O trabalho, realizado em colaboração com o grupo do investigador David Lyden, do Weill Cornell Medicine, de Nova Iorque, foi recentemente publicado na revista Nature Cell Biology.
Já era conhecido que as células de cancro comunicam à distância com outras células e que essa comunicação inclui o envio de proteínas e de vesículas, como por exemplo os exossomas. Celso Reis, investigador principal do trabalho realizado em Portugal, explicou que, aplicando às células cancerígenas uma técnica de fracionamento que nunca tinha sido aplicada neste contexto, “os investigadores conseguiram separar em pormenor vários subtipos destas vesículas e, nessa separação, identificaram um novo grupo de vesículas a que chamamos, exómeros e que têm aproximadamente 35 nanómetros” (três mil vezes mais fino do que um fio de cabelo).
Estes exómeros são ainda menores do que os exossomas e o seu conteúdo é significativamente diferente das outras vesículas, não só nas proteínas, mas também nos glicanos (hidratos de carbono complexos que existem nas células e que estão muito alterados nas células tumorais). Utilizando linhas celulares de diversos tipos de cancro e também modelos animais, os investigadores descobriram também que estes exómeros têm uma distribuição pelos órgãos do animal diferente das outras vesículas, “sugerindo, por isso, uma função diferente no processo de progressão tumoral”, adiantou Celso Reis ao portal de notícias da Universidade do Porto.
“Descobrimos que os exómeros são a partícula mais predominante segregada pelas células cancerígenas e que se fixam em órgãos que têm a capacidade de alterar a função e o metabolismo das drogas que são utilizadas para combater os tumores malignos. Isso pode explicar por que muitos pacientes com cancro são incapazes de tolerar até pequenas doses de quimioterapia”, explicou David Lyden, último autor do trabalho.
No decurso do trabalho, “percebemos também que as proteínas que estão particularmente enriquecidas nos exómeros são proteínas que sabemos serem importantes na biologia tumoral, ou seja, contribuem para a evolução do tumor”, acrescentou Celso Reis.
Esta investigação irá permitir definir especificamente as diferentes funções biológicas destas partículas no microambiente tumoral e na progressão da doença, bem como desenvolver no futuro novas estratégias para melhorar o diagnóstico e, eventualmente, avaliar o seu potencial no tratamento.”Com base nestas descobertas, a próxima fase será medir exossomas e exómeros em amostras de plasma para ajudar a prever órgãos que podem ser alvo de metástase durante a progressão do tumor. Isso irá ajudar-nos a entender melhor a biologia do cancro, orientar as decisões terapêuticas e desenvolver novas terapias”, conclui David Lyden.