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Carminho

Carminho
“O fado é a linguagem que me define”

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Podemos começar pelo fim da entrevista? Isto para chegar à deliciosa conclusão de que a música de Carminho está assente numa cultura maternal que a leva ao mundo… Foi uma conversa que passou pelos diferentes momentos da carreira deste talento incontornável. Comprove.

Passava pouco do meio-dia quando a VIVA! se deslocou até à Leitaria da Quinta do Paço, na baixa do Porto, repetente nestas andanças (já tínhamos passado pelo mesmo deleite com Teresa Salgueiro a propósito da sua vinda à Casa da Música), para uma agradável conversa com a fadista Carminho, que andava pela cidade Invicta.
Carminho é filha da também fadista Teresa Siqueira e é considerada uma das mais talentosas e inovadoras cantoras de fado da sua geração, interpretando também outros géneros musicais como a Música Popular Brasileira.
A fadista habituou-se desde pequena a ouvir os álbuns da sua mãe, uma presença muito importante. “É verdade. Sou a última de quatro irmãos. A minha mãe sempre cantou e, aliás, um dos meus irmãos nasceu numa noite de fados (risos). A minha mãe teve que parar o seu fado a meio para ir para o hospital. Desde que eu me lembre de existir que oiço não só a minha mãe cantar como muitas noites de fado em casa com outros fadistas”.
carminho_5É uma base importante, mas não é determinante para as mesmas opções profissionais. ”Nós podemos ser tudo. Eu tenho mais três irmãos e seguiram outras profissões apesar de ter a mesma base”, revela.
O interesse pela Música Popular Brasileira é “desde o princípio também. Nas novelas da Globo que invadiam as nossas televisões. Havia, também, alguns discos em casa e alguns deles eram de Chico Buarque, Tom Jobim, uma compilação que tinha cantoras como a Elis Regina. Eu fui absorvendo essas canções. Primeiro de uma forma mais ingénua e infantil, na medida em que não sabia distinguir bem os géneros musicais. Fui-me interessando de uma forma mais particular pelas letras”, relembra.
A Taverna do Embuçado também foi importante. “Foi uma casa de fados que a minha mãe e o meu pai abriram. O meu pai resolveu demitir-se do emprego para concretizar o sonho da minha mãe, que era ter uma casa de fados em Lisboa”, explica Carminho.
Como resumir esta experiência? “É difícil. Foram muitos anos a beber influências, a conhecer pessoas, artistas e fadistas. Conheci a Amália Rodrigues, a Beatriz da Conceição, Paquito, que trazem uma linguagem muito forte com eles”.
carminho_2Só ingressou como fadista formalmente aos 25 anos. Afigura-se uma questão: porquê? “Fui para a faculdade fazer marketing e publicidade. Durante esses anos fiz voluntariado numa associação universitária. Ao mesmo tempo ia cantando em casas de fado e ganhando e juntando algum dinheiro. Depois de ter acabado o curso, não sentia que fosse essa a minha vocação. Resolvi, então, pegar nesse dinheiro que ganhei com os fados e dar uma volta ao mundo”, conta.
“Tive algumas propostas para gravar antes. Mas senti que ainda não estava preparada. Foi uma viagem de um ano e foi fundamental. Tanto que quando regressei decidi começar a minha carreira”.
Com colaborações tão únicas e diversas como a bem conhecida parceria com Pablo Alborán ou, mais recentemente, com HMB, surge a palavra ecletismo para definir tamanha riqueza cultural e de influências.
Mas Carminho explica: “O fado é a minha linguagem principal. É a linguagem que me define. É algo muito natural, muito objetivamente simples. Mas os desafios são-me postos à frente. Eu gosto muito de me entregar à música. Apesar de continuar com a minha identidade, é bom abrir-me a públicos novos”.
Outros nomes de peso juntam-se à lista de colaborações de Carminho. “Ney Matogrosso foi o primeiro grande parceiro no Brasil. Foi numa música que eu fiz com o Pedro Jóia para o hino do pirilampo mágico que fazia 25 anos. Foi uma experiência maravilhosa”, recorda.
carminho_chico_buarqueE continua: “A partir daí ficamos realmente próximos. É sempre bom fazer perdurar essas relações. Avançar para um lado mais pessoal. Até porque novas ideias nascem”. Chico Buarque é outro dos nomes brasileiros fortes presentes na carreira de Carminho.
E quanto ao novo e delicioso novo álbum em que Carminho canta Tom Jobim… Como tudo aconteceu? “Nestas idas e vindas ao Brasil há muitos encontros. Muitas cantorias. Estávamos a cantar várias músicas e o Tom Jobim foi um dos compositores que nós cantamos. Estava lá a mulher do cantor, que me desafiou. A Banda Nova (a formação composta pelo filho e neto do criador da bossa nova, Paulo e Daniel Jobim, por Jaques Morelenbaum e Paulo Braga) surgiu na sequência, que é a banda que na verdade acompanhou o Tom Jobim nos últimos 10 anos de carreira. Tive a liberdade para interpretar as canções à minha maneira”, diz.
Agora, conta a fadista, “tenho uma honra enorme de poder trazê-lo à Europa e, claro, Portugal, para tocar os temas ao vivo”. São 10 concertos na Europa muito especiais. São irrepetíveis”, descreve.
A digressão, que passa pelo Altice Arena a 30 de novembro e culmina a 2 de dezembro em Guimarães, conta com a participação de Marisa Monte, uma “convidada especial”. Lá estaremos.
Carminho, que nasceu no meio das guitarras e das vozes do fado, é hoje uma voz aclamada, dentro e fora de Portugal, com três álbuns multiplatinados – “Fado”, “Alma” e “Canto” – que são hoje referências incontornáveis da música do mundo.

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