Pensada pelo Professor Augusto Nobre, em 1914, a Estação de Zoologia Marítima começou a ser construída num local próximo ao Castelo do Queijo, uma vez que o facto de se situar junto à costa, era um dos objetivos da sua criação.
Numa fase inicial da atividade, a Estação dispunha de instalações muito reduzidas, sediadas na Avenida de Montevideu, na Foz do Douro. Apesar de pequenas, nelas cabiam “diversos gabinetes de trabalho, dependências para alojamento de investigadores e ainda uma zona para exposição da fauna marítima”, descreve um artigo da Universidade do Porto.
Em 1927 o edifício “viu alargado o âmbito das suas atividades e, simultaneamente, as instalações que lhe estavam afetas”, tendo no verão, desse mesmo ano, aberto ao público o primeiro aquário da cidade do Porto: o conhecido Aquário da Foz.
Este era composto por 36 aquários para exposição de animais de água doce, salobra e salgada. O acesso ao tanque fazia-se a partir do corpo central do edifício e, no interior deste estava também “instalado um aquário de grandes dimensões, para animais mais corpulentos. Em seu torno havia outros, mais pequenos, para animais de água doce”, lê-se na página oficial da instituição portuense.
Todos os visitantes do Aquário tinham a oportunidade de ver vários tanques e “terrários repletos de espécies da flora e fauna marítima, mas também «numerosos exemplares de água doce e mesmo animais terrestres, ou anfíbios», recolhidos pelos investigadores da estação”.
“Do mesmo passo que abre aos professores e estudantes os seus bens acondicionados, laboratórios, onde o estudo se torna agradável e produtivo, franqueia às pessoas dotadas de curiosidade, o ensinamento proveitoso que dimana da observação em flagrante da natureza viva, proporcionando ao público e aos estudiosos, em recinto apropriado e aprazível, as belezas naturais, a fauna e a flora das regiões do norte do país”, descrevia O Comércio do Porto, poucos dias antes da abertura do espaço ao público.
Em meados do século, o número de visitantes do Aquário da Foz aumentou face aos anos anteriores, contudo o edifício começava a evidenciar fortes sinais de desgaste e a necessidade de obras de reparação: “Urge (…) acudir ao edifício da Estação e, em particular, aos aquários expostos ao público, pois, apesar das importantes obras ali realizadas em 1945 pela Direcção dos Edifícios e Monumentos Nacionais do Norte, todo o edifício carece novamente de reparação importante”, indicava o anuário – Universidade do Porto de 1951-1952.
A verdade, é que apesar de terem sido concluídas obras de reparação e conservação, em julho de 1953, e realizadas outras intervenções, no início dos anos 60, as queixas quanto à insuficiência das instalações mantinham-se.
“A 10 de janeiro de 1962, o Diretor do Instituto apresentou as bases para o projeto de construção de um novo edifício, mais amplo e com diversas funcionalidades. Previa-se que seria constituído por quatro secções conjuntas – uma de ensino, outra de investigação, outra de cultura popular e outra ainda de administração”.
No entanto, no ano de 1965, o Aquário “foi encerrado ao público devido a uma tempestade marítima que agravou as condições já muito deficientes das suas instalações”. Os danos foram de tal forma “graves que foi necessário escorar a zona dos aquários. Perante esta nova situação pensou-se num imóvel construído de raiz”.
Com o passar dos anos, as obras foram sendo adiadas e as constantes tempestades no inverno danificavam cada vez mais o edifício: “O mar, galgando as frágeis defesas daquele instituto, pôs fora de serviço o dique de protecção para as tomadas de água para os aquários, derrubou em quase toda a sua extensão o muro de protecção da casa do guarda e cerca de arame farpado que do lado sul impede a penetração de pessoal estranho e danificou em quase toda a sua extensão a cobertura dos tanques-aquários situados mais junto à praia”, relatava o processo de obras de reparação dos danos causados pelo temporal de 25 para 26 de Fevereiro de 1978.
Foi em 1981 que a Junta de Freguesia de Nevogilde se insurgiu contra o abandono do «Aquário Público»: “(…) Um dia “fechou para obras” (…)! Acontece que 18 anos se passaram e o «Aquário» nunca mais abriu, degradando-se inevitavelmente (…)”.
Em novembro do mesmo ano já decorriam obras de reconstrução, levadas a cabo pela Direcção-Geral das Construções Escolares, mas desde que o Aquário encerrou ao público, apenas se manteve em funcionamento o edifício central da Estação de Zoologia Marítima. Isto deveu-se ao facto das obras de reparação terem permitido adequar, somente, este estabelecimento às necessidades básicas do quotidiano.
Todavia, importa referir que “apesar de todas estas vicissitudes, o projeto inicial nunca foi alterado” e até 2017 ainda decorreram “na Estação de Zoologia trabalhos práticos de Biologia, assim como trabalhos experimentais de futuros mestres e doutores da U.Porto”.
Em declarações à VIVA sobre o futuro do Antigo Aquário a Universidade do Porto referiu que o objetivo é que o edifício seja transformado “num dos pólos do Museu de Ciência e História Natural” da instituição académica.
“Será um pólo dedicado à biologia marinha, interativo de transmissão de conhecimento e isso implicará a total reabilitação do edifício e espaço envolvente”, explica, acrescentando que falta ainda concluir o “projeto de arquitetura, concorrer a financiamento e as negociações com a APDL (Administração dos Portos do Douro, Leixões e Viana do Castelo, SA)”.
Contactada pela nossa reportagem a APDL afirmou que embora o espaço seja da sua área de jurisdição passou para a alçada da Universidade do Porto e, por esse motivo, o avanço da obra já não está dependente de qualquer negociação ou aprovação por parte da entidade.
Fotos: Universidade do Porto