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Farturas Tati

Farturas Tati
De terra em terra a… adoçar

Parece simples, mas não é para qualquer um. A confeção de farturas – os tão apreciados doces que podemos encontrar nas festas populares e que fazem as delícias de miúdos e graúdos – exige determinadas competências, escondendo, muitas vezes, segredos transmitidos de geração em geração. A verdade é que, como dizem os mestres fartureiros, “é preciso ter mão para a coisa”, já que estes bolos não resultam apenas de um casamento entre farinha e açúcar. Se, nos churros, se utiliza somente água a ferver, nas farturas é necessário apostar numa combinação de água quente e fria, muito influenciada pela temperatura exterior. E, depois, há que não esquecer, ainda, o óleo, que tem de estar “a uma temperatura certeira” para que a fartura não o absorva demasiado. O aviso é de Rodolfo Teixeira, proprietário da roulote onde se vendem as Farturas Tati.  

O negócio – presente na família do matosinhense desde o tempo dos seus avós – já teve anos ‘de ouro’, nos quais era possível ganhar o suficiente no verão para passar o inverno em casa. Hoje, o cenário mudou completamente. Casado e com dois filhos, Rodolfo não tem férias nem folgas, sendo que o seu dia de trabalho começa às 8h00 ou 9h00 e só termina depois das 2h00 da madrugada. “Muitas vezes para fazer apenas 50 ou 60 euros”, contou. O auge do negócio é, naturalmente, na época do verão. Com a chegada do frio, identificam-se as festas de S. Martinho e “uma ou outra de natal” onde os doces possam ser bem-vindos e, de resto, é parar o camião numa zona movimentada e acreditar no poder de sedução do aroma a canela. “É muito complicado. churrosDurante o inverno, estamos nas poucas festinhas que se fazem e, depois, temos de ir pedir às juntas ou às câmaras se nos deixam estacionar a roulote nas freguesias a ver se conseguimos vender alguma coisa para, pelo menos, pagar as despesas”, afirmou.

Até ao final de janeiro, o camião de Rodolfo estará parado em Águas Santas, para manutenção. Mas, a partir do início do próximo mês, a roulote Tati volta à estrada. “Vou para Lousada e, de seguida, arranco para Pedrouços, na Maia”, contou, acrescentando que, em novembro passado esteve em Penafiel e, recentemente, em Leça da Palmeira. Esta última paragem ficou muito aquém do pretendido. “Em cem carros que passavam parava um. Deu para as despesas e não tive lucro nenhum”, referiu.

“Grande falta de apoio do Estado”

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A inexistência de apoio do Governo é uma das causas apontadas por Rodolfo Teixeira para as dificuldades enfrentadas pelos empresários da diversão. “Muita gente critica, na Internet, as manifestações realizadas [por estes profissionais] em Lisboa, mas a verdade é que as pessoas não sabem que nós temos de pagar tudo: à junta, à câmara, ao Estado e até às comissões de festas”, explicou o fartureiro. E prossegue com outro exemplo. “O meu camião faz mil quilómetros por ano e eu tenho de pagar 700 euros de selo, tal como uma empresa que faz um milhão de quilómetros ou mais”, ilustrou. Além disso, recorda que também os trabalhadores desta área são prejudicados pelo mau tempo, que lhes afasta a clientela. “Se chover muito, nós somos afetados tal como os agricultores. Até podemos ir para a televisão reivindicar, mas não nos dão nada”, garantiu.

Criado numa família ligada ao ramo – os pais têm um carrossel – Rodolfo concluiu o 9.º ano e optou por abandonar os estudos. É por isso que, apesar de reconhecer a dificuldade de viver unicamente do negócio das farturas, não tenciona aventurar-se noutra área. “Para arranjar outro emprego pedem o 12.º ano e cursos superiores, por isso não dá”, constatou, não descartando completamente a hipótese da emigração. “Enquanto der para viver ficamos. Quando não der, vendo o camião e vamos todos para fora”, referiu.

fartura“Prefiro que os meus filhos estudem”

A esposa de Rodolfo – que, em miúda, sonhava ser enfermeira – acabou por render-se aos encantos do fartureiro e, hoje, alinha no negócio da família. O casal vive no Porto (em casa da sogra do matosinhense) e tem dois filhos: um com seis anos e uma menina de apenas dois. “O mais velho fica na minha sogra durante a semana e, depois, à sexta-feira à tarde, vou buscá-lo para estar comigo. Ao domingo, ao fim do dia, levo-o outra vez”, contou, revelando que longe vão os tempos em que conseguia imaginar o futuro dos filhos no negócio da venda de farturas. “Prefiro que estudem e tenham uma vida calma: que se levantem de manhã cedo e que, ao final da tarde, cheguem a casa com o dia ganho”, afirmou, demonstrando o cansaço de um dia a dia sem pausas, sempre com a próxima deslocação no pensamento.

Texto: Mariana Albuquerque

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