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Clube dos Pensadores

Clube dos Pensadores
“Para uma vida sexual feliz, as cabeças têm de trabalhar”

Na passada segunda-feira, 13 de fevereiro, dia mundial da rádio, a Viva foi a uma sessão muito especial do Clube dos Pensadores, que desviando-se um pouco da política, abordou sem tabus o tema “envelhecimento e sexualidade”, numa agradável conversa com Júlio Machado Vaz, que para além de médico-psiquiatra, professor universitário e sexólogo participa no programa de rádio da Antena 1 com Inês Menezes, “O Amor é”. Melhor combinação, impossível.

Estou a amar-te como o frio
corta os lábios.

A arrancar a raiz
ao mais diminuto dos rios.

A inundar-te de facas,
de saliva esperma lume.
Estou a rodear de agulhas
a boca mais vulnerável
A marcar sobre os teus flancos
o itinerário da espuma

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Assim é o amor: mortal e navegável.
Eugénio de Andrade, in “Obscuro Domínio”

clube_dos_pensadores_4“Assim é o amor: mortal e navegável”. Foi este um dos versos que Júlio Machado Vaz declamou numa sessão que deu para abordar poesia, envelhecimento e sexualidade sem tabus.
A noite começou com uma introdução a cargo do mentor, Joaquim Jorge, que num claro ambiente de boa disposição saudou a considerável afluência de público.”Pensei que fosse um tabu”, confessou. “Nunca vi tantas mulheres aqui”.
O Clube dos Pensadores sempre que pode procura abrir os debates a assuntos que suscitam interesse na sociedade. Recentemente recebeu o investigador Sobrinho Simões que abordou  “A Nova Medicina”. Com a nova medicina e a consequente possibilidade do aumento da esperança de vida há implicações no Serviço Nacional de Saúde e nas Pensões de Reforma. Joaquim Jorge demonstra, assim, que pretende trazer para a discussão outros temas para além da política.  
Seguiu-se uma animada apresentação de Júlio Machado Vaz, que tem na bagagem livros como o “Sexo dos Anjos” e o programa da Antena 1, “O Amor é”. Júlio só tem “paciência para o que lhe dá prazer”. O sexólogo assume que há uma “discriminação contra os problemas de saúde mental”. E não nega que há “partes suas que se riem do BI”. Gosta de dar aulas e de Chico Buarque. Estava lançado o perfil e o público com a curiosidade cada vez mais aguçada.
Júlio Machado Vaz aproveitou para agradecer o convite, mostrando o prazer em, acima de tudo, “conversar com as pessoas”. Desde logo apressou-se a corrigir a expressão “O envelhecimento e a sexualidade”, uma verdadeira “asneira no título”. Tudo isto porque “sexualidade” é algo muito “particular” e intrínseco a qualquer etapa da vida. Mas falar disto nos dias de hoje é, ainda, um verdadeiro “calcanhar de aquiles”.
“Para já, sexo é diferente de sexualidade. Sexualidade engloba também as componentes afetivas e acompanha-nos sempre”.
Por outro lado, vivemos numa sociedade que “pior tratou os velhos na história” e que “se postra sobre os mais novos”.
Antigamente os mais velhos eram sinónimo de “sabedoria”, algo diferente do cenário atual. Hoje em dia a opinião dos mais velhos é ‘demodé’ ou pior, no que no digital diz respeito, representam outro tipo de analfabetos.

clube_dos_pensadores_2Os “carimbos” da sociedade para com os seniores: “Ah sua marota”
E no que à sexualidade diz respeito podemos utilizar mesmo o termo “discriminação”. A sociedade está repleta de carimbos na abordagem da sexualidade nos seniores. “Ah, sua marota”, é um deles. Mas o pior dos “imperialismos” é quando somos nós próprios a “interiorizar o preconceito”.
Nada é perfeito, contudo. Existem sempre os reumatismos, próstatas, cancro da mama, ou doenças crónicas que “não matam, mas moem”. É que grande parte das medicações tem efeitos colaterais e muitas “não fazem bem no desempenho sexual”.
Há outro aspeto importante realçado por Machado Vaz. Temos de esquecer o mito “quantidade vs qualidade”. O problema é que a sociedade privilegia a “quantidade”. A qualidade, por sua vez, é muito melhor com o passar dos anos, uma vez que se “ultrapassam tabus”.
O envelhecimento é, acima de tudo, um processo natural. Portanto não é de todo aconselhável cultivar uma “visão sub-depressiva”.
Alertou-se, ainda, para o perigo do Viagra, que deve ser usado somente com “indicação”, podendo criar “dependência”. “Para uma vida sexual feliz, as cabeças têm de trabalhar”, avisa.
Depois, já em debate, há termos que são sempre complexos de discutir. São eles a “impotência” e a “frigidez”. Para escolher um dos termos, “venha o diabo e escolha”, desabafa Júlio Machado Vaz. É, por isso, mais adequado no caso dos homens referir a disfunção erétil e na mulher “falta de lubrificação vaginal”.
De ressaltar que, segundo o sexólogo, as mulheres têm uma abordagem, em relação à sexualidade, “menos cruel”. “Os homens organizam-se em torno da virilidade”. Porque na sociedade, diga-se, o “homem a sério está sempre em pé”.
A este respeito, e em declarações à Viva, Julio Machado Vaz lamenta que “não perdemos nem os mitos, nem a ignorância pura e dura”. “E estamos em 2017”, acrescenta.

Uma educação para os profissionais da Saúde
Muitos profissionais de saúde não sabem lidar com as confissões dos pacientes.
“A maior parte das pessoas que nos  procura não sabe isso. E depois de ter arranjado coragem… Porque por vezes é preciso coragem para falar da sua vida privada, agravando-se o caso quando o médico, médica ou enfermeira não têm preparação naquela área. E isto pode dar situações complicadas”, avisa Julio Machado Vaz.
“Se o meu colega pelo menos assume a ignorância, vou ter que enviar o paciente para outro médico. Não é o ideal, pois a pessoa queria abrir-se com aquele médico em específico. E grande parte das pessoas não  chega a ir à outra consulta. Depois há o risco de ao não saber, `mexer´, o que dá origem a abordagens erradas. Isso pode ser complicado”, alerta.
Antigos alunos meus desabafam algo importante: ´oh professor, como falo disto em consultas de 10 minutos?´.  “Cada caso é um caso”, resume o sexólogo.

Texto: Irene Mónica Leite

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