É um caderno como outro qualquer (pelo menos aparentemente), mas que permite resolver facilmente o incómodo dos dias em que, por falta de inspiração ou pura distração, somos obrigados a escrever, apagar e reescrever, vezes sem conta. Com o EcoBook, lançado pelos jovens Pedro Lopes e Matheus Gerken, estudar ou trabalhar tornam-se tarefas mais simples e… amigas do ambiente, já que o caderno disponibiliza páginas reutilizáveis, nas quais é possível escrever, apagar com um simples guardanapo, e voltar a escrever. O conceito surgiu, assim, por inspiração nos quadros brancos da escola, com a diferença de que o produto lançado pelos jovens pode ser transportado comodamente para qualquer lugar.
Na origem do projeto estaria “um problema” que Pedro Lopes detetou nos momentos de estudo: além de não gostar de ver as folhas estragadas pelo uso do lápis e da borracha, a experiência de usar os quadros brancos como ferramenta para estudar tornava-se cansativa, uma vez que obriga os utilizadores a permanecerem de pé. Foi então que decidiu arranjar uma solução “ecológica” (pela fácil reutilização de páginas), “económica” (porque evita o gasto em folhas que servem apenas para rascunhos) e “prática” (já que permite manter a informação durante muito tempo ou apagá-la instantaneamente): o EcoBook. “Depois de começar a ver que mais pessoas estavam interessadas na solução que eu tinha criado decidi que tinha o dever de levar este produto ao mercado”, frisou o viseense, de 18 anos.
“Revolucionar” o mundo do estudo e do trabalho
Ao projeto juntou-se, entretanto, Matheus Gerken, de 20 anos, também natural de Viseu, e, em julho de 2014, os dois jovens avançaram com uma campanha de crowdfunding que superou todas as expectativas: angariaram mais de 2300 euros quando o objetivo inicial estabelecido era de 1250. Dois meses depois fundaram a empresa, acolhida pelo Parque de Ciência e Tecnologia da Universidade do Porto (UPTEC), e, atualmente, já vendem cadernos para “todos os cantos de Portugal Continental e Ilhas, Reino Unido, França e Alemanha”, por exemplo. “No que diz respeito ao estudo, o EcoBook faz algo que é muito difícil de encontrar na sociedade de hoje em dia: dá o direito de errar sem a mínima consequência”, começou por explicar Pedro Lopes, acrescentando que as pessoas podem, finalmente, estar a resolver um exercício sem terem medo de riscar a folha toda e começar de novo. “Isso é algo que muda completamente a forma como se estuda e já me ajudou bastante”, assegurou.
Mas as vantagens do produto estendem-se igualmente ao universo laboral. “Temos tesmunhos de clientes que tinham a secretária cheia de papeis de rascunho e, hoje em dia, apenas têm um EcoBook, onde tomam todas as suas notas, estando tudo muito mais organizado e tornando, assim, as horas de trabalho mais produtivas”, referiu, realçando ainda os “benefícios ambientais” da utilização do caderno numa empresa, “onde normalmente são tiradas notas de telefonemas, reuniões e tarefas em folhas que, em pouco tempo, vão parar ao lixo”. O EcoBook vem acompanhado de uma caneta própria (em preto e vermelho) que incorpora uma borracha mas, segundo confirmou o estudante de Engenharia, também é possível apagar os registos com um pano de óculos ou um lenço.
Lançar um produto “totalmente novo”
O maior desafio enfrentado pelos jovens não foi propriamente o desenvolvimento do caderno, mas o facto de estarem a apostar num “produto totalmente novo, que as pessoas não conheciam”.
“Visto numa prateleira, o EcoBook parece um caderno perfeitamente normal e, por isso, a cada venda, tínhamos de explicar ao cliente o que era, o que fazia e como funcionava”, ilustrou Pedro Lopes. Entretanto, foram confrontados com outra dificuldade: “o fator idade”. “Nós, com 18 e 20 anos, chegávamos a uma papelaria, a uma fábrica ou a uma empresa para negociar e as pessoas simplesmente não nos levavam (e às vezes ainda não levam) a sério. Portugal ainda tem um grande problema em relação ao fator idade. Nós solucionámo-lo com a nossa postura e maneira de falar”, contou.
O kit – composto por caderno A4 ou A5 e caneta própria – está à venda na página da empresa na Internet e em algumas papelarias espalhadas pelo país (Porto, Maia, Fátima, Viseu e Caparica). As encomendas, essas, extravasam fronteiras. “O website facilita muito esse processo de venda para fora de Portugal”, reconheceu, frisando que, em termos de instituições e empresas nacionais, o EcoBook já é utilizado, por exemplo, pela Acústica Médica e pela Câmara Municipal de Viseu.
Formato A6 e suporte para caneta são as próximas apostas
A “aceitação do público” foi o aspeto que mais surpreendeu os dois dinamizadores do projeto. “As pessoas adoram o produto e muitos dos nossos clientes voltam a comprar o caderno para oferecer. O feedback realmente tem sido muito positivo”, afirmou, reconhecendo que as críticas construtivas que vão chegando são “bem-vindas” para melhorar o EcoBook. E para os próximos tempos, Pedro Lopes e Matheus Gerken prometem novidades, nomeadamente um caderno em formato A6 e um suporte para a caneta.
Texto: Mariana Albuquerque | Fotos: EcoBook