“O objetivo é dar a conhecer a história secreta da Arte Bruta para ajudar o grande público a compreender melhor este género, que é puro, não mente e não se ‘vendeu’ ao capitalismo como a arte contemporânea, já que é criado por artistas que não querem ser famosos nem se interessam por dinheiro ou reconhecimento”, explicou Arthur Borgnis à Lusa.
“O museu de S. João da Madeira é determinante para o filme por duas razões”, acrescenta o cineasta. “Por um lado, tem uma coleção rara que é única no mundo e que constitui uma verdadeira mina de ouro, com grandes obras-primas; por outro, permite fazer a ligação entre o passado e o presente da Arte Bruta, porque aborda a ‘mitologia individual’ dos seus autores e esse conceito é precisamente o que foi usado em 1972 na histórica exposição “Documenta 5″, que fez de Harald Szeemann o mais importante curador de Arte Contemporânea depois da II Guerra Mundial”, remata.
Com lançamento previsto para meados de 2017, o documentário de Arthur Borgnis estará disponível em festivais de cinema, numa edição em DVD com 80 a 90 minutos de extensão e numa versão televisiva com duração até uma hora.
A equipa de produção é restrita e o profissional francês assume simultaneamente o papel de realizador, operador de câmara, argumentista, editor e produtor, já que “o financiamento tem sido muito difícil e a obra tem um orçamento muito baixo” – cujo valor não foi revelado, mas envolve também financiamento coletivo através de “crowdfunding”.
O filme explora também a Clínica Psiquiátrica de Heidelberga, na Alemanha, onde o médico Hans Prinzhorn foi dos primeiros a reconhecer o mérito artístico dos seus pacientes e a compilar o que é hoje uma coleção com mais de 5.000 obras de arte.
“Arte Bruta” é a expressão originalmente concebida pelo pintor francês Jean Dubuffet em 1945 para designar a arte produzida por criadores livres da influência de correntes e estilos oficiais, como é o caso de doentes psiquiátricos, reclusos, médiuns e autodidatas em situação de isolamento social.