberg, peça protagonizada pelo Teatro Experimental de Mortágua a 8 de março; “Os dois menecmos”, de Plauto, pelas mãos do Ultimacto – Grupo de Teatro Cem Soldados (15 de março) e, por fim, “A história é uma história”, de Millôr Fernandes, num trabalho do Grupo Dramático e Recreativo da Retorta (22 de março).

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cale_se014_4A programação inclui ainda os dramas “Sem saída”, de Cátia Assunção, com apresentação marcada para 1 de fevereiro, pelo Grupo de Teatro Renascer, e “A promessa”, de Bernardo Santareno, protagonizado pelo Grupo Mérito Dramático Avintense no dia 22 do mesmo mês. Mas antes disso, a 25 de janeiro, a companhia espanhola Taller de Teatro de Pinto apostará na tragicomédia “A porta estreita”, de Eusébio Calonge, peça que conta a história de uma imigrante cujos sonhos ficam por realizar. A programação deste ano propõe também uma aventura “No mundo das maravilhas do nada”, espetáculo de fantasia de Jorge Geraldo, apresentado pela Loucomotiva – Grupo de Teatro de Taveiro a 1 de março.

Equipa “coesa e dedicada” segura festival

Durante a organização do evento, o drama é outro: o de arranjar apoios que assegurem a sobrevivência do CALE-se. No entanto, segundo Cândido Xavier, há um grupo de pessoas que teima em bater o pé às dificuldades, contornando-as. “Apenas tem sido possível graças ao trabalho de uma equipa coesa e dedicada. De outro modo era impensável. Mas não deixa de ser um ato louco ou heroico – a fronteira é ténue”, confessou, sublinhando que uma das mais “árduas tarefas” tem sido fazer corresponder os elogios públicos às ajudas cale_se014_5recebidas. “Não se percebe como é que enormes elogios se têm refletido em parcos apoios”, lamentou, defendendo que, apesar de as palavras de incentivo serem “importantes”, é “essencial convertê-las em apoio que permita manter este marco da cultura em Gaia”. O diretor da iniciativa reconheceu, contudo, estar otimista em relação aos novos executivos autárquicos, que “já deram provas do seu empenho em alterar a situação”.

O que move a equipa organizadora? Talvez o entusiasmo do público, que tem procurado o festival de forma assídua, provando que “a aposta feita na qualidade dos espetáculos selecionados está ganha”. “E isso sente-se na expectativa anual do público face ao festival”, observou o responsável.
O preço dos bilhetes mantém-se inalterado: a entrada simples custa três euros e a dupla (de casal) cinco euros, sendo que as crianças não pagam e os portadores do Passaporte Cultural de Gaia beneficiam de um desconto de 50%. O júri do 8.º CALE-se será composto por Cândido Xavier, Moura Pinheiro (ex-professor da ESMAE) e Isabel Marcolino (licenciada em Teatro pela ESAP).

Texto: Mariana Albuquerque   |    Fotos: CALE-se Festival Internacional de Teatro

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