Vai chegar à cidade do Porto um pouco mais tarde do que é habitual – para recuperar a ligação ao público escolar – e promete honrar, ainda que com recursos financeiros «substancialmente inferiores», o projeto iniciado há mais de 20 anos por Isabel Alves Costa. O Festival Internacional de Marionetas do Porto (FIMP) 2013 arranca no dia 11 de outubro com um programa repleto de espetáculos, formações, filmes e exposições. «Da revisitação das formas tradicionais portuguesas às experiências criativas, que se situam claramente para além das fronteiras mais evidentes da marioneta, passando pelas propostas dirigidas aos mais novos e pela formação, há – apesar de todas as dificuldades que atravessamos – muito para ver e ouvir, para fazer e viver» nesta edição do FIMP, apontou o diretor artístico do festival, Igor Gandra.
Na procura de «enquadramentos alternativos» para as expressões da marioneta que emanam da cultura dos povos, o evento pretende evidenciar o «nosso próprio povo», através dos tradicionais Bonecos de Santo Aleixo e Dom Roberto. Mas o responsável deixa uma promessa: «ambas as formas serão apresentadas em contextos urbanos bastante distantes dos circuitos culturais mais previsíveis e dos roteiros turísticos que marcam a cidade».
Até ao dia 20 de outubro, os seres inanimados “mais vivos de sempre” vão, assim, apoderar-se do Teatro do Campo Alegre, do Mosteiro de São Bento da Vitória, do Cinema Passos Manuel, da Fábrica Social e do edifício Axa para uma aventura durante a qual a «formação artística» do público terá um papel central.
Até ao dia 13 de outubro, a Limite Zero Associação Cultural vai apresentar, no Teatro do Campo Alegre, uma adaptação do clássico “As Viagens de Gulliver”, do escritor irlandês Jonathan Swift. Para o organismo cultural, apesar de datada do século XVII, a obra surge como “um forte referencial intemporal”, representando uma sátira às instituições e ao próprio ser humano. Entre os destaques da programação está também, segundo Igor Gandra, o concerto de Ellen Fullman e Konrad Sprenger, agendado para o dia 11 de outubro, no Mosteiro de São Bento da Vitória. Durante a performance, será apresentado, em estreia nacional, o projeto “Long String Instrument”, em que Fullman representa e toca um instrumento composto por dezenas de longas cordas esticadas. “A nós interessa-nos muito porque este festival tem uma tradição de testar um pouco as fronteiras, os limites, o que é reconhecido como sendo a marioneta” esclareceu o diretor artístico do FIMP.
E nos dias 11 e 12, o Cinema Passos Manuel vai dar as boas vindas ao «hábil mecânico» e «mestre de marionetas» Viktor Antonov, para uma performance intitulada “Circus on the Strings”, onde participam atores de todo o mundo. Um «faquir que faz crescer uma flor em frente ao público», uma família de «acrobatas da selva», um «homem forte num monociclo», um «engolidor de espadas» e uma «bonita rapariga oriental» são algumas das figuras presentes neste «regresso às tradições esquecidas do teatro de marionetas». Mais tarde, de 17 a 20, o público será desafiado a conhecer a menina Carla Cosmonauta, «que por acaso é uma marioneta». Ao longo de “Uma Aventura no Espaço”, vivida no Teatro do Campo Alegre e dinamizada pelo Teatro de Ferro, os espectadores «serão acompanhados por dois atores e uma pianista» numa viagem pelas diferentes representações do Estado. No dia 20 deste mês, a programação do FIMP estará muito centrada nas formas tradicionais, chegando ao Bairro do Lagarteiro com teatro “Dom Roberto” e não dispensando também os Bonecos de Santo Aleixo, marionetas tradicionais do Alentejo.
«O melhor dos conhaques» é… a formação artística do público
Para além dos espetáculos, tendo em conta que a organização do festival acredita que «um bom trabalho de experimentação e de aprendizagem pode ser melhor que o melhor dos conhaques, serão realizados três WOP’s (chamam-se assim os workshops no FIMP) perfazendo uma duração total de 14 dias, sendo que dois são orientados por artistas internacionais e um por portugueses», esclareceu Igor Gandra. Anna Ivanova-Brashinskaya vai dirigir o “Show me a Story”, um workshop centrado no desenvolvimento de uma narrativa puramente visual, que iniciará os participantes nos «elementos básicos da arte dramática aplicada à narrativa de estórias sem palavras». O programa de atividades do FIMP integra outra ação de formação conduzida por Ellen Fullman, centrada no instrumento musical desenvolvido pela artista norte-americana – o Long String Instrument. Dirigida a profissionais da criação plástica, cenógrafos, escultores e artesãos está a oficina “Desconstrução de objetos”, que será orientada pela companhia “Antigua i Barbuda”, numa parceria entre o FIMP e o FITEI (Festival Internacional de Teatro de Expressão Ibérica).
Já mais perto do fim do evento, no dia 16, o Teatro de Marionetas do Porto vai apresentar o espetáculo “Pelos Cabelos”, habitado «por personagens insólitas, de olhares ausentes e alucinados, onde o humor e o absurdo se fundem para mais uma experiência com muitas marionetas». Nesta performance, «atores e marionetas habitam um lugar algures, um Lá, lugar distante quase extraterreno, onde há histórias de cabelos que nunca são cortados, que não param de crescer, que criam laços e muitas, muitas, muitas ligações».
Texto: Mariana Albuquerque
