O ano de 2022 foi de muitas esperanças e desilusões. A esperança mais concreta foi a do fim da pandemia Covid-19. Tivemos ainda a esperança de mudanças estruturais na Saúde, a esperança na recuperação do Serviço Nacional de Saúde (SNS) e, mais importante, a esperança de melhoria da qualidade assistencial à população com melhor acesso aos cuidados. Afinal, não se deu a recuperação do SNS e foram muito visíveis e mediáticas as dificuldades estruturais e na organização do SNS com alguns serviços de urgência fechados, outros com muitas horas de espera para atendimento e longas filas para marcações de consultas nos Centros de Saúde.
Durante o ano de 2022 foram reconhecidas e discutidas as fragilidades do SNS que, aliás, já estavam bem diagnosticadas e apenas aguardavam e aguardam o devido tratamento. É bem conhecida uma das dificuldades mais graves, a falta de recursos humanos a todos os níveis assistenciais e em todos os grupos dos profissionais de saúde e sabe-se que, no que diz respeito aos médicos, isso condiciona o excesso de horas de trabalho, somado à falta de reconhecimento que inclui a baixa remuneração, às tarefas não clínicas que os desgastam, à falta de equipamento moderno e à organização deficitária do sistema. Estas situações conduzem a desmotivação, desanimo e cansaço, culminando na tão falada falta de atratividade da profissão, ou será do SNS?
A especialidade de Medicina Interna, é a especialidade médica mais versátil e aquela que possui a capacidade de visão integradora e global centrada no doente. É uma especialidade eminentemente hospitalar e a que melhor consegue agregar e gerir equipas multidisciplinares e multiprofissionais, mas é também, por isso, uma das que mais sente todas estas dificuldades.
A Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI) é uma sociedade científica com um longo percurso de 71 anos. Tem atualmente cerca de 3 mil associados com vontade de, no ano de 2023, contribuir para que o SNS se reorganize e saiba atrair os seus profissionais e dar-lhes estabilidade e condições de trabalho. Como resultado final, o que de bom for feito, vai sempre melhorar as condições assistenciais e a saúde dos portugueses. O nosso foco é contribuir no avanço para um sistema de saúde ágil e moderno.
Os internistas têm feito propostas para a organização do SNS e têm dado corpo a novas formas de exercer medicina, sempre no sentido da proximidade e da disponibilidade assistencial. Todos sabemos que as respostas têm de ser integradas entre hospitais, cuidados primários e setor social e que os serviços de saúde devem ter mais autonomia, por exemplo, para a contratação de profissionais e também para se reorganizarem após a pandemia.
Lèlita Santos
Presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna