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Casa da Mariquinhas

Casa da Mariquinhas

Quando pensamos em locais emblemáticos da cidade do Porto, torna-se impossível não fazer menção à Casa da Mariquinhas, localizada no Bairro da Sé, mais concretamente na Rua de São Sebastião, e que faz do fado premissa para criar noites absolutamente mágicas, a todos os que por lá passam. No entanto, não vamos já por aí. Da mesma forma que uma casa também não começa a ser construída pelo telhado, comecemos pelo início.

Corria o ano de 1968, altura em que Gil de Vilhena, ator, teve a ideia de criar a Casa da Mariquinhas. Na base que serviu de inspiração ao conceito, na altura, inovador, no coração da Invicta, esteve uma simples viagem a Barcelona. Se pelo facto do turismo, em terras catalãs, estar a fervilhar, na época, ou se pela imponência da Sagrada Família, a verdade é que, da visita a Espanha, chegaram boas ideias, que acabariam por revolucionar o panorama do fado, na cidade do Porto.

Como conta o atual responsável pela Casa da Mariquinhas, as diferenças dos dias de hoje para os primórdios do espaço são evidentes. Em jeito de curiosidade, revela-nos, que “na altura, os clientes eram os industriais, os construtores, os comerciantes endinheirados, que saíam das boîtes, bem acompanhados pela presença de mulheres que trabalhavam nos cabarés e que, depois, iam fazer a ceia às casas de fado”. 

Até o próprio horário de funcionamento, na altura, em nada se relacionava com o que, atualmente, se verifica. Isto porque “às vezes eram 4 da manhã, não havia ninguém e depois apareciam eles com as raparigas”. Hoje em dia, é diferente, na medida em que os horários noturnos são relativamente semelhantes ao que é de esperar de um restaurante convencional. 

Quem procura a Casa da Mariquinhas são, essencialmente, turistas. Em busca da essência portuguesa, ilustrada através do fado, a taxa de ocupação do local costuma ser muito elevada, havendo, inclusive, alturas em que existe fila de espera.

No entanto, há uma questão que não se pode deixar de colocar: quem era, afinal, essa tal Mariquinhas? Ora bem, a resposta é bastante simples. “A Mariquinhas era uma menina de Lisboa, da vida, que cantava fados e que tinha uma casa, a Casa da Mariquinhas, que tinha janelas e tabuinhas”, tal como nos diz a letra da canção eternizada por Amália Rodrigues.

No espaço em questão, o suficiente não chega. Tal como refere o responsável, trabalham na Casa da Mariquinhas “os melhores músicos e os melhores artistas do Porto e não só”, numa programação que cruza as velhas glórias do fado com os novos talentos emergentes.

No fundo, mais do que um estilo de música bastante particular e característico do nosso país, o proprietário do estabelecimento vê o fado como “uma linguagem musical e cultural, com códigos muito enraizados e que, no fundo, têm de ser passados de um modo oral e pelo exemplo dos mais velhos para os mais novos”, pelo que, antes de alguém sonhar em ser fadista, “primeiro é preciso passar pelas casas de fado”, para experienciar este ambiente único e incomparável.

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Quando se entra na Casa da Mariquinhas, mais do que assistir a música ao vivo, é preparar-se para “uma transformação de emoções”, que se sente até mesmo nas paredes do local, carregadas com 55 anos de história. É um local intimista e pequeno, sendo precisamente isso que faz do mesmo um sítio “mágico”, propício a uma espécie de fusão entre a gastronomia tradicional portuguesa e, claro, o fado.

Como nem só de música vive o ser humano, é, também, importante falar da comida. Não que o único prato seja esse, mas tal como refere o responsável, a escolha vai sempre para o Bacalhau à Mariquinhas, desenvolvido pela chef Sandra Santos. Porque é que a receita é tão especial? Mais uma vez, a resposta é simples. O Bacalhau à Mariquinhas é acompanhado por duas peras de puré de batata e é envolto por aletria frita, fazendo assim uma combinação única e do agrado da esmagadora maioria dos que por lá passam.

Embora não seja possível referir apenas uma coisa, quando se fala no que é que faz da Casa da Mariquinhas um lugar tão especial, a verdade é que, de acordo com o responsável, existem dois grandes elementos diferenciadores: o magnetismo e a acústica. Como o próprio refere, “quem entra na Casa da Mariquinhas não fica indiferente, até porque temos outras casas de fado, para onde tentamos canalizar os clientes, mas eles não querem, porque a mística e a energia do espaço é muito particular e muito especial”.

São anos e anos de história, aos quais seguir-se-ão, ao que tudo indica, muitos mais. Em tanto tempo, “imperdível”, “mágico” e “inesquecível” têm sido algumas das palavras que quem visita o espaço, sediado no Bairro da Sé, tem utilizado para o caracterizar. Talvez por ser tudo isso e muito mais é que televisões de várias partes do planeta já passaram pela Casa da Mariquinhas. Desde argentinos, a japoneses, a espanhóis, a coreanos, a israelitas, o que não falta mesmo é quem reconheça um local que é invariavelmente diferente de todos os outros. O proprietário acrescenta, ainda, que tem passado, ultimamente, “uma série de programas no Porto Canal, num programa chamado Casa de Fados”, em que as gravações são feitas na Casa da Mariquinhas e noutros espaços pertencentes ao mesmo proprietário. 

Questionado sobre a importância de ser abrangido pelo programa Porto de Tradição, o mesmo refere que o apoio é bastante útil para proteger alguns espaços, sendo, acima de tudo, “uma vontade clara do município em manter tradições e os estabelecimentos que fazem a cidade do Porto”. 

Por fim, mas não menos importante, o responsável pela Casa da Mariquinhas reflete acerca da “pouca proteção à música tradicional portuguesa”, que começa, inclusive, nos tempos de escola, onde o fado não é mencionado enquanto bandeira cultural de um país em que o estilo musical em questão continua a não ser valorizado pelos próprios portugueses.

Em jeito de nota final, reforça que “o fado não é uma canção de Lisboa, mas sim uma canção nacional e o Porto tem mais de 100 anos de tradição de fados. O primeiro disco de fados gravado em Portugal foi gravado no Porto, em 1904. O fado, principalmente no Porto, deve ser utilizado como material promocional da nossa cidade para o exterior, porque o Porto, para além disto, sempre foi e continua a ser o grande fornecedor de músicos para Lisboa”, entre os quais se destacam, por exemplo, o guitarrista de Amália Rodrigues; a ilustre fadista Beatriz da Conceição; ou até mesmo Pedro Homem de Melo, um grande poeta de fado.

Casa da Mariquinhas
R. de São Sebastião 25, Porto
Contacto: 915 613 877

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