A maior proporção de testes positivos ocorreu entre pessoas que nunca chegaram a manifestar qualquer sintoma nem tiveram qualquer contacto com casos suspeitos ou confirmados de covid-19. Este é um dos principais resultados do mais recente relatório do estudo conduzido pelo Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP) e pelo Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Tecnologia e Ciência (INESC TEC), em parceria com o jornal Público.
Os novos resultados divulgados pelo estudo “Diários de uma pandemia” permitem saber quem, onde e porquê está a realizar testes para saber se está infetado com o novo coronavírus (SARS-CoV-2), o vírus causador da doença Covid-19.
Desde os dias 23 de março até ao dia 21 de abril, foi possível perceber, por exemplo, que a maior proporção de testes positivos ocorreu entre pessoas que nunca chegaram a manifestar qualquer sintoma, nomeadamente, tosse, febre e ou dificuldade respiratória, nem tiveram qualquer contacto com casos suspeitos ou confirmados de covid-19. Verificou-se ainda que as pessoas que realizam mais testes têm profissões ligadas à saúde e ao apoio social.
Dos 11.125 indivíduos que participam nesta investigação, 8613 declararam nunca ter tido contacto pessoal com casos suspeitos ou confirmados de Covid-19 nem desenvolver quaisquer sintomas. Ainda assim, 187 indivíduos decidiram fazer o teste para detetar a presença de infeção para o SARS-CoV-2. E quase metade (91 pessoas) estava infetada.
Ainda de acordo com o portal de notícias da U.Porto, 2523 pessoas declararam ter tido sintomas da doença e/ou contactos com indivíduos suspeitos ou infetados pelo novo coronavírus.
Das 295 pessoas que disseram ter tido, em simultâneo, sintomas e contactos de risco, apenas 73 (24,7%) foram fazer o teste, quando seria de esperar que todas o tivessem feito. Destas, 27 testaram positivo.
“Não sabemos quais as razões que podem ter levado estes participantes a não ter realizado um teste quando aparentemente ele estaria indicado, nem, pelo contrário, o que os levou a decidir fazer esse teste ou a ter-lhes sido prescrito perante um quadro de sintomas ou ligação epidemiológica não sugestiva de risco”, referem os investigadores no relatório publicado.
O estudo permitiu também concluir que a realização do teste varia com o nível de escolaridade e área profissional.
Os participantes com doutoramento foram os que menos realizaram o teste, seguidos dos indivíduos com o ensino secundário ou menos. Já as pessoas com níveis de ensino correspondentes a bacharelato, licenciatura ou mestrado foram as que mais realizaram testes para o diagnóstico da infeção por SARS-CoV-2.
Os participantes que mencionaram ter trabalhos relacionados com a saúde humana e o apoio social foram os que mais frequentemente realizaram o teste (8.8%), apesar de serem também os que apresentaram menos testes positivos para a infecção. Tal pode significar que “mesmo perante situações de maior risco, o conhecimento e a aplicação das medidas de prevenção levam a um risco menor de adquirir a infeção”, aponta o relatório.
O estudo mostra ainda que a proporção de testes é superior entre os participantes que saíram alguma vez de casa para trabalhar, em comparação com os que puderam ficar em regime de teletrabalho ou que não estavam a trabalhar.
O relatório mostra ainda que os testes foram mais frequentes em mulheres (4,5%) do que nos homens (3,7%). Os mais jovens (16-29 anos) foram os menos testados, sendo a maior proporção de testes realizada nos participantes com idades compreendidas entre os 30 e 39 anos, 50 e 59 anos e 60 ou mais anos (4,9%, respetivamente).
No que respeita à distribuição geográfica, o número de testes foi superior entre os residentes dos Açores e da Região Norte.
Se ainda não participou no estudo “Diários de uma pandemia”, pode fazê-lo aqui.
Participar no estudo “Diários de uma pandemia” “é contribuir para sabermos como agir melhor, com o objetivo de diminuir o impacto negativo da epidemia em Portugal. É um contributo que se partilha com toda a sociedade e, em última análise, um gesto solidário para com aqueles que nos são mais queridos”, sublinham os investigadores.