Em conferência de imprensa realizada recentemente, Beatriz Pacheco Pereira, uma das organizadoras, defendeu que o festival enfrenta um grande “problema de sustentabilidade”. E Mário Dorminsky, diretor do evento, acabou por admitir que, este ano, a realização da iniciativa foi viabilizada pelos apoios de última hora e também pelo facto de o Fantas ter “muitos amigos”. Aliás, acrescentou, dos 140 convidados deste ano, muitos foram aqueles que aceitaram pagar a viagem do próprio bolso. Por isso, prometeu Dorminsky, “o Fantasporto 2013 vai ser tão bom ou melhor do que o dos anos anteriores e com menos dinheiro”.
Num cenário de clara diminuição dos apoios ao evento, a equipa organizadora não deixou, assim, de apelar à participação do público nesta “festa do cinema”, que decorrerá no Rivoli Teatro Municipal até ao dia 10 de março. “Se há ano em que a verba de receita da bilheteira é importante é este”, reconheceu o diretor, esclarecendo uma vez mais que o apoio dos privados tem vindo a cair significativamente nos últimos tempos. Neste momento, contrariamente ao que acontecia há cerca de cinco anos, a maior fatia do orçamento do festival (60%) é proveniente do Estado.
De resto, as expectativas mantêm-se elevadas neste “festival que toda a gente já conhece”. A edição de 2013 arrancará com uma sessão na qual serão exibidos o clássico “Os Sapatos Vermelhos – The Red Shoes” (1965), da dupla Michael Powell e Emeric Pressburger, numa celebração dos 60 anos do filme, e ainda “Mamã”, de Andrés Muschietti, um filme de terror produzido por Guillermo del Toro, com Jessica Chastain no principal papel. De salientar também a exibição de “O Planeta Selvagem”, única longa metragem de animação premiada em Cannes, que vai ser recriada com música ao vivo dos portugueses Beautify Junkiards.
Outra das novidades reside na homenagem a António de Macedo, “um dos mais prestigiados e esquecidos cineastas portugueses”, que já esteve representado no Fantas através da sua vertente mais fantástica, nomeadamente com “Os Abismos da Meia-noite” e “Os Emissários de Khalom”. Mas como o evento não se esgota na exibição de filmes, haverá ainda outras ações culturais a ocupar os diferentes espaços do Rivoli. No hall de entrada do equipamento cultural portuense, o público poderá encontrar a escultura em grande formato de Paulo Neves. O terceiro piso será “invadido” por algumas das estrelas do cinema francês (Isabelle Hupert, Sandrine Bonnaire, Jacqueline Bisse, Delphine Seyrig, Catherine Deneuve e Jeanne Moreau), numa exposição de retrospetiva da sétima arte gaulesa. A não esquecer que o Programa Especial do 33.º Fantasporto será dedicado à Literatura.
E como 2013 “é um ano cheio de grandes regressos”, o Fantas voltará a contar com a secção competitiva “Oriente Express”, que trará, de acordo com a organização, “filmes de altíssima qualidade e de grandes autores conhecidos do público”. O sul coreano Kim Ki Duk, por exemplo, “que arrepiou o público com filmes como ‘O Bordel do Lago’ e ‘O Arco’ apresenta ‘Pieta’”, inspirado numa das mais famosas esculturas de Michelangelo.
Organizadores apelam à criação de um circuito público de salas de cinema
Depois de anunciados os principais destaques de programação do Fantasporto deste ano, a direção do festival aproveitou ainda para pedir ao Estado português que crie, com urgência, um circuito paralelo de salas que sirvam de montra para “o outro cinema”. Para Mário Dorminsky, como “o nosso mercado de distribuição cinematográfica é extremamente limitado”, torna-se cada vez mais importante o reaparecimento das “pequenas e médias distribuidoras que conseguiam (…) explorar comercialmente os filmes cujos direitos adquiriam para sua exibição em cinema”. Aliás, de acordo com o diretor do Fantas, a própria estrutura que organiza o festival – a Cinema Novo – funcionou também, durante anos, como distribuidora, tendo assistido ao desaparecimento total dessa atividade no país.
O responsável sublinhou ainda que a criação deste “circuito paralelo” não trará grandes dificuldades. “Há salas de cinema que se encontram encerradas por todo o país. Seria, assim, necessário dar-lhes vida, criando um programa oficial de apoio à exibição e à instalação de sistemas de projeção digitais”, sustentou. De lamentar é, ainda, para a direção do evento, o facto de o orçamento do ICA (Instituto do Cinema e do Audiovisual), “feito tendo por base a nova Lei do Cinema”, não contemplar a existência deste circuito “nem a sustentabilidade dos festivais e iniciativas de promoção cinematográfica”.
“Fica aqui o apelo à Secretaria de Estado da Cultura, ao Estado: a criação deste circuito seria fundamental para a sustentabilidade dos agentes culturais que desenvolvem trabalho na área do audiovisual e permitiria o reaparecimento de novos distribuidores cinematográficos. Sem ele, estamos a ‘matar’ essas estruturas, a diversidade cultural, a qualidade, a formação e, logicamente, a industrial cultural que mais espectadores atrai”, concluiu Dorminsky.
Texto: Mariana Albuquerque | Fotografias: Fantasporto