Esta sessão integra o ciclo ‘O sabor do Cinema’, programado pela associação “Filhos de Lumière”, que propõe o visionamento e a discussão de filmes de todos os géneros, origens, épocas e durações e que, normalmente, estão fora dos trilhos do mercado audiovisual.
‘Teh Eternal Flame’ resulta da colaboração entre o coletivo Ant Farm e um outro coletivo, T. R. Uthco. O filme gira em torno de uma reconstituição do assassinato do presidente americano J.F. Kennedy, no ano de 1975, 12 anos após esse acontecimento. Explorando irreverentemente o trauma ainda palpável, os autores repetem obsessivamente as imagens da reconstituição. Os mirones e turistas filmados no local da reencenação mostram-se incrédulos com a fidelidade da reconstituição, horrorizados com o mau gosto, mas sobretudo divertidos. Perante essa reação, o ator-presidente (que encarna JFK) interroga-se sobre os motivos que os espetadores podem ter para se sentirem divertidos – estamos no cerne da questão da formatação da psique e da memória coletiva, ambas fortemente marcadas pelas construções de verdade que os media divulgam e massificam.
O segundo filme a ser exibido na tarde domingo – ICE – é um documentário pioneiro que esbateu as fronteiras entre o formato documental e ficcional. Foi referido por Jonas Mekas como “o trabalho mais original e significativo da narrativa cinematográfica americana dos anos 60”. Um grupo clandestino e revolucionário debate-se com a luta interna que ameaça a sua segurança e encena guerrilhas urbanas contra um estado fascista ficcionado nos Estados Unidos. Sequências retóricas são intercaladas com a narrativa do filme, explicando a filosofia da ação radical e contendo o melodrama inerente ao género “thriller”. Filmado na paisagem cinzenta de Nova York, num estilo cinema verité, este filme tem sido comparado a “Alphaville”, de Jean Luc Godard.
