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Andreia Abreu

Andreia Abreu

“Sou uma mulher das letras”

As palavras tocaram, desde cedo, o coração e a vida de Andreia Abreu. Desde criança, num diário e, mais tarde, no jornal da escola, até à idade adulta, quando se licenciou em Jornalismo e Ciências da Comunicação e oficializou, assim, a sua entrada no mundo das letras. Um mundo que trata, literalmente, por “tu” e onde se tem destacado de forma primorosa.

Depois de vários anos ligada ao jornalismo, Andreia Abreu entregou a sua carteira profissional para abraçar um desafio profissional na terra que agora chama “casa”, Amarante, local onde escreveu a grande maioria dos contos que integram o seu primeiro livro, “Os Dias da Maria”, lançado no final do ano passado.

Um “filho da pandemia”, como se orgulha de dizer, que representa “um livro dos novos tempos, dos nossos dias” e com o qual todos os leitores se identificam, seja “com um texto em particular ou com todos no geral”. “É um livro de emoções, escrito com o coração. É um livro de textos curtos e soltos. Um livro para ir lendo, ir saboreando, ir apreciando, ir abraçando e sentindo”, resumiu, em conversa com a VIVA!.

Neste livro, todos as histórias terminam de forma positiva. Um cuidado intencional da autora, que, definindo-se como uma pessoa “otimista por natureza”, pretende mostrar que, apesar de todas as adversidades, a larga maioria imprevisíveis, no final, tudo pode acabar bem. E, por isso, só pretende transmitir “esperança” a todos os que a leem e, assim, oferecer “palavras simples e sentidas”, escritas com o coração.

Ao longo destes anos, foram muitos os capítulos que já escreveu, mas não tantos quanto os que, de certeza, se seguirão. Entre o gosto imenso pela leitura, o respeito pelas palavras e um amor incondicional pelo público infantil, o caminho pode apontar para a publicação do primeiro conto infantojuvenil. A autora admite estar “numa fase de estudo e avaliação” sobre os próximos passos e partilha tudo nesta entrevista intimista e repleta de emoções.

Descubra a história e todos os sonhos de Andreia Abreu.

Quem é a Andreia Abreu, natural de Vila Nova de Famalicão e agora “filha” de terras amarantinas?

Sou mãe, tenho dois filhos rapazes, sou filha, irmã, (tenho uma irmã mais velha), sou esposa e sou uma mulher feliz! Gosto de viver e tento sempre ver o lado bom das coisas. Considero-me uma pessoa bem-disposta, amiga e leal. Defendo princípios e dificilmente me desvinculo deles. Sou otimista por natureza e divertida.

Como foi o seu percurso?

Licenciei-me em Jornalismo e Ciências da Comunicação na Faculdade de Letras da Universidade do Porto em 2004, e depois de algumas experiências em assessoria de comunicação, acabei por estar mais ligada ao Jornalismo, sobretudo no Porto Canal onde trabalhei mais anos. Até que em 2015 entreguei a minha carteira de jornalista para poder abraçar um novo desafio, onde ainda permaneço. Sou Técnica Superior de Comunicação no Município de Amarante. Foi uma opção em prol da família. Já tinha um filho e queria muito ter outro e entendi que conciliar a vida exigente do Jornalismo com o meu papel principal: ser mãe, não seria fácil. Já vivia em Amarante, desde que casei, e ir diariamente para o Porto, com diferentes horários tirava-me muito tempo do melhor do meu mundo: a maternidade.

Quando e como surgiu o interesse pela escrita?

Eu costumo dizer que sempre gostei de escrever. Seja no diário, no jornal da escola até se tornar algo mais sério, anos mais tarde, com a rádio e o jornal e, por fim, a televisão. Sou uma mulher das letras. Sinto que nos entendemos muito bem e dependemos uma da outra.

No ano passado, lançou o seu primeiro livro, “Os Dias da Maria”. Como nasceram estes dias?

Estes dias nasceram, literalmente, durante a pandemia. Fechada em casa, como estávamos todos em 2020, as palavras assumiram para mim uma capacidade libertadora. E foi através delas que consegui minorar um pouco a angústia que me atormentava. Através das palavras, viajei no tempo e reencontrei a esperança de um dia tudo voltar à “normalidade” (ainda que jamais possa voltar a ser igual).

O que esteve por detrás da criação do livro? Como se deu o clique de que era o momento certo para o lançar?

O clique deu-se mesmo quando um amigo que tem uma revista, para a qual já tinha escrito umas crónicas, me telefonou a sugerir que escrevesse mais. Na altura, desanimada, respondi que não andava inspirada. Certo é, que nesse mesmo dia, quando saí para o passeio higiénico, voltei, sentei-me e (re)comecei a escrever e não mais parei.

Chama-lhe um “filho da pandemia”. Como foi escrever estes contos durante um dos capítulos mais tristes da história mundial?

A escrita para mim teve um efeito catarse. Basicamente, apropriei-me do turbilhão de sentimentos e passei isso para a escrita.

O que representa o livro “Os Dias da Maria”?

Esperança! É pelo menos isso que pretendo. Tive o cuidado de terminar todas os textos de forma positiva, provando que, apesar de todas as adversidades, tudo pode acabar bem. Perseverança, esperança e paz, porventura o que todos mais pedimos, e mais precisamos, são alguns dos sentimentos que estão presentes no livro.

“Os Dias da Maria” é um livro dos novos tempos, dos nossos dias. É meu, é teu e é nosso. Os leitores identificam-se com o que escrevo, num ou noutro momento, numa fase mais curta ou mais duradoura, com um texto em particular ou com todos, no geral. É um livro de emoções, escrito com o coração. É um livro de textos curtos e soltos. Um livro para ir lendo, ir saboreando, ir apreciando, ir abraçando e sentindo!

Qual é a principal mensagem que o livro pretende transmitir?

É mesmo esperança! Pedindo ao tempo que volte atrás, que seja generoso connosco e que nos permita superar estes dias que nos pesam o aqui e agora. Que bom que seria se conseguíssemos, como que por magia, recuar ao mundo dos abraços e do carinho, sem medo nem culpa, mas também da paz e da família. Quem procura neste livro grandes teorias ou explicações, desengane-se. O que ofereço são palavras simples, mas não vãs, e sentidas! Um livro escrito com o coração que nos permitirá, assim acredito, recuperar o mundo que todos perdemos para esta maldita pandemia.

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Porquê o nome “Maria” para este livro?

“Maria” é o nome mais universal que conheço e como procurava algo abrangente, a ideia que procurei foi demonstrar que #todossomosMaria. Apesar de nomeada, esta Maria pode ser perfeitamente a Marta, a Filipa, a Anabela e também o Júlio, o Francisco, o António ou o João (e qualquer um de nós) que atravessa os dias com sede de felicidade, sem desperdiçar a nostalgia das memórias e os pequenos grandes nadas do dia a dia. “Somos enredados nos detalhes quotidianos e aparentemente comezinhos de que são feitos os nossos dias: a lisura da escrita a isso nos obriga”. É algo deste género que consta na sinopse e, admito, não sei expressar melhor a ideia! Está tudo aqui, efetivamente.

Em que se revê nestes Dias de Maria?

Em praticamente tudo, porque também eu poderia ser perfeitamente a “Maria”. Aprecio, particularmente, o capítulo #umdiavamosdesconfinar porque é uma parte do livro que escrevi com base em viagens que fiz, sozinha com o meu marido, de carro ou de mota, com amigos e outros ainda em família, com os meus filhos. Apesar de fechados em casa, eu senti-me literalmente a viajar e comigo dei boleia aos leitores! Muitos dizem-me que ao lerem “sentiram o cheiro, o curvar da mota ou a areia e a água do mar nos pés”.

De todos, qual é o conto que lhe é mais especial e porquê?

O capítulo das viagens é muito importante para mim, mas depois tenho crónicas que me dizem muito, como o caso da que nos fala da dificuldade em engravidar; a do Obrigado; a da minha Tia Carolina (porque as tias são sempre maravilhosas); a Carta aos Avós porque a casa deles é do tamanho do coração deles que é, por sua vez, do tamanho do mundo; a do Tempo (esse ser que nos tira mas que também nos dá)…

Um estudo recente, realizado pelo Instituto de Ciências Sociais (ICS) da Universidade de Lisboa, concluiu que a grande maioria dos portugueses está a ler pouco. Porque acha que isto acontece?

Falando da minha experiência particular, sobretudo desde que fui mãe, por cansaço, por falta de tempo e por preguiça. Por isso, digo em tom de brincadeira que este livro é bom, para quem, como eu, lê quatro páginas e adormece. E no dia seguinte é só abrir onde se parou e continuar, porque os textos são curtos e têm vida própria.

Naturalmente, que a tudo isto acrescenta-se o que os especialistas defendem, e bem, ou seja, incutir hábitos de leitura desde a primeira infância, sendo as bibliotecas escolares e municipais fundamentais nessa disseminação.

De que forma considera que poderíamos inverter esta tendência?

Lendo nas escolas, contando, falando, escrevendo coisas que são de todos, com as quais nos identifiquemos, envolvendo as crianças na criação das histórias. E, assim, tornar a leitura uma necessidade “básica” e apaixonante.

Que importância assumem, ou devem assumir, os pais na tarefa de incutirem hábitos de leitura nas crianças, que se podem refletir, posteriormente, na idade adulta?

Para mim, os pais lançam a semente, regam com muita criatividade. Nós, pais, temos de nos sentar no chão ou no jardim, com eles, ou em cima da cama, com as pernas à chinês, representando o texto com gestos e sons. Tornar a leitura divertida dá trabalho, mas, no final, vale muito a pena!

Já escreveu vários contos, incluindo para crianças. Fale-nos um pouco desta “nova” paixão.

Tenho já vários textos escritos, mas, para já, a prioridade é dar espaço e tempo para “Os Dias da Maria”. Depois, ou avançarei com a publicação do primeiro conto infantojuvenil para o início do próximo ano letivo ou então irei implementar um projeto que envolve leitura e ilustração, mas também a música, a dança e o teatro, sem esquecer o digital, onde todos nos encontramos. Estou numa fase de estudo e avaliação.

Qual é a grande diferença entre escrever para adultos e para crianças?

Não sei muito bem explicar a diferença. Para mim, escrever é escrever, seja para adultos ou crianças, sento-me em frente ao computador, ou diretamente no telemóvel, e escrevo. Reconheço, no entanto, que escrever para crianças me faz regressar à infância, a lugares felizes, faz-me viajar por lugares encantados e que só têm espaço no mundo fantástico da imaginação. Admito que é na escrita para crianças que me sinto ainda mais feliz.

As palavras têm um peso diferente? Porquê?

Acredito que sim porque as palavras não são para nós, mas sim para eles! Não se trata de “descer” ou “baixar” a fasquia, trata-se antes, de nos colocarmos no corpo deles, na cabeça deles. Trata-se de sonharmos com eles e de nos deixarmos levar.

Onde vai buscar inspiração para escrever?

Em tudo! Na vida, na natureza, no mar, na praia, no rio, no campo, na cidade, em conversas que ouço, aqui e ali. Em casos de vida que conheço ou que me contam, em situações do dia a dia. E depois começo a escrever e é como ir puxando o fio do novelo. Flui.

O primeiro livro está lançado e são muitos os leitores que já anseiam pelo segundo. É um projeto que está nos seus planos?

Gostava que o próximo livro fosse para o público infantil. Certo é que para as crianças ou para os adultos, será. Não quero é parar porque encontrei um prazer imenso na escrita.

Fotografias: Pedro Costa
Styling: Boutique da Rua

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