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Depressão

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O estudo arrancou em março de 2011 e, de acordo com João Salgado, docente envolvido no projeto, “está sensivelmente a meio”. Em declarações à Viva, o responsável explicou que a investigação decorre de um trabalho realizado no ISMAI, há já vários anos, assente na “criação de formas de psicoterapia eficazes no tratamento de diferentes problemas psicológicos, bem como na procura de uma melhor compreensão de como é que as diferentes terapias funcionam”.

Psicoterapia, um método que privilegia a comunicação

Mas em que é que consiste a psicoterapia? Tal como esclareceu o professor, o conceito surge associado “a uma forma de tratamento entre um profissional de saúde mental (psicólogos, psiquiatras, etc.) e um paciente ou cliente, podendo este ser uma pessoa, uma família, um casal, ou mesmo um grupo”. O processo destina-se a melhorar o bem estar das pessoas, “apoiando-as nas dificuldades existentes em lidar com problemas de índole psicológica”. “No passado, e por vezes ainda hoje, era caracterizada como uma “cura pela conversa” – “talking cure” –  já que os meios usados para o tratamento são muito centrados na comunicação entre o paciente e o psicoterapeuta”. Desta forma, notou João Salgado, a psicoterapia distingue-se dos tratamentos cujo ponto básico da intervenção é o funcionamento biológico, como acontece com aqueles que envolvem psicofármacos, ainda que não sejam métodos incompatíveis.

dep2Análise de pensamentos, comportamentos e emoções

O desafio da equipa de investigadores passou, assim, pela análise de formas de tratamento psicológico da depressão, sem recurso a medicação e tendo em conta a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) – centrada na mudança de padrões de pensamento e comportamento – e a Terapia Focada nas Emoções (TFE) – assente na mudança de padrões emocionais.
“Sabíamos, de antemão, que há formas de psicoterapia eficazes no tratamento da depressão ligeira e moderada, nomeadamente a TCC, cuja eficácia é suficientemente comprovada”, começou por esclarecer o professor, acrescentando que existem outros tipos de psicoterapia com resultados animadores, ainda que escassos, como é o caso da TFE.
Desta forma, o estudo, co-financiado pela FCT (Fundação para a Ciência e a Tecnologia) e pelo programa europeu COMPETE, comparou aquelas duas formas de terapia, que se mostraram “globalmente eficazes”.

Para a concretização da análise, a equipa de investigadores do ISMAI especializou-se em Terapia Focada nas Emoções com o seu próprio criador, o professor Leslie S. Greenberg, da Universidade de York, no Canadá. Mas então, qual a importância de se criarem novos modos de psicoterapia se o êxito da TCC é já conhecido? “A razão é simples”, sublinhou João Salgado. “Apesar de ser eficaz, não funciona para todos os pacientes. Além disso, poderá também não funcionar com todos os psicoterapeutas. Como tal, se tivermos mais formas de psicoterapia estaremos em melhores condições de ajudar diferentes pessoas a combater episódios de depressão nas suas vidas”, explicou.

dep3Taxa de sucesso na ordem dos 80%

As conclusões obtidas até ao momento mostram que as duas terapias em análise são “muito eficazes em pessoas que não estejam medicadas”, sendo que os resultados preliminares surpreenderam a equipa de investigadores: “tendo em conta os primeiros 26 pacientes, dentro dos que completaram o tratamento (16 sessões semanais de psicoterapia) a taxa de êxito é superior a 80%”. Para o responsável, este valor “está acima do expectável, tendo em conta os valores de referência internacionais, pelo que terão que ser vistos com alguma cautela”. Ainda assim, acrescentou, “mesmo que os resultados finais não venham a ser tão positivos, é legítimo esperar uma taxa de sucesso entre os 60 a 70% em ambas as formas de terapia. Como as pessoas não estão a tomar medicação, podemos eliminar esse fator como explicação para os resultados obtidos”.

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No que diz respeito à segunda dimensão do estudo, voltado para a “compreensão dos mecanismos que estão subjacentes às mudanças psicológicas ocorridas nas pessoas”, os especialistas do ISMAI têm vindo a desenvolver análises “muito pormenorizadas” que ainda estão numa fase inicial, “mas que apontam para que as melhorias estejam associadas a uma progressiva capacidade de lidar com experiências penosas”. Tal como explicou João Salgado, estão a ser avaliadas diferentes variáveis como a ativação emocional nas sessões, existindo inclusivamente outras equipas de estudiosos nacionais e estrangeiros dispostos a colaborar na análise dos dados em questão.

Equipa de investigadores ainda aceita participantes

Neste momento, os docentes responsáveis pela investigação continuam a receber pacientes com uma depressão ligeira a moderada que não estejam medicados e que queiram integrar o estudo, ambicionando reunir uma amostra de 70 pessoas. “Se as pessoas se quiserem inscrever, poderão contactar-nos pelo email [email protected] ou através do telefone do serviço de consulta do ISMAI (CASP): 229 828 986”, anunciou o responsável. Além disso, a equipa está também a “monitorizar os pacientes que foram anteriormente acompanhados para análise do seu estado atual”, de forma a prevenir eventuais recaídas. De acordo com o docente, neste domínio, a investigação tem provado que “a psicoterapia tem melhores resultados a longo-prazo do que outras formas de tratamento”.

dep4Doença afeta 20% da população portuguesa

Os dados disponibilizados pelo Ministério da Saúde em relação à depressão – que apontam para 20% da população afetada – são, para João Salgado, preocupantes. “A serem verdade (e há quem defenda que os números poderão ainda ser mais elevados), estamos a falar de dois milhões de portugueses!”, alertou, acrescentando que a doença não se reflete só no humor dos indivíduos, influenciando também a sua capacidade laboral, escolar, familiar e interpessoal.

“O preço a pagar não é, pois, apenas o do tratamento, mas também das consequências várias que daí advêm: baixas médicas, dificuldades laborais acrescidas, problemas interpessoais”, enumerou o docente, mencionando igualmente o risco de suicídio. “Uma depressão pode assumir proporções letais. Para piorar o cenário, está também associada a outros problemas mentais e físicos, como o consumo de álcool ou a ansiedade social. Daí que não deveria surpreender ninguém que as projeções da OMS [Organização Mundial da Saúde] a apontem como uma das principais doenças causadoras de incapacidade”, sustentou.

Mariana Albuquerque

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