É a mais recente descoberta científica obtida a partir do Very Large Telescope (VLT), do Observatório Europeu do Sul: uma das estrelas em órbita do buraco negro supermassivo, situado no centro da Via Láctea, movimenta-se tal como o previsto na Teoria da Relatividade Geral de Einstein.
A confirmação foi feita por uma equipa de investigação internacional, da qual fez parte Paulo Garcia, professor e investigador do Departamento de Engenharia Física da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), Vítor Cardoso, professor do Instituto Superior Técnico (IST) da Universidade de Lisboa, e António Amorim, professor da Faculdade de Ciências (Ciências) da U.Lisboa.
Segundo indica o Observatório Europeu do Sul (ESO), que opera o telescópio no Chile, a estrela S2 faz parte de um aglomerado estelar que existe em torno do buraco negro Sagitário A, localizado a 26 mil anos-luz do Sol e que terá quatro milhões de massas solares. A órbita desta estrela tem a forma de uma roseta e não a de uma elipse, como prevê a clássica Teoria da Gravitação do físico Isaac Newton, de 1687.
“Descobrimos que o movimento de uma estrela em torno desse buraco negro não é uma órbita fechada, isto é, não é um caminho em que o fim e o início são o mesmo ponto, descrito periodicamente”, disse à Lusa, citada pelo Notícias ao Minuto, Paulo Garcia, que também pertence ao Centro de Astrofísica e Gravitação (Centra) do Instituto Superior Técnico, em Lisboa.
De acordo com o investigador português, a órbita da estrela S2 “é um caminho tipo figura roseta”, uma “órbita aberta, compatível com a Relatividade Geral” publicada pelo físico Albert Einstein em 1915.
Este resultado foi possível graças a medições cada vez mais precisas da órbita da estrela, obtidas ao longo de 30 anos, a partir das observações realizadas com o telescópio VLT.
A equipa portuguesa participou nas mais de 330 medições da posição da estrela, que completa uma órbita na proximidade de Sagitário A ao fim de 16 anos, mas também no “desenho e construção” de um componente de um instrumento do telescópio VLT que permite “obter imagens do ambiente próximo do buraco negro”, adiantou António Amorim.
Segundo explicou à Lusa Paulo Garcia, a órbita da estrela S2, uma das mais próximas do buraco negro Sagitário A, “está associada ao mecanismo físico denominado precessão”, que, no caso, “está ligado à deformação do espaço-tempo pelo buraco negro”.
Esta deformação do espaço-tempo provocada por um buraco negro, corpo extremamente denso e escuro no centro das galáxias de onde nada escapa, nem mesmo a luz, é descrita pela Teoria da Relatividade Geral de Einstein.
“O efeito da deformação do espaço-tempo é ‘puro’ e dá um puxão extra à estrela no ponto de maior aproximação do buraco negro, fazendo com que a órbita não volte ao ponto inicial e realize a figura de roseta”, explicou Paulo Garcia.
A teoria da gravitação clássica, ao contrário da moderna de Einstein, “é incapaz de explicar este fenómeno sem invocar um terceiro corpo (que seria um segundo buraco negro) ou uma nuvem de matéria escura massiva que se desconhece”, acrescenta ainda o professor da FEUP.
No entanto, para o investigador, “por muito espetacular que a Relatividade Geral seja, a maioria dos físicos acredita que esta não é a última teoria da gravidade”.
Razão pela qual os investigadores pretendem aprofundar os seus estudos, medindo a órbita da estrela S2 ainda com maior exatidão, procurando estrelas em órbitas mais próximas de Sagitário A e analisando o que desencadeia as explosões em redor do buraco negro.
De referir que trabalho mobilizou uma equipa científica internacional – nomeadamente de Portugal, França e Alemanha – que integra o projeto GRAVITY, nome retirado do instrumento desenvolvido para o Interferómetro do VLT, o qual combina a radiação coletada pelos quatro telescópios principais de oito metros do VLT, transformando-os num supertelescópio com uma resolução equivalente a um telescópio de 130 metros de diâmetro, explica a U.Porto.
Imagem: L. Calçada/ESO